Instituto de Cinema de SP

Bollywood e seu jeito lucrativo de fazer cinema

O cinema norte-americano impressiona por suas grandes produções de qualidade que conquistam plateias do mundo inteiro. Mas, não pense que Hollywood é a maior indústria cinematográfica do mundo. Quem domina esse cenário é Bollywood, com o título de maior produtora de cinema do mundo. Os indianos produzem cerca de 1500 filmes por ano e tem um público fiel que lota as sessões para acompanhar cada lançamento. Por se tratar do segundo país mais populoso do mundo com mais de 1,3 bilhão o cinema feito a Índia tem uma média de espectadores de mais de meio milhão mensal. Eles também exportam seus filmes para países vizinhos e lugares como os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e para o mundo árabe que possuem uma grande comunidade hindu.


O nome Bollywood surgiu por causa do nome da cidade que era Bombaim, que hoje chamamos de Mumbai. O primeiro lançamento aconteceu em maio de 1913, um filme mudo chamado “Haja Harischandra” do diretor Dhundiraj Govind Phalke, contava a história de um personagem citado no “Mahbharata”, épico clássico da Índia. A partir da década de 40 que o cinema começou a fazer parte da cultura indiana, logo após a independência da Inglaterra, os filmes foram um importante instrumento para o país criar sua identidade nacional, as telonas ajudaram a retratar um lugar multicultural com diferentes religiões. Nos anos 70, as produções focaram mais em questões sociais e os realizadores expuseram sua insatisfação com o governo e com altos índices de violência que assolavam a Índia.


Desde sua criação o cinema de Bollywood sempre teve um bom público, mas, a partir da década de 90 o Governo indiano, produtoras e executivos passaram a olhar para o cinema como algo que poderia ser lucrativo e contribuir para o crescimento do PIB. Nessa época houve a liberação econômica e a Índia passou a crescer quase 9% ao ano e a produções cinematográficas acompanharam esse desenvolvimento, principalmente a classe média que acendeu socialmente e adquiriu novos hábitos, que passaram a fazer parte dos filmes que ganharam músicas, coreografias e seus enredos retratam heroísmo, aventura, história de amor e dilemas dos jovens que tinha que se dividir entre as tradições familiares, ou seguir seu próprio caminho.


Nos anos 2000, que Bollywood atingiu o alcance global, foi quando a quantidade de filmes produzidos ultrapassou Hollywood e os norte-americanos não lideravam as bilheterias e nem ocupavam muitas salas de cinema no país. Porque, o público local não demonstrava muito interesse por produções que não retravam sua realidade. Em 2001 veio a primeira indicação para o Óscar com Lagaan (“Imposto”). As produtoras indianas também passaram a comprar roteiros americanos já produzidos e adaptaram para sua própria realidade como foi o caso de Três Solteirões e Um Bebê (1987) que virou Heyy Babyy (2007), e até a trilogia de “O Poderoso Chefão”, ganhou uma versão bollywoodiana com Sarkar 1 (2005), Sarkar Raj (2008) e Sarkar 3 (2017), todos dirigidos por Ram Gopal Varma, importante diretor hindu. Para os próximos anos outros remakes estão programados como “Forrest Gump” e “A Culpa é das Estrelas".


Bollywood também faz parcerias de coprodução com outras indústrias como aconteceu no premiado “Quem quer ser um Milionário”, dirigido por Danny Boyle com roteiro de Simon Beaufoy é um filme britânico-americano que contou com apoio do governo indiano e foi gravado em Mumbai. A história é uma adaptação do livro Q & A, do autor indiano e diplomata Vikas Swarup. O filme foi sucesso de público e crítica e levou oito óscares (incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado). Esse filme aproximou Bollywood de Hollywood, nos anos seguintes estúdios americanos passaram a investir no cinema indiano, por exemplo, desde 2012 a Disney controla UTV, maior produtora de conteúdo audiovisual do país. A Netflix tem uma sessão dedicada totalmente ao conteúdo produzido por Bollywood. Os atores indianos ou de origem hindu também passaram a figurar em produções norte-americanas como Pryanka Choppra, Dev Patel, Freida Pinto, Anil Kapoor, Irrfan Khan, Deepika Padukone, Suraj Sharma, Kunal Nayyar entre outros.


No ano de 2013, Bollywood completou 100 anos e foi homenageada no em grande estilo no 66º Festival de Cannes, na França, com a exibição de dois filmes. Não, por acaso depois dessa cerimônia o cinema feito em Bollywood começou a dar uma guinada em suas produções que passaram a debater causas sociais, divisão de castas ainda presente na Índia e questionamentos sobre a participação de LGBTs e mulheres ganharam força. Aliás, o Óscar de melhor curta-metragem em 2019 foi para a Índia em uma produção dirigida pela diretora Rayka Zehtabchi para Netflix. O filme “Absorvente o Tabu”, retrata a história de uma aldeia em Nova Delhi em que as mulheres lidam com o preconceito da menstruação. O resultado dessa vitória mostra como as coisas estão mudando no país, hoje o cinema indiano conta com produções de qualidade e sua indústria é autossustentável, não dependendo dos subsídios do Governo. Com todo esse lucro os próximos anos têm tudo para premiarem mais filmes bollywoodianos.


Por Marcela Servano

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