Instituto de Cinema de SP

10 filmes sobre a Ditadura

No dia 13 de dezembro de 1968, foi promulgado o Ato Institucional n.°5. A data marca o início do período mais repressivo da ditadura militar brasileira. Promulgado pelo governo Costa e Silva, o AI-5 implementou medidas que aumentavam o poder dos governantes permitindo que esses pudessem punir arbitrariamente aqueles que fossem considerados inimigos do governo. O mais duro golpe da ditadura restringiu liberdades e iniciou uma época obscura e violenta.


A tomada de poder pelos militares teve grandes impactos na produção cultural do país e deixou sua marca na cinematografia brasileira. Sejam as reações imediatas ao golpe ou obras mais recentes que buscam reavaliar o período, o tema perpassa por diferentes momentos da produção nacional.


Na época do golpe militar de 1964, o Brasil vivia o movimento do Cinema Novo, que pretendia levar às telas as contradições e desigualdades da sociedade brasileira. Nesse momento os cineastas assumiram a tarefa de  internalizar a crise política e reavaliar a experiência vivida pelo país - o que pode ser visto em filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha e Opinião Pública, de Arnaldo Jabor.


Entretanto, a partir do fechamento do regime no fim de 1968 a censura passa a exercer fortíssima influência na produção nacional, e o cinema entra um paradoxo vivenciado por toda a década de 1970: era financiado pelo Estado autoritário que o censurava, evitando assim críticas ao regime. Essa época ficou marcada pela produção conhecida como Pornochanchada e pelo Cinema Marginal.


Já ao fim da ditadura, uma característica do cinema nacional foi a proposta de criar uma “memória” dos tempos vividos, principalmente através de documentários. E, mesmo depois do encerramento do regime, o mesmo continua sendo um tema presente em produções audiovisuais. Filmes que buscam manter viva a memória de uma época sombria e marcada pela violência. Sendo assim, confira abaixo 10 filmes nacionais que abordam o tema e que de alguma forma colocam em questão a realidade e os horrores ocasionados pelo regime.


Marighella (2019)


Dirigido por Wagner Moura, o filme conta  a história de Carlos Marighella, ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro assassinado pela ditadura militar em 1969. Marighella é uma adaptação da biografia do guerrilheiro escrita por Mário Magalhães, “Marighella - O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo”, e tem participação de Seu Jorge, Adriana Esteves, Bruno Gagliasso e Luiz Carlos Vasconcellos no elenco.


O filme ainda não estreou nos cinemas mas desde o ano passado está dando muito o que falar. Tendo sua estreia cancelada por problemas com a Ancine, e possíveis censuras do governo atual, sua previsão de chegada nas salas de cinema brasileiras é para o dia 15/04/21.


Deslembro (2018)


Dirigido por Flávia Castro, o filme Deslembro foca em demonstrar os efeitos da ditadura nas novas gerações e ressalta a importância da memória para que não se repitam os erros do passado, colocando em questão os desaparecimentos políticos ocorridos durante o período militar.


No longa, Joana é uma adolescente que mora em Paris com a família. Quando a anistia é decretada no Brasil, ela volta ao Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e onde seu pai desapareceu nos porões do DOPS. Lá, memórias amargas de tempos difíceis vêm à tona, causando assim um forte desconforto e aflição.


Histórias Que Nosso Cinema Não Contava (2017)


Histórias Que Nosso Cinema Não Contava, dirigido por Fernanda Pessoa, é um documentário feito exclusivamente com imagens de arquivo do cinema nacional, particularmente da produção conhecida como Pornochanchada. No filme, a diretora busca resgatar um fragmento da história brasileira em muito esquecido ou apagado, justamente o período da ditadura militar.


O trabalho de construção do filme se pauta na descontextualização - e recontextualização - de trechos dessas obras que, ressignificadas, contam de forma crítica os anos da ditadura no Brasil. O resultado é um retrato da sociedade brasileira, um retrato que escancara o país que fomos - e que somos.


O Dia Que Durou 21 Anos (2013)


Dirigido por Camilo Tavares, o documentário explora o papel que os Estados Unidos tiveram no golpe de 1964 e no regime que se estendeu pelos próximos 21 anos. O filme evidencia, além de áudios originais, documentos confidenciais que comprovam a omissão do governo norte-americano em relação às prisões, torturas, desaparecimentos e mortes praticados em nome da manutenção do regime.


