Instituto de Cinema de SP

A Febre, longa de Maya Da-Rin falado em língua indígena, é o grande vencedor da 52ª Edição do Festival de Brasília

O Festival de Brasília deste ano foi recheado de polêmicas e momentos tensos no que diz respeito a como o audiovisual e a cultura, no geral, vêm sendo tratados no Brasil e no próprio estado sede de um dos festivais cinematográficos mais importantes e tradicionais do cinema brasileiro. 


Em um ano de tantos altos e baixos para nosso cinema, tantos problemas políticos e declarações indevidas de quem está no governo, a resistência declarada em um evento de suma importância é necessária. A arte é sempre instrumento de tal resistência, e mais uma vez se fez vitoriosa, principalmente ao olharmos para melhor o filme do festival neste ano. 


Além de tais momentos tensos acerca da realidade que atravessamos no cinema, o festival também teve momentos de glória com vitórias muito importantes. Destaque, por exemplo, para o número de produções premiadas que foram dirigidas por mulheres. Quatro das cinco a receberem em categorias como melhores, são direção de uma mulher. 


O grande vencedor é o primeiro longa-metragem de ficção de Maya Da-Rin, que já havia dirigido documentários que se passam na Amazônia, também pano de fundo de sua mais nova produção. Em A Febre, Maya explora a história de Justino, que trabalha como vigia no porto de cargas, e desde a morte de sua esposa tem como companhia sua filha Vanessa, que é enfermeira no posto de saúde. Ao ser aceita para estudar medicina em Brasília, Vanessa deve se mudar em breve. Com a notícia da partida da filha e a distância de sua aldeia, de onde partiu há mais de 20 anos, Justino já não se sente tão bem. 


Com o passar dos dias, é tomado por uma febre forte. Durante a noite, uma criatura misteriosa segue seus passos. Durante o dia, luta para se manter acordado no trabalho. Mas logo a rotina tediosa do porto é quebrada pela chegada de um novo vigia. Enquanto isso, na televisão, fala-se de um animal selvagem à espreita no bairro. 


Um dos pontos mais interessantes do filme é o fato de ser praticamente todo falado em tukano, uma espécie de língua-franca falada entre os povos do Alto Rio Negro, na Amazônia. Quando fala-se em um governo que, além de ser uma ameaça para o cinema nacional, deslegitima tanto a existência indígena, o vencimento de A Febre tem um peso - positivo - ainda maior. Principalmente no ano em que o Festival de Brasília teve sua edição mais politizada. 


O longa venceu em cinco categorias, incluindo as mais técnicas. Os troféus Candangos foram para as categorias de: melhor longa, direção, ator (Regis Murupu), fotografia e som. O ator Regis Murupu já havia conquistado o mesmo prêmio no Festival de Locarno, na Suíça. 


Destaque também para o filme de Thaís Borges, O Tempo que Resta, que conquistou o prêmio do Júri e Crítica. O longa documental traz duas protagonistas, Ivete Bastos e Osvalina Pereira, agricultoras marcadas para morrer por madeireiros e grileiros de terra, na região de Santarém, no Pará. Aqui o documentário não apresenta entrevistas ou narrativa em off, num sentido observacional da coisa, a diretora demonstra muita sutileza ao retratar a narrativa. Tanto o público quanto a crítica elegeram o longa como o melhor do festival. 


Deixamos o trailer de A Febre logo abaixo para que você conheça mais sobre o filme. Agora, confira a lista completa dos vencedores:


