Instituto de Cinema de SP

Carol Fioratti abre o "Mulheres Brasileiras na Direção"

Diretora do longa "Meus 15 Anos" conta sua experiência em um mercado audiovisual machista e afirma: estamos em um bom momento para mulheres no cinema nacional

As mulheres enfrentam diferenças de gênero em diversos mercados profissionais. No cinema e audiovisual, não é diferente. No entanto, as perspectivas e conquistas começam a dar seus passos em direção a um mercado mais igualitário. Um bom exemplo está em Carol Fioratti, diretora do recente longa lançado nas telinhas brasileiras "Meus 15 Anos" e com séries consagradas no currículo como "Unidade Básica" e "A Grande Viagem".

Com jeito simples e descontraído, Carol esteve na abertura do "Mulheres Brasileiras na Direção", aqui no InC, no último dia 17. O evento foi criado com a ideia de mostrar o protagonismo e espaço dedicado às mulheres do setor. Em um debate caloroso, Carol afirmou que a luta para as mulheres ainda é um pouco maior.

O interesse por cinema

Carol tinha 12 anos quando viu 'Titanic', pelo viés dos bastidores e da produção e pensou: "quero fazer cinema". Um pouco depois, ficou encantada com 'Central do Brasil' e seu pensamento foi firmado: "dá para fazer cinema de qualidade no Brasil". Já na faculdade foi estudar cinema na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). De lá, portas foram abertas e ela estagiou na Gullane Filmes. Conheceu pessoas importantes que acreditaram em seu potencial.

Foi assim que foi convencida por Débora Ivanov - então diretora na Gullane, a inscrever seu curta 'Formigas' no Prêmio Estímulo. Ganhou o Prêmio pelo curta e conheceu um mundo novo: o dos editais. Não parou mais. "A cada dez projetos inscritos, um era aceito. Assim, aprendi em cada processo a considerar o que estava errado em todas as etapas. Foi ótimo para aprender", conta. Desta forma, mapeava tudo que era edital possível e assim foi fazendo sua carteira de projetos e aprendendo modelos de sucesso.

Respeita as mina

Com a entrada neste universo dominado por grandes homens, Carol passou por alguns episódios em que teve que provar sua capacidade para conquistar espaços. "Para conversar com um produtor executivo, por exemplo, não posso estar 'toda menininha'. Seria como se eu tivesse que mimetizar uma figura masculina. Os caras ainda pensam: "essa menininha de vestido não aguentaria um dia em um set de filmagens" - coisa que sabemos que é uma besteira enorme, mas tem raízes em um mundo machista, na figura de fragilidade da mulher. Tem que quebrar isso, sabe?", diz.

"Muitas pessoas ainda enxergam o diretor ou produtor como uma figura de enorme respeito. Se ele grita, é endeusado e respeitado. Se a mulher grita ou fica nervosa, é chamada de histérica e, ao invés de conquistar o respeito, o perde". E ela está certa quando diz que não pode ser assim.

Mudanças importantes

Mesmo com todo esse machismo enraizado, Carol diz que estamos em um momento em que as coisas estão mudando. Na presidência da Ancine (Agência Nacional do Cinema) está Débora Ivanov - a mesma pessoa que a incentivou a descobrir os editais. Além disso, está ficando comum que diretores e produtores exijam a presença de mais mulheres em sets. Há também o exercício da sororidade: "mulher é criada para competir e isso tem que mudar. Temos que nos unir e nos ajudar", afirma.

Carol explica que o meio audiovisual - praticamente o universo todo é composto por homens. "Eu sinto que tenho que ter mais o que provar do que eles para que confiem em mim. Isso vem da cultura machista do meio audiovisual, bem como de uma questão social. "Tem que aproveitar o momento de mudança e abusar da sororidade: chamar mais mulheres para trabalhar com você".

"Simplesmente por ser mulher, temos que argumentar mais, como se fosse para provar que também sabemos, que também podemos estar naquele espaço, só para atestar competência e confiança."

O papel importante do feminismo

As discussões nunca podem parar e a luta também não. O feminismo é importante, segundo Carol, não somente pela sororidade, mas para mudança de alguns paradigmas. "Em 'Meus 15 Anos', por exemplo, gravamos duas cenas finais. Uma tinha um beijo entre o casal e a outra não. A figura do homem, do amor da vida, é sempre associada ao heroísmo masculino. Os produtores concordaram comigo quando expus meu lado de não querer ter esse final tão romantizado", conta.

"A festa de 15 anos ainda é um sonho de muitas meninas. Crescemos dentro de uma bolha que tem que ser expandida. Isso eleva a autoestima delas em diversos locais do mundo. Tentamos desconstruir um pouco disso na personagem, para mostrar também o poder de decisão", explica.

Carol conta que a personagem, por exemplo, só aceitou a festa no filme se esta fosse do jeito que ela gostaria. "Foi importante para mudar modelos e também mostrar que poderia ser do jeito que ela quisesse".

O cinema no Brasil

A diretora foi clara: "temos que aproveitar o bom momento do cinema nacional". Assim, explicou que é muito relevante ter cinema autoral, cinema comercial, feitos com diversidade e respeito e para atingir sempre mais e mais pessoas.

"Por meio de políticas públicas, temos que quebrar preconceitos, impor a diversidade e ter sororidade, com seriedade e respeito. Espero que todos se desenvolvam nessa mesma direção. Além disso, nunca quero dirigir um projeto em que eu não acredite", finaliza.

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