A Origem do Cinema
Você sabe como surgiu o Cinema?
Em 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière realizaram a primeira exibição pública cinematográfica. Esse evento é considerado por muitos como o marco inicial do que conhecemos como história do cinema, no entanto, a possibilidade de criação do cinema foi resultado do esforço de vários inventores que trabalhavam para conseguir registrar imagens em movimento. Vem conferir!
Pré-cinema
Ao longo de séculos, inventos, ideias e dispositivos foram desenvolvidos e convergidos para delinear os princípios que criariam tecnicamente o cinema. Luz e sombra, reflexão e refração, os estudos da óptica e cinética, aliados à fisiologia do olho humano, constituíram os elementos formadores para a técnica cinematográfica.
Todos esses inventos e estudos fazem parte do período que hoje chamamos de pré-cinema. Esse, por sua vez, tem início por volta do ano de 5.000 a.C, na China, com o “Teatro de Sombras”. Trata-se de uma arte muito antiga de contar histórias e entreter com bonecos de sombra. A prática consiste na projeção de sombras, em paredes ou telas de linho, de figuras humanas, animais ou recortes de objetos e cenários. Sua temática, contada por um narrador, geralmente envolvia guerreiros, princesas e dragões. E ainda hoje é uma forma popular de entretenimento tanto para crianças quanto para adultos em muitos países ao redor do mundo.
Posteriormente, a primeira “tecnologia cinematográfica” desenvolvida (primeiramente por Leonardo Da Vinci no século XV, e depois por Giambattista Della Porta no século XVI) foi a “Câmara Escura”. Esse aparato consistia em uma caixa fechada com um pequeno orifício coberto por uma lente que permitia a entrada de luz. Assim, a imagem dos objetos exteriores é projetada no interior da caixa (de forma invertida). Trata-se da primeira grande descoberta da fotografia, uma vez que o princípio da propagação retilínea da luz permite que os raios luminosos que atingem o objeto e passam pelo orifício da câmara sejam projetados em um anteparo fotossensível na parede da caixa paralela ao orifício, fixando sua imagem.
No século seguinte, o alemão Athanasius Kirchner se baseia na Câmara Escura para criar a “Lanterna Mágica”, que funciona no sentido oposto à tecnologia do italiano Della Porta. O aparelho é composto por uma caixa cilíndrica iluminada por dentro com uma vela que projeta imagens desenhadas em uma lâmina de vidro. É o primeiro aparelho destinado a projeções coletivas, onde um narrador, algumas vezes com acompanhamento musical, se encarregava de contar histórias. A lanterna mágica se tornou uma grande atração em feiras urbanas, e também foi muito utilizada no ambiente acadêmico.
No século XIX, muitos aparelhos que buscavam estudar o fenômeno da persistência retiniana foram construídos. Este fenômeno seria responsável por manter a imagem por uma fração de segundo na retina, resultando na ilusão de movimento. Em 1832, Joseph-Antoine Plateau criou o Fenacistoscópio, o instrumento apresentava várias figuras de um mesmo objeto em posições diferentes desenhadas em um disco, de forma que ao girá-lo, essas imagens passavam a formar um movimento.
No mesmo século, uma importante invenção aproximou ainda mais o surgimento do cinema: a Fotografia. Mesmo tendo sido lançada comercialmente em 1839, portanto na mesma década que o fenaquistiscópio, a fotografia esperou quase 50 anos para emprestar suas propriedades para o cinema. Inicialmente, eram necessárias horas de exposição do material sensível para fotografar algo, o que tornava o intercâmbio técnico da fotografia para o cinema quase impossível enquanto a primeira não desenvolvesse processos mais ágeis de captação de imagens.
No fim do século, aparecem aparelhos como o Praxinoscópio e o Fuzil Fotográfico. O primeiro, construído em 1877 pelo francês Charles Émile Reynaud, consistia num aparelho de formato circular no qual imagens se sucediam e criavam a sensação de que estavam se movendo. Inicialmente o uso da máquina era reservado ao ambiente doméstico, mas em 1888 Reynaud conseguiu aumentar seu tamanho tornando possível projetar desenhos para plateias maiores, performances essas que ficaram conhecidas como “teatro ótico”. Essas projeções alcançaram um enorme sucesso e a máquina só foi superada pela invenção dos irmãos Lumière.
O Fuzil Fotográfico por sua vez foi desenvolvido em 1878 pelo francês Étienne-Jules Marey. O instrumento consistia em um tambor forrado por dentro com uma chapa fotográfica circular. Ele era capaz de produzir 12 frames consecutivos por segundo, sendo que todos os frames ficavam registrados na mesma imagem. Seus estudos foram baseados na experiência de Edward Muybridge, que decompunha o movimento do galope de um cavalo.
