10 filmes para conhecer o cinema sul-coreano
Cinema sul-coreano: poucos conhecem, muitos apreciam. Infelizmente ainda é difícil que filmes fora dos polos americano e europeu cheguem em mais pessoas, mas com a recente vitória de Parasite, filme sul-coreano que levou a Palma de Ouro em Cannes, fica ainda mais claro que vale a pena conhecer a filmografia e aprender sobre os filmes do país, que apresentam qualidade técnica e narrativa surpreendentes, não ficando passo algum atrás das grandes produções hollywoodianas.
Com a intenção de mudar esse cenário onde não se conhece o cinema sul-coreano, fizemos uma lista de 10 filmes para conhecer a filmografia. Mas antes disso vamos passear por sua história e entender como se tornou um dos cinemas mais aclamados pela comunidade cinematográfica nos últimos tempos.
Como acontecido em diversos outros países, o cinema sul-coreano está diretamente ligado à sua complicada história. Alguns acontecimentos como a ocupação japonesa, Segunda Guerra Mundial, Guerra da Coreia e a relação com um duro governo militar influenciaram na continuidade do fazer cinematográfico no país.
As primeiras décadas de produção foram particularmente difíceis, e é extremamente complicado encontrar arquivos a respeito de nomes de filmes e diretores. Diz-se que todos os filmes produzidos até 1934 foram cortados, destruídos ou mal arquivados, o que torna o passado do cinema sul-coreano praticamente indetectável. Entre 1926 e 1932 alguns filmes nacionalistas enfrentaram regras rígidas e limitações técnicas, já que as produções eram analisadas pelo governo colonizador.
Ao fim da Guerra da Coreia o cinema viu maior chance de crescimento, sendo mais assistido e distribuído. O primeiro presidente do país, Syngman Rhee, decidiu isentar o cinema sul-coreano de tributação, o livrando das ações governamentais. Foi a partir daí que as produções alavancaram, indo de 5 filmes produzidos em 1950, para 111 em 1959 - segundo a Korean Film Archive. Nessa época o principal tema era a libertação da ocupação japonesa. O primeiro filme de maior reconhecimento e sucesso comercial é Chunhyang-jeon, de 1955.
Em 1961 houve um golpe militar e os filmes e produtoras sofreram com uma nova edição da Lei do Cinema, onde havia cota para filmes importados e exportados e o número de produtoras caiu drasticamente. Qualquer filme que fosse contra a ideologia da ditadura prejudicasse a imagem do país, era censurado. Isso fez o cinema sul-coreano sofrer mais uma vez.
É a partir dos anos 80, com a decisão do governo de se distanciar do controle de produções, que o cinema realmente alavanca. Os filmes coreanos mais conhecidos e queridos começaram a ser produzidos nessa época. A revisão da Lei do Cinema em 1984 permite o surgimento de cada vez mais produtores independentes.
Com o passar dos anos os filmes sul-coreanos foram ganhando reconhecimento internacional, como Mandala do diretor Im Kwon-Taek, que venceu o Grand Prix no Hawaii Film Festival em 1981, e em 1987 com Kang Su-Yeon levando o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza por sua participação em The Surrogate Woman, além de Melhor Atriz por seu papel em Come Come Come Upward, de Im Kwon-Taek, no Festival Internacional de Cinema de Moscou.
Após passar por uma disputa com filmes estrangeiros que rodavam dentro do país, as produções foram tomando conta, e hoje os filmes nacionais são muito mais assistidos que os de fora.
A produção sul-coreana é uma das três maiores potências cinematográficas do mundo, ao lado de Hollywood e Bollywood. Aliás, criou-se um termo para representar a grande indústria cinematográfica que se tornou: Hallyuwood. Uma mistura de nova onda coreana com a clássica Hollywood.
Viu só que trajetória legal? O cinema sul-coreano passou por diversas dificuldades e foi de uma época onde eram produzidos apenas 5 filmes por ano para uma das maiores potências mundiais em cinema. Vamos então para a lista que ilustra todo esse sucesso?
10 filmes para conhecer o cinema sul-coreano
Oldboy/Oldeuboi (2003), de Chan-wook Park
Um dos mais comentados e aclamados filmes do cinema sul-coreano, Oldboy conta a história de Dae-Su, que é raptado e mantido em cativeiro por 15 anos num quarto de hotel, sem qualquer contato com o mundo externo. Quando ele é inexplicavelmente solto, descobre que é acusado pelo assassinato da esposa e embarca numa missão obsessiva por vingança.
Segundo filme da Trilogia da Vingança, o conjunto de filmes que compõem a brutalidade representada pelo olhar do diretor. Em suas próprias palavras: “Eu não vejo graça em assistir um filme que preze pela passividade. Se você necessita desse tipo de conforto, é melhor procurar um spa. Meus filmes são sobre pessoas que preferem culpar outros pelos seus atos do que admitir sua própria culpa.” – Chan-wook Park.
Casa Vazia/Bin-jip (2004), de Ki-duk Kim
Esse drama que se soma ao romance conta a história de Tae-suk, um jovem que tem o hábito de invadir residências quando seus moradores viajam, vivendo nelas até que eles retornem. Numa noite, ele se depara com Sun-hwa, jovem que sofre com um casamento abusivo. Ao ajudá-la, a moça se apaixona por ele.
