Instituto de Cinema de SP

O que é o Teste de Bechdel?

Assim como diversos âmbitos da nossa sociedade, a indústria cinematográfica é predominantemente dominada por homens em cargos de relevância, como produtores e diretores. Via de regra, trata-se de um ambiente machista, no qual mulheres estão sujeitas a diversos tipos de violência de gênero, desde casos de assédios - que são cada vez mais falados - até outras violências menos perceptíveis, como o apagamento de diretoras e a diferença salarial entre homens e mulheres.


Foi um tópico importante no Oscar desse ano a ausência de mulheres indicadas ao prêmio de Melhor Direção, o que reflete o conservadorismo que rege as estruturas do cinema mundial e ainda deixa mulheres de lado. Porém, não é somente atrás das câmeras que os homens são privilegiados em detrimentos às mulheres. Em muitas histórias, as personagens femininas existem apenas em função dos homens, sem receber a devida atenção. É uma crença da indústria que histórias sobre mulheres não vendem, hoje cineastas mulheres de todo o mundo lutam contra essa ideia, persistindo em contar suas histórias.


Em 1985, a cartunista Alison Bechdel lançou uma tirinha ironizando os filmes Hollywoodianos que, em sua maioria, representam mulheres de forma estereotipada e clichê. Nessa tirinha, Bechdel introduziu a ideia que originou o teste que carrega seu nome, nela uma personagem diz que só assiste a filmes que atendam aos seguintes critérios:


1. Tenham ao menos duas personagens femininas;


2. Que conversem entre si em alguma cena;


3. Sobre algo que não seja homens.


A tirinha de Alison tinha a intenção de ser cômica, mas revela algo impactante sobre a nossa sociedade. Quantos filmes atendem a esses requisitos? Onde estão as histórias sobre mulheres que deixaram de ser contadas? Onde estão as mulheres que foram privadas de assistir histórias com as quais se identificassem?


É importante ressaltar que o Teste de Bechdel não avalia a qualidade dos filmes, mas sim é uma forma de questionar, contestar e cobrar a presença feminina no cinema, em papéis que façam diferença no enredo, e não que existam apenas para dar suporte aos personagens masculinos.


O teste é sobre como a nossa sociedade representa a mulher e sobre como a grande maioria da nossa indústria de entretenimento é feita para – e fala de – homens. A cultura que consumimos é parte do que forma nossa personalidade, e o teste de Bechdel, longe de dizer respeito a qualidade cinematográfica, diz respeito ao imaginário que estamos formando e a imensa defasagem que ele apresenta em relação aos gêneros. Por que as mulheres não são representadas conversando sobre suas carreiras, seus últimos roubos, suas vitórias, suas questões existenciais? Se não temos as respostas, temos ao menos o questionamento. Da próxima vez que for ao cinema, note: a vida das mulheres parece girar em torno dos homens?


E já que o assunto é esse, nada melhor do que finalizar com uma lista de filmes incríveis que passam no teste! Confira:


Adoráveis Mulheres, dirigido por Greta Gerwig (2019)


Nos anos seguintes à Guerra de Secessão, Jo March e suas duas irmãs voltam para casa quando Beth, a tímida irmã caçula, desenvolve uma doença devastadora que muda para sempre a vida delas.


Cléo das 5 às 7, dirigido por Agnès Varda (1962)


Em Paris, a cantora Cléo faz um exame para descobrir se está com câncer. O resultado sai em duas horas, então ela decide andar pelas ruas da cidade enquanto aguarda. Cheia de dúvidas sobre como deve agir diante da doença, acaba cruzando com Antoine, um jovem militar que está prestes a partir.


Baronesa, dirigido por Juliana Antunes (2017)


Uma guerra entre traficantes na Zona Norte de Belo Horizonte faz com que Andreia queira sair da comunidade onde mora e que ajudou a construir. O cotidiano dela nos permite abordar seu passado e anseios, bem como os daqueles que lhe são caros. Filme da cineasta Juliana Antunes selecionado para a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes - 2017, mostrando o cotidiano feminino na periferia. “É a mulher olhando para a mulher sem as tintas da delicadeza, do sentimental e toda aquela moldura edulcorada da tal e tradicional feminilidade”, resume a diretora.


Tangerina, dirigido por Sean Baker (2015)


Assim que sai da prisão, a prostituta transexual Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) descobre através de sua melhor amiga (Mya Taylor) que o namorado Chester (James Ransone) está saindo com outra pessoa, uma mulher cisgênero. Sin-Dee decide encontrar os dois e puni-los pela traição.


Histórias Cruzadas, dirigido por Tate Taylor (2011)


A história de otimismo ambientada no Mississippi em 1962, durante a gestação do movimento dos direitos civis nos EUA, acompanha Eugenia Phelan, jovem que acabou de se graduar e quer virar escritora, mas encontra a resistência da mãe, que quer vê-la casada. Aconselhada a escrever sobre o que a incomoda, Skeeter encontra um tema em duas mulheres negras: Aibileen, empregada que já ajudou a criar 17 crianças brancas mas chora a perda do próprio filho, e Minny, cozinheira de mão cheia que não arruma emprego porque não leva desaforo dos patrões para casa.


Nós, dirigido por Jordan Peele (2019)


Um casal (Lupita Nyong\'O e Winston Duke) leva seus filhos para a casa na praia esperando relaxar e se divertir com seus amigos. Mas quando a noite cai, a serenidade se transforma em tensão e caos após quatro figuras misteriosas aparecerem sem convite.


Quando Duas Mulheres Pecam, dirigido por Ingmar Bergman (1966)


Alma, uma enfermeira, deve cuidar de Elisabeth Vogler, uma atriz que está com a saúde muito boa mas se recusa a falar de qualquer jeito. Com a convivência, Alma fala a Elisabeth o tempo todo, inclusive sobre alguns de seus segredos, nunca recebendo resposta. Logo, Alma percebe que sua personalidade está sendo submergida na pessoa de Elisabeth.


A Cor Púrpura, dirigido por Steven Spielberg (1985)


Em 1906, em uma pequena cidade da Georgia, sul dos Estados Unidos, a quase adolescente Celie, violentada pelo próprio pai, torna-se mãe de duas crianças. Separada dos filhos, Celie (Whoopi Goldberg, que foi indicada ao Oscar de melhor atriz por este filme em 1985), é doada à Mister (Danny Glover), que a trata como companheira e escrava ao mesmo tempo. Cada vez mais calada e solitária, Celie passa a compartilhar sua tristeza em carta. Baseado no livro de Alice Walker, A Cor Púrpura recebeu 11 indicações ao Oscar em 1985 e já é considerado um clássico do cinema.


Que Horas Ela Volta?, dirigido por Anna Muylaert (2015)


A pernambucana Val se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona, pedindo ajuda para ir a São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica.


Dogville, dirigido por Lars Von Trier (2003)


Anos 30, Dogville, um lugarejo nas Montanhas Rochosas. Grace (Nicole Kidman), uma bela desconhecida, aparece no lugar ao tentar fugir de gângsters. Com o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), o auto-designado porta-voz da pequena comunidade, Grace é escondida pela pequena cidade e, em troca, trabalhará para eles. Fica acertado que após duas semanas ocorrerá uma votação para decidir se ela fica. Após este "período de testes" Grace é aprovada por unanimidade, mas quando a procura por ela se intensifica os moradores exigem algo mais em troca do risco de escondê-la. É quando ela descobre de modo duro que nesta cidade a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade.


 


Por Isabella Thebas

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