Thomas Edison e irmãos Lumière
Alguns dizem que o cinema de fato teve início com o Cinetoscópio. Em 1890, o norte-americano Thomas Edison, que já havia inventado o filme perfurado e uma película de celulóide capaz de fixar as imagens e projetá-las através de lentes, produz e exibe uma série de filmes curtos no que seria o primeiro estúdio de cinema, o Black Maria em West Orange. Esses pequenos filmes não eram projetados em uma tela grande, mas sim no interior de uma máquina, o Cinetoscópio, um instrumento individual onde se assistiam filmes de até 15 minutos.
À medida que o Cinetoscópio ganhou popularidade, a Edison Company começou a instalar máquinas em lobbies de hotéis, parques de diversão e fliperamas, e logo os chamados "salões de Cinetoscópio" foram abertos em todo o país. No entanto, Edison recusou a ideia de projetar suas imagens para uma audiência maior, alegando que tal invenção seria menos lucrativa.
Logo variações do Cinetoscópio foram criadas e distribuídas pela Europa. Essa nova forma de entretenimento foi um sucesso instantâneo, e vários mecânicos e inventores, vendo uma oportunidade, começaram a brincar com métodos de projetar as imagens em movimento em uma tela maior. No entanto, foi a invenção dos irmãos Auguste e Louis Lumière - fabricantes de produtos fotográficos em Lyon, na França - que tiveram o maior sucesso comercial.
No ano de 1895, os irmãos Lumière criaram, a partir do aperfeiçoamento do Cinetoscópio, o Cinematógrafo (de onde se originou o termo cinema). O aparelho desenvolvido por eles, filhos de um fotógrafo e proprietário de uma indústria de filmes e papéis fotográficos, é o ancestral da filmadora. Era movido à manivela e utilizava negativos perfurados. Como era leve, o instrumento facilitava filmagens externas e, ao longo dos anos os irmãos usaram a câmera para fazer mais de mil curtas-metragens, a maioria dos quais retratava cenas da vida cotidiana. Desta maneira, o invento dos irmãos franceses superou os concorrentes e transformou-se no aparelho preferido daqueles que desejavam registrar imagens em movimento.
A sua primeira exibição, “La Sortie de l’unsine Lumière à Lyon” (A saída da Fábrica Lumière em Lyon) aconteceu no dia 22 de março de 1895 no Grand Café Paris para uma pequena plateia, mas foi um grande passo para um novo rumo na indústria do entretenimento. Os primeiros filmes representavam cenas cotidianas e cativavam cada vez mais públicos fascinados com a tecnologia “moderna”.
Cinema Narrativo
Até então, o cinema era visto apenas para fins documentais e para registrar através de uma câmara estática algo que estava acontecendo diante da lente. Seria o que chamamos de "teatro filmado".
No entanto, dois pioneiros do cinema vão utilizar as câmeras para contar histórias, criar técnicas e narrativas que somente seriam possíveis com este aparelho. Eles são Alice Guy-Blaché (1873-1968) e Georges Méliès (1861-1938).
A francesa Alice Guy foi a primeira cineasta mulher e a primeira pessoa a explorar a via narrativa do cinema. Autora de quase mil obras, fez seu primeiro filme baseado num conto popular, “A Fada dos Repolhos” (1896).
Alice Guy trabalhava como secretária na fábrica e produtora de cinema Gaumont, quando os irmãos Lumière foram fazer uma demonstração do seu recente invento. Encantada com o aparelho, Alice Guy começou a experimentar o aparelho: filmar com dupla exposição, atrasar ou apressar a velocidade da câmara a fim de conseguir efeitos interessantes para narrar suas estórias. Ela ainda seria a primeira a usar cores e som nos seus filmes.
Nos Estados Unidos três anos depois, Alice Guy criou sua própria produtora e construiu estúdios para filmar suas obras. Após se divorciar em 1920, volta para a França, mas não consegue retomar sua carreira de diretora. Completamente apagada da história do cinema, Alice Guy-Blaché faleceu em 1968.
Por sua vez, o mágico e ator francês Georges Méliès também trabalhou no desenvolvimento da linguagem cinematográfica introduzindo cortes, sobre-exposição e zoom. Nascido em Paris, em 1861, Méliès comandava seu próprio teatro na capital francesa e foi convidado pelos irmãos Lumière para assistir a exibição do Cinematógrafo em 1895.
Méliès queria usar o aparelho nos seus espetáculos, mas os irmãos não o venderam. De qualquer maneira, ele comprou uma máquina semelhante e começou a escrever roteiros e atuar. Aperfeiçoou os truques próprios do teatro e do ilusionismo para o cinema e assim alcançou grande sucesso, tornando-se o pai dos efeitos especiais do cinema. Seu maior êxito foi a o filme "Viagem à Lua", de 1902, onde adaptou a célebre obra de Júlio Verne para o cinema.
Após os filmes de Meliès, surgiram as produções de D. W. Griffith (considerado criador da linguagem cinematográfica), nos Estados Unidos; as produções expressionistas e do “Movimento de Câmera”, na Alemanha; do surrealismo, na Espanha; e o cinema soviético, sobretudo com nomes como Vertov e Eisenstein. Fique ligado e acompanhe as redes do InC para saber sobre os diferentes momentos do cinema!
Por Isabella Thebas