Instituto de Cinema de SP

Cineastas brasileiros: Anna Muylaert

Anna Muylaert nasceu em São Paulo, em 1964. Se formou em Cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA) na USP. No início de sua carreira, realizou diversos curtas-metragens, além de publicar críticas de cinema em jornais e revistas. No começo da década de 1990, trabalhou com a criação e roteiro de programas da TV Cultura, como Castelo Rá-Tim-Bum (1994-1997) e Mundo da Lua (1991-1992).


Em 2002, Anna Muylaert dirigiu seu primeiro longa-metragem, Durval Discos, recebendo com ele duas indicações no chamado “Grande Otelo” (Grande Prêmio do Cinema Brasileiro), além de levar sete Kikitos de Ouro no Festival de Gramado, e outros três prêmios no Cine PE.


Após isso, Anna Muylaert dirigiu mais cinco longas, tendo como destaque o filme Que Horas Ela Volta? (2015), onde ampliou o discurso do drama do homem moderno repleto de incertezas com uma abordagem sociopolítica do Brasil. O filme acumulou mais de trinta indicações e vinte prêmios ao redor do mundo, aparecendo em diversos e renomados prêmios, como o Festival de Berlim e o Festival de Sundance de 2015.


Temas como os abordados em Que horas ela volta? são sempre presentes em seus longas, onde Anna desenvolve conflitos psicológicos de uma maneira a trazer um olhar bastante intimista. Com isso, ela desenvolve e coleciona personagens complexos que apresentam, assim como a sociedade onde estão inseridos, uma constante transformação.


Segundo Anna Muylaert, ela escolheu produzir filmes que quebram estereótipos, o que fica bem evidente se analisarmos sua filmografia, composta pelos seguintes filmes:


Durval Discos (2002)


O primeiro longa-metragem de Anna Muylaert conta a história de Durval (Ary França), que administra a loja de LPs que dá nome ao filme. Ele mora junto a mãe, Carmita (Etty Fraser) nos fundos da loja, e vive na monotonia, com poucos clientes e a mesmice diária. Além disso, ele sente e começa a se preocupar com a chegada dos CDs, que colocam em risco sua fonte de renda e maior prazer. Tudo muda quando mãe e filho decidem contratar uma empregada, Célia (Letícia Sabatella), para auxiliá-los. Os dois então acabam se deparando com a obrigação de cuidar da filha de Célia, que inesperadamente sai para viajar. A partir disso, a monotonia da casa se transforma, gerando conflitos e situações inusitadas, tudo em meio a vasta melodia, que nos leva em trilhas bem encaixadas, acompanhando as mudanças de tons do filme, que conta com pitadas de humor negro e até nonsense.


É Proibido Fumar (2009)


Nesse longa, acompanhamos a história de Baby (Glória Pires), uma fumante compulsiva, que trabalha dando aulas de violão em seu apartamento. Baby é muito apegada ao passado, e não possui muitas ambições, além de colocar as mão em um antigo sofá da família, o que gera conflitos com sua irmã Pop (Marisa Orth). As coisas começam a mudar quando Baby conhece Max (Paulo Miklos), seu novo vizinho, e acaba se apaixonando, decidindo largar o cigarro por causa do novo relacionamento. 


Aqui, Anna Muylaert nos conduz por uma mudança da comédia para o drama, semelhante a como havia feito em Durval Discos, e conta com uma consistente atuação de Glória Pires.


Chamada a Cobrar (2012)


Em Chamada a Cobrar, vemos a história de Clarinha (Bete Dorgam), uma senhora de classe média-alta que vive em São Paulo, que recebe um telefonema a cobrar de um suposto sequestrador, que afirma manter sua filha mais nova em cativeiro. O homem então se aproveita da ingenuidade de Clarinha, e a manipula para conseguir dinheiro e mercadorias. O filme nos mostra também o drama das filhas, que se desesperam com o desaparecimento da mãe.


Que Horas Ela Volta? (2015)


Ambientado na zona sul de São Paulo, vemos a história de Val (Regina Casé), uma empregada doméstica de Recife, que se mudou para a capital paulista a fim de oferecer uma vida melhor para sua filha, Jéssica (Camila Márdila). Val, que é considerada pelos patrões ricos como “quase da família”, vive em um pequeno quarto aos fundos da casa, aceitando ordens e situações de exclusão e subordinação de bom grado. A história muda quando Jéssica vai a São Paulo para fazer o vestibular. Ela, acostumada a um tratamento que não se limita a questões sociais, entra em conflito com a mãe, e as relações na casa se tornam cada vez mais prejudicadas. 


Anna Muylaert constrói nesse filme personagens muito interessantes, cheios de conflitos, evidenciando assim situações como distanciamento social e maternidade conflituosa, traduzidas de maneira grandiosa pelo elenco afiadíssimo. Destaque para as atuações primorosas de Regina Casé e Camila Márdila.


Mãe Só Há Uma (2016)


Nesse filme, que teve roteiro livremente inspirado no famoso “Caso Pedrinho”, acompanhamos o protagonista Pierre (Naomi Nero), um jovem de 17 anos que, em meio a construção de personalidade e sexualidade, descobre ter sido sequestrado na maternidade. Ele então se vê forçado a uma mudança de lar e de família, tendo que enfrentar essa transformação drástica em meio a uma procura por sua própria identidade.


Uma obra sensível, com grandes atuações. Vale um destaque para seu final, um intrigante anticlímax, daqueles que nos fazem pensar e imaginar o continuar da história mesmo após esta ter acabado.


 


Por Pedro Dourado

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