Instituto de Cinema de SP

Cineastas Brasileiros: Kleber Mendonça Filho

Kleber de Mendonça Vasconcellos Filho, mais conhecido como Kleber Mendonça Filho, nasceu em Recife, em novembro de 1968. Formado em jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Kleber se tornou crítico de cinema, e foi, durante o ano de 1998, um dos responsáveis por publicar diversas matérias e críticas no site CinemaScópio, primeiro website pernambucano dedicado ao cinema. No mesmo ano, Kleber se tornou coordenador de cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), onde trabalhou durante 18 anos, deixando o cargo em 2016, visando sua carreira no cinema.


Paralelo à sua atuação como crítico de cinema, e após a migração da era do vídeo para o digital/35mm, Kleber começou sua carreira como diretor no início dos anos 2000, com o lançamento de seus primeiros curta-metragens. Em 2003, junto a Daniel Bandeira, Kleber Mendonça Filho dirigiu o filme A Menina do Algodão, participando de alguns Festivais de curta-metragens, como o Festival Internacional de Curtas de São Paulo e o Festival do Rio BR. Em 2004, vem o filme Vinil Verde, com o qual Kleber recebeu diversos reconhecimentos em festivais, como os prêmios de Melhor direção, Melhor Montagem e o Prêmio da Crítica no Festival de Brasília. Depois disso, lançou mais alguns outros curtas, até chegar em seus dois principais trabalhos antes de começar a produzir seus longa-metragens: O documentário Crítico, e o curta-metragem Recife Frio.


O documentário, lançado em 2008, segue os questionamentos pessoais de pessoas situadas na indústria cultural, fazendo tanto o papel de cineastas quanto o de críticos. As imagens começaram a ser registradas em 1998, e seguiram até 2007. Gravado em diversos locais ao redