Instituto de Cinema de SP

10 filmes para estudar sobre fotografia no cinema

Sendo uma das áreas de maior importância e visibilidade numa produção cinematográfica, uma boa fotografia sempre nos marca e nos faz sentir admiração por um filme, faz parte do conjunto de elementos que o compõem e das sensações que o espectador terá ao assistir à obra.


Aqui trataremos de algumas fotografias importantes e interessantes para o cinema, trazendo o nome dos responsáveis pela direção de fotografia; vale lembrar que o fotógrafo de um filme trabalha sempre em conjunto com o diretor, discutindo as ideias que formam a fotografia.


Cidadão Kane (1941), por Gregg Toland


O filme conta a história do magnata da imprensa Charles Foster Kane em uma sequência de flashbacks. Um jornalista fica intrigado pela última palavra de Kane - rosebud - e tenta descobrir o seu significado entrevistando pessoas do passado do magnata.


Conhecido como um dos melhores filmes já feitos, Cidadão Kane tem uma fotografia exemplar. Orson Welles e Gregg Toland foram responsáveis pela refinação de técnicas que já eram utilizadas, criando assim uma fotografia memorável, lembrada sempre e principalmente pelo uso excelente da profundidade de campo. A fotografia aqui vai além da beleza, e se apresenta com ótima técnica, onde seus elementos trabalham muito bem para a composição do filme. Toland realizou um trabalho tão memorável de fotografia que o próprio Welles permitiu seu nome junto ao dele nos créditos.


O Conformista (1970), por Vittorio Storaro


Depois de se casar e de assumir um cargo no governo de Mussolini em 1938, rapaz vai de lua de mel a Paris com uma missão a cumprir. Ele deve procurar um professor italiano que fugiu para a França quando o fascismo chegou ao poder e eliminá-lo.


O lendário Storaro dá o tom do filme, que carrega uma fotografia de enquadramentos estáticos e frios, combinados às cores utilizadas, dando à obra o reconhecimento de uma das mais belas fotografias. O diretor Bernardo Bertolucci, ao lado do diretor de fotografia Vittorio Storaro, constrói e trabalha a história do personagem em cima de uma composição belíssima que reflete a trama.


Suspiria (1977), por Luciano Tovoli


Suzy é uma jovem americana chega em Fribourg para fazer cursos em uma academia de dança de prestígio. A atmosfera do lugar, estranho e perturbador, acaba surpreendendo a garota. Quando uma jovem estudante é assassinada, Suzy entra em estado de choque. O ambiente fica ainda pior quando o pianista cego da academia morre atacado por seu próprio cão. A jovem descobre que o local já foi a casa de uma bruxa conhecida como a Mãe dos Suspiros.


A fotografia estilizada de Tovoli faz parte do que torna o filme o que ele é. Suspiria é singular e lembrado por seu estilo. Trabalha com planos e luzes que revelam a história dos personagens e o clima ao qual somos introduzidos, como na cena em que Suzy está num táxi e o plano revela um céu azul, no interior, onde ela está, vemos um tom magenta; é irreal, e nos entrega o clima do filme. As cores e enquadramentos são responsáveis por revelarem o que as cenas carregam, como quando as dançarinas dormem juntas e ao apagar de luzes, o ambiente é tomado por uma luz vermelha, mostrando o maligno presente. Ou, ainda na cena do táxi, quando se escolhe não acompanhar o carro que desce em um túnel, como se a personagem entrasse agora no submundo.


Amor à Flor da Pele (2000), por Christopher Doyle


Em 1962, o jornalista Chow Mo-wan se muda para Hong Kong com sua mulher, que está sempre envolvida com o trabalho e para pouco em casa. Chow faz amizade com a vizinha Su Li-zhen e ambos descobrem que seus parceiros os traem.


Aqui a bela história contada é criada visualmente à partir de diversos simbolismos e muita poesia. A construção estética do filme traz técnicas, como o slow-motion, que são trabalhadas para mais sugerir do que mostrar de fato, o que dá a sensação de expectativa. Além da cor, que tem sempre um papel importante no conjunto do que forma uma boa fotografia. É uma construção sutil que toca o espectador com belas imagens que traduzem o filme. Aqui a fotografia funciona muito bem também pelo trabalho da montagem, de William Chang.


The Fall (2006), por Colin Watkinson


Nos anos de 1920, um dublê acidentado vai parar no hospital e começa a contar histórias para uma garota que está internada lá. Aos poucos, a realidade, a imaginação e as emoções dos personagens parecem se fundir.


Em um cinema que nos entrega fantasia por meio de efeitos especiais, The Fall trabalha essa ideia por meio de aspectos orgânicos. Direção de arte, criação de um universo e atmosfera, locações e, claro, a fotografia. Todo o conjunto desses elementos é apresentado por uma fotografia que captura a essência da história e apresenta imagens belíssimas.


A Bruxa (2015), por Jarin Blaschke


Em uma fazenda no século 17, uma histeria religiosa toma conta de uma família que acusa a filha mais velha pelo desaparecimento do seu irmão ainda bebê.


Com um diretor meticuloso na criação da atmosfera do filme, temos uma fotografia que procura representá-la muito bem. Aqui a fotografia é escura e bem dessaturada, alternando entre o interior da casa que representa um sentido mais claustrofóbico, sempre parcialmente coberto pela fumaça das velas, e a liberdade da clareira e do espaço externo. Trabalha para dar um tom aterrorizante à floresta, que tem papel importante na história, até mesmo quando é dia. O realismo da reprodução de época que traz a direção de arte, soma na qualidade do filme.


Demônio de Neon (2016), por Natasha Braier


A bela e jovem Jesse se muda para Los Angeles logo após completar 16 anos de idade para tentar uma carreira como modelo. Ela ouve do chefe da agência que a contratou que tem todas as qualidades para virar uma estrela. Mas Jesse logo enfrenta a inveja das modelos mais veteranas, que desprezam seus traços joviais e inocentes. Conforme Jesse conquista seu espaço na brutal indústria da moda, a personalidade dela é moldada de modo que tome coragem para enfrentar suas rivais.


A diretora de fotografia Natasha Braier detém um estilo próprio, onde trabalha com dualidade entre o lado sensível e perigoso do ser humano, presente nesse filme com o jogo de sombras e luzes.


Aqui a fotografia trabalha de maneiras diferentes de acordo com aquilo que passa a protagonista. No primeiro momento da narrativa, através de luz e cor, agarra a curiosidade do espectador pelo que está por vir, onde a ambição de Jesse parece transparecer. Tudo é bem saturado e contrastado, dando até mesmo a impressão de ser irreal.


Cores cada vez mais fortes trabalhadas nas luzes são a saída encontrada para uma estética que evidencia as sensações da protagonista. As cores saturadas evidenciam a ambição de Jesse, que vai perdendo o controle, assim como a extravagância da indústria. As cores e níveis de saturação mudam de acordo com as fases emocionais de Jesse. A luz natural é utilizada quando a personagem está nela própria, em sua inocência e sem interferência do mundo no qual deseja entrar.


Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), por James Laxton


Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem.


Mais um filme onde o trabalho de arte e fotografia se complementam muito bem. É o que vemos em Moonlight nos três tempos que dividem o filme. Com a cor azul, que tem importância narrativa, vemos o protagonista com uma roupa azul, banhado em luz azulada, ou então “contornado” em azul de alguma forma.


As luzes, cores e enquadramentos dão o toque necessário para essa história, que carrega uma viagem de autoconhecimento do personagem, dando intensidade e revelando uma intimidade que ele mesmo tem dificuldade de lidar. Talvez a palavra para definir a estética empregada seja sutileza, que é trabalhada na forma como nos é apresentada a história.


Blade Runner 2049 (2017), por Roger Deakins


California, 2049. Após os problemas enfrentados com os Nexus 8, uma nova espécie de replicantes é desenvolvida, de forma que seja mais obediente aos humanos. Um deles é K, um blade runner que caça replicantes foragidos para a polícia de Los Angeles. Após encontrar Sapper Morton, K descobre um fascinante segredo: a replicante Rachel teve um filho, mantido em sigilo até então. A possibilidade de que replicantes se reproduzam pode desencadear uma guerra deles com os humanos, o que faz com que a tenente Joshi, chefe de K, o envie para encontrar e eliminar a criança.


Com certeza o filme que carrega uma das melhores fotografias dos últimos tempos, não à toa tem como diretor de fotografia Roger Deakins, autor de diversas outras fotografias exemplares. O filme levou o Oscar de Melhor Fotografia e apresenta imagens belíssimas carregadas de técnica.


Deakins trabalha com diversos elementos que compõem a história contada pelo novo filme, como composição, o trabalho com reflexos na água, luzes e até mesmo fumaça. As imagens resultantes desse trabalho são extraordinárias.


Vale lembrar que a fotografia do primeiro Blade Runner já era espetacular, e Deakins é fiel à atmosfera que se criou, trazendo outros recursos e combinações de técnicas importantes.


Roma (2018), por Alfonso Cuarón


Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por Cleo, que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.


Também um dos filmes mais comentados dos últimos tempos, Roma carrega diversos prêmios na conta, inclusive de fotografia.


No filme que trabalha em cima de memórias do diretor Alfonso Cuarón, o uso do preto e branco tem tom nostálgico e retrô, e a câmera se comporta como testemunha do que acontece ao redor; as escolhas de travellings, plano sequência e planos abertos buscam captar as múltiplas ações ocorridas no dia-a-dia de Cleo, o que coloca uma única posição a quem assiste sua obra: a de espectador dessas memórias. A movimentação dos atores é sempre bem encenada, mas sem nunca perder a naturalidade. É daqueles filmes que carregam beleza em cada frame.


Esses são apenas alguns das centenas de filmes válidos para se estudar fotografia no cinema, mas os assistindo e observando qual é o trabalho do departamento, é possível entender como a fotografia trabalha para compor uma obra.  


Por Mariana R. Marques

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