Instituto de Cinema de SP

Ancine: Retirada de cartazes é a nova polêmica do órgão

A Ancine, órgão responsável por fomentar, promover e estimular o audiovisual nacional, se faz presente em mais uma polêmica. Na última semana a agência tem tomado medidas questionáveis com relação a cartazes de filmes do cinema brasileiro, tendo os retirado de seu espaço físico e virtual. Quer entender mais? Então continua por aqui. 


O primeiro presidente da Ancine, Gustavo Dahl, foi quem instalou pelos corredores da agência quadros que enalteciam pôsteres de filmes nacionais. Eram mais de 100 molduras, que expunham desde 2002 cartazes de clássicos e novidades de nosso cinema. Era possível trocá-los, o que permitia rotatividade, dando atenção a diversos filmes diferentes. 


E foi em novembro de 2019 que uma discussão acerca de tais cartazes começou. Segundo Érico Cazarré, diretor de comunicação da agência, a decisão foi tomada em reunião com o presidente-interino da casa, Alex Braga. Essa reunião teria acontecido em meados de novembro. 


Além de quadros retirados do edifício, no site da Ancine já não se tem disponíveis banners que continham informações acerca de festivais e novas produções. Foram retirados também cartazes que, quando clicados, disponibilizavam a ficha técnica das obras, com equipe e sinopse. As abas que tornavam públicas importantes informações, já não estão mais lá. Dentre os títulos clássicos retirados, têm-se O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968), Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964) e Cabra Marcado Para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984). 


Segundo Cazarré, “haviam muitos pedidos de divulgação, de festivais a eventos e palestras. Se eu fosse botar um filme, teria que botar todos. Depois, informações de distribuidores e produtores, e por aí vai. Por isonomia, optamos por não divulgar mais nada”. Esse foi o posicionamento da agência. 


A decisão foi extremamente criticada por cineastas e usuários da internet, que começaram o movimento #OCinemaBrasileiroEmCartaz, que vem acompanhado de diversos cartazes de produções nacionais para divulgar e enaltecer aquilo que pode ser considerado patrimônio cultural. Fala-se em uma espécie de retaliação, com os cartazes sendo retirados por motivações políticas. Cazarré nega que a decisão tenha sido tomada contra cartazes de filmes que expressam posicionamento contrário ao do atual governo. Mas essa é uma teoria discutida. 


Em janeiro o festival Verão sem Censura vai expor os cartazes retirados pela Ancine entre os dias 17 e 31 de janeiro. O evento é uma iniciativa contra censura a obras culturais estabelecidas por órgãos do Governo Federal. Sendo criação da prefeitura de São Paulo, o Verão sem Censura terá como programação o repertório teatral censurado, além de outras obras silenciadas e os já citados cartazes. 


Não é estranho pensar que o órgão responsável por fomentar, promover e estimular o audiovisual brasileiro, sendo o cinema uma grande parcela dele, retire cartazes que representam grandes e importantes produções nacionais?


Por Mariana R. Marques

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