É marcante no filme sua preocupação estética, diferente de alguns documentários históricos que buscam apenas informar, o longa-metragem chama atenção pelo próprio uso da linguagem cinematográfica. Com fotografias de arquivo animadas, trilha sonora pulsante, e uma montagem acelerada, é evidente que o filme pretende ir além de uma função pedagógica, e seduzir e entreter o espectador.


Cidade de Deus (2002)


Clássico nacional dirigido por Fernando Meirelles, o filme retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus, uma favela que começou a ser construída nos anos 1960 e se tornou um dos lugares mais perigosos do Rio de Janeiro no começo dos anos 1980, enfatizando a crise social produzida pela modernização autoritária e excludente do governo militar.


Para contar a trajetória deste lugar o filme narra a vida de diversos personagens e eventos que se entrelaçam no decorrer da trama. Tudo pelo ponto de vista de Buscapé, o protagonista-narrador que cresceu nesse ambiente extremamente violento mas que encontra subsídios para não ser fisgado pela vida do crime. 


Que Bom Te Ver Viva (1989)


O filme dirigido por Lucia Murat aborda a tortura durante o período de ditadura no Brasil. Unindo relatos documentais de oito ex-presas políticas e criações ficcionais interpretadas por Irene Ravache, a obra mostra como as vítimas sobreviveram e como encaram aqueles anos de violência duas décadas depois.


Mais do que descrever e enumerar as atrocidades praticadas pelos militares, o filme mostra o preço que essas mulheres pagaram, e ainda pagam, por terem sobrevivido lúcidas à experiência de tortura.


Cabra Marcado Para Morrer (1984)


Originalmente Cabra Marcado Para Morrer era um filme ficcional sobre João Pedro Teixeira, um líder camponês assassinado. Suas filmagens, entretanto, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964 e só seriam retomadas na abertura do regime. O filme então transformou-se num documentário sobre o paradeiro atual das personagens originais, em especial Elizabeth Teixeira, esposa de João.


O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens após terem se separado pela onda de repressão. E, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos da ditadura.


Manhã Cinzenta (1969)


Baseado em um conto homônimo de Olney São Paulo, e dirigido pelo mesmo, o filme faz uma alegoria de regimes autoritários. Ambientando-se em um país fictício da América Latina, retrata um casal de estudantes que segue para uma passeata onde o rapaz, um militante, lidera um comício. Eles são presos, torturados na prisão e sofrem um inquérito absurdo dirigido por um robô e um cérebro eletrônico.


O projeto inicial era incluir mais duas histórias no filme, entretanto a película foi apreendida e censurada, e o projeto abandonado. Os negativos e cópias de Manhã cinzenta foram confiscados em 1969, mas duas cópias do filme ficaram guardadas por 25 anos na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.


Terra em Transe (1967)


Em Terra em Transe Glauber Rocha, o maior nome do cinema brasileiro, constrói uma alegoria da conjuntura brasileira - e latino-americana - que resultou no Golpe Civil Militar de 1964. Na trama, o país fictício de Eldorado é palco de uma convulsão interna desencadeada pela incessante luta em busca do poder.


Na trama, o senador Porfírio Diaz (Paulo Autran) detesta seu povo e pretende tornar-se imperador de Eldorado, um país localizado na América do Sul. Porém existem diversos homens que querem este poder, que resolvem enfrentá-lo. Enquanto isso, o poeta e jornalista Paulo Martins (Jardel Filho), ao perceber as reais intenções de Diaz, muda de lado, abandonando seu antigo protetor.


O Desafio (1965)


Dirigido por Paulo César Saraceni, O Desafio é a primeira resposta cinematográfica ao golpe militar. O longa retrata o estado de perplexidade que se tornou característico da intelectualidade brasileira após a mudança de regime que, nutrida de mitos e esperanças, entrou em uma fase de marasmo completamente sem perspectiva.


A trama narra narra o romance de Marcelo e Ada, um jornalista de esquerda em uma crise identitária e uma burguesa casada com um importante industrial. A relação entre os dois deixa claro que essas personagens são profundamente marcadas pelo seu meio e por suas classes, e que, portanto, uma conciliação seria impossível.


 


Por Isabella Thebas

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