CRÍTICA | O Tempo Com Você
Após o tremendo sucesso com o filme Your Name (“Kimi no Na wa”) em 2016, Makoto Shinkai volta com uma nova animação, revisitando a temática que conquistou o mundo três anos antes. Lançado em 2019, O Tempo Com Você é uma animação produzida pela CoMix Wave Films, com quem Makoto possui parceria desde O Lugar Prometido em Nossa Juventude (“Kumo no Mukō, Yakusoku no Basho”), seu primeiro longa-metragem, lançado em 2004. De lá para cá, mais 5 produções foram feitas, acumulando diversos prêmios e indicações ao redor do mundo. O Tempo Com Você, ou “Tenki no Ko” (título original), foi o longa escolhido pelo Japão para concorrer na categoria de Melhor Animação no Oscar 2020, porém acabou ficando fora da lista final da categoria.
O longa conta a história do jovem Hodaka (Kotaro Daigo), um jovem de 16 anos que foge de sua cidade natal para viver na grande Tóquio. Um dia, em meio às ruas da cidade chuvosa, Hodaka acaba conhecendo Hina (Nana Mori), uma garota que o tinha ajudado quando não tinha o que comer. Ao mesmo tempo, Hodaka começa uma investigação jornalística para uma revista esotérica, onde começa a trabalhar, sobre uma antiga lenda a respeito das chamadas “Garotas Sol”, mulheres capazes de mudar o tempo com suas preces.
Quando Hodaka conhece Hina, ele logo percebe que a lenda era verdade, ao descobrir que a menina é de fato uma Garota Sol. Os dois então começam a trabalhar juntos, fazendo dinheiro ao levar o sol para as pessoas, para que a incessante chuva dê espaços aos momentos de alegria ao ar livre. Porém, ao usar os poderes da natureza, Hina está fadada a um trágico fim, e Hodaka precisa correr contra o tempo para salvá-la, tendo que escolher entre a vida da garota e a gigante cidade que o abrigou.
Neste longa, Makoto Shinkai volta a uma temática já visitada, contando a história de um casal unido pelas forças da natureza. Essa natureza que é tratada e mostrada quase como uma entidade autônoma, onipresente. Isso faz com que o filme se torne uma experiência bastante sensorial, repleta de momentos com uma bela e forte liberdade poética. A chuva que cai na cidade, o céu vivo e repleto de mudanças, cada força da natureza é detalhada com planos minimalistas e deslumbrantes, com o traço característico dos filmes do diretor. Um visual poderoso e sensível, que enche os olhos de nós, espectadores.
Em relação à narrativa, Shinkai traz novamente personagens marcantes, bem desenvolvidos e que nos trazem para dentro da trama de uma maneira muito natural e interessante. Contudo, o longa não consegue alcançar um equilíbrio entre a jornada de seus personagens e suas ideias abstratas, o que acaba prejudicando o romance vivido pelo casal principal. Aqui, o diretor parece decidido a replicar, com fidelidade, as temáticas de seu longa anterior, e acaba trazendo, de forma acomodada, uma trama interessante, porém sem a mesma força e eficiência.
Apesar dos problemas, a trama consegue nos convencer devido a jornada de seus personagens junto ao belo visual.
O filme ganhou prêmios em diversos festivais, como o Asia Pacific Screen Awards, o Animation is Film e o Scotland Loves Anime em 2019, além de indicações no Satellite Awards e Annie Awards de 2020.
Por Pedro Dourado.