Mostra Competitiva – Longa-metragem


MELHOR LONGA METRAGEM – MOSTRA COMPETITIVA


A febre, filme de Maya Da-Rin


MELHOR LONGA METRAGEM JÚRI POPULAR


O tempo que resta, filme de Thaís Borges


MELHOR DIREÇÃO LONGA METRAGEM


A febre, direção de Maya Da-Rin 


MELHOR SOM


A febre, filme de Maya Da-Rin


MELHOR TRILHA SONORA


Alice Júnior, filme de Gil Baroni


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE


Piedade, de Claudio Assis


MELHOR MONTAGEM


Alice Júnior, filme de Gil Baroni


MELHOR FOTOGRAFIA


A Febre, filme de Maya Da-Rin


MELHOR ROTEIRO


O tempo que resta, filme de Thaís Borges


MELHOR ATOR COADJUVANTE


Cauã Reymond, em Piedade


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


Thais Schier, em Alice Júnior


MELHOR ATOR


Régis Myrupum, em A febre


MELHOR ATRIZ


Anne Celestino, em Alice Júnior


PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI — LONGA-METRAGEM


Claudio Assis, pelo filme Piedade


PRÊMIO SARUÊ – CORREIO BRAZILIENSE


Escola sem sentido, filme de Thiago Foresti


PRÊMIO ABRACCINE – MELHOR FILME LONGA METRAGEM COMPETITIVA


O tempo que resta, filme de Thaís Borges


Mostra Competitiva – Curta-metragem


MELHOR SOM


A nave de Mané Socó, filme Severino Dadá


MELHOR TRILHA SONORA


Alfazema, filme de Sabrina Fidalgo


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE


Parabéns a você, filme de Andreia Kaláboa


MELHOR MONTAGEM


A nave de Mané Socó, filme de Severino Dadá


MELHOR FOTOGRAFIA


Parabéns a você, filme de Andreia Kaláboa


MELHOR ROTEIRO


Carne, de Camila Kater


MELHOR ATOR


Severino Dadá, em A nave de Mané Socó


MELHOR ATRIZ


Teuda Bara, em Angela


MELHOR CURTA METRAGEM JÚRI POPULAR – MOSTRA COMPETITIVA


A Carne, filme de Camila Kater


MELHOR CURTA METRAGEM – MOSTRA COMPETITIVA


Rã, de Júlia Zakia e Ana Flavia Cavalcanti


PRÊMIO MARCO ANTÔNIO GUIMARÃES


Chico Mendes, um Legado a Defender, de João Inácio


PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS — MELHOR FILME CURTA METRAGEM COMPETITIVA


Sangro, de Tiago Minamisawa e Bruno H. Castro.


PRÊMIO ABRACCINE – MELHOR FILME CURTA METRAGEM COMPETITIVA


A Carne, de Camila Kater


Mostra Brasília BRB


MELHOR DIREÇÃO


Mãe, filme de Adriana Vasconcelos 


MELHOR CURTA METRAGEM JÚRI POPULAR


Escola sem sentido, filme de Thiago Foresti


MELHOR LONGA METRAGEM JURI POPULAR


Dulcina, filme de Glória Teixeira


MELHOR CURTA METRAGEM – MOSTRA BRASÍLIA (PRÊMIO TECNICO EDINA FUJII CIARIO)


Escola sem sentido, filme de Thiago Foresti


MELHOR LONGA METRAGEM– MOSTRA BRASÍLIA (PRÊMIO TECNICO EDINA FUJII CIARIO)


Dulcina, filme de Glória Teixeira


MELHOR DIREÇÃO CURTA METRAGEM – MOSTRA COMPETITIVA


Alfazema, filme e direção de Sabrina Fidalgo


MELHOR EDIÇÃO DE SOM


Mito e música — a mensagem de Fernando Pessoa, filme de André Luiz Oliveira e Rama Oliveira


MELHOR TRILHA SONORA


Mito e música a mensagem de Fernando Pessoa, filme de André Luiz Oliveira e Rama Oliveira


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE


Dulcina, filme de Glória Teixeira


MELHOR MONTAGEM


Ainda temos a imensidão da noite, filme de Gustavo Galvão


MELHOR FOTOGRAFIA


Ainda temos a imensidão da noite, filme de Gustavo Galvão


MELHOR ROTEIRO


Mito e música a mensagem de Fernando Pessoa, filme de André Luiz Oliveira e Rama de Oliveira


MELHOR ATOR 


Wellington Abreu, em Escola sem sentido


MELHOR ATRIZ


Bido Galvão, Carmem Moretzsohn, Iara Pietricovsky, Theresa Amayo, Glória Teixeira e Françoise Fourton, em Dulcina, filme de Glória Teixeira


Por Mariana R. Marques

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