O Caçador/Chugyeogja (2008), de Hong-jin Na
Neste suspense policial vemos Jung-Ho Eum, um ex-detetive que se tornou cafetão por conta de problemas financeiros, perceber que suas “funcionárias” estavam desaparecendo. Ao perceber que todas passaram pelo mesmo cliente, vai em busca de respostas e procura pelo homem, convencido de que ele é o culpado e que pode salvar pelo menos a última menina sequestrada.
Baseado na história real de um serial killer sul-coreano, o longa não é convencional, apesar de parecer apresentar uma história típica do gênero. Cheio de reviravoltas, promete prender a atenção do espectador, mas um alerta: o filme representa muito bem o que há de mais sujo em sua história, então se você tem o estômago fraco, é melhor tomar cuidado.
Mother/Madeo (2009), de Joon Ho Bong
Uma mãe viúva cuida sozinha de seu filho de 28 anos, que vez ou outra age de maneira infantil e inconsequente, dependendo sempre da mãe. Após o filho, Do-Joon, ser acusado pelo assassinato de uma adolescente, a mãe parte em uma busca incessante por provas da inocência de seu filho.
O filme é liderado por uma atuação incrível de Kim Hye-Ja, com uma trama diferente do costume no gênero policial; aqui acompanhamos uma mãe e começamos a questionar o que faríamos no lugar dela. Com atmosfera triste e escura, o filme acaba sendo carregado por um drama psicológico interessante de acompanhar.
O Homem de Lugar Nenhum/Ajeossi (2010), de Jeong-beom Lee
Tae-Shik, um protagonista misterioso, é dono de uma loja de penhores que precisa lidar com a filha de sua vizinha. Após a mãe da pequena roubar de traficantes e fazer com que ela e a filha fossem raptadas, Tae-Shik vai atrás dos sequestradores e se vê obrigado a utilizar seus próprios métodos para salvá-las. Um filme de ação também carregado de drama, com personagens complexos e diferentes motivações para suas atitudes.
Eu Vi o Diabo/Akmareul boatda (2010), de Jee-woon Kim
Kim Soo-hyeon é um agente especial que vê sua vida se tornar um caos quando sua esposa é raptada por um serial killer. Após a morte da mulher, ele parte em uma busca frenética pelo assassino, e se vê obcecado pela ideia de vingança.
É reconhecido tecnicamente por seus planos e sequências aparentemente difíceis de serem realizados, e geralmente não utiliza cortes. O filme é sangrento e tem muita violência contida. Mas não se assuste ou deixe de assistir por isso, afinal é um filme de ação com qualidade técnica e de atuação, além de sua bela fotografia.
O Rei dos Porcos/Dae Gi Eui Wang (2012), de Sang-ho Yeun
Aqui temos uma animação coreana (gênero não muito aproveitado pelo país) de tom pessimista, que trata com excelência um assunto delicado: bullying. Mas não podemos centralizar a obra apenas nisso. Apresenta Kyung Min e Jong Suk, um empresário e um escritor fracassado, respectivamente, trabalhando com momentos da infância dos protagonistas que os afetam até hoje. Um grupo chamado “os cães” maltratava a todos na escola. O espectador tem a chance de sentir o sofrimento dos personagem e se angustiar por eles. A animação se destaca e trabalha com uma narrativa complexa e momentos de violência, num estilo coreano adotado pela animação.
Invasão Zumbi/Busanhaeng (2016), de Sang-ho Yeon
O nome traduzido já diz tudo, e depois de um tempo com decepcionantes filmes do subgênero de zumbis, é bom ver o cinema sul-coreano o trazendo e apresentando com certo frescor. Aqui, a Coreia do Sul decreta estado de emergência após um vírus desconhecido tomar conta do país. Algumas pessoas tentam fugir dos zumbis e ficam presas em um trem-bala que está a caminho de Busan, a única cidade que não foi afetada pelo vírus.
A Criada /Ah-ga-ssi (2016), de Chan-wook Park
Um dos filmes mais comentados do cinema sul-coreano, A Criada se passa na Coreia dos anos 30, durante a ocupação japonesa, e apresenta a história de Sookee, uma jovem contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko, que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário. Sookee guarda um segredo: ela e um vigarista planejam desposar a herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo corre bem com o plano, até que Sookee aos poucos começa a compreender as motivações de Hideko. A fotografia e atuações das protagonistas são sempre citadas ao falar sobre a obra, então ao assistir, vale dar atenção especial a esses detalhes.
Em chamas/Beoning (2018), de Chang-dong Lee
Nesse longa recente vemos a história de Jong-soo, que reencontra Hae-mi, uma antiga amiga que vivia no mesmo bairro que ele. A jovem está com uma viagem marcada para o exterior e pede para Jong-soo cuidar de seu gato de estimação enquanto está longe. Hae-mi volta para casa na companhia de Ben, um jovem misterioso que conheceu na África. No entanto, o forasteiro tem um hobby peculiar, que está prestes a ser revelado aos amigos. Com planos longos e lentos, a fotografia encanta e tem ar contemplativo. Foge um pouco do clima violento dos gêneros mais adotados pelos coreanos. Vale a pena pela originalidade!
Agora você conhece a história e já tem em mãos uma lista bem interessante que percorre por diferentes gêneros e narrativas do cinema sul-coreano. Muitos títulos são encontrados na Netflix, forma mais fácil de ter acesso. Para futuros lançamentos, é importante ficar ligadx na programação de salas de cinema especiais, pois dificilmente esses filmes chegam às grandes companhias. Não perca a listinha e compartilhe com as pessoas que ainda podem ter dúvidas sobre a qualidade cinematográfica presente na Coreia do Sul.
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Por Mariana R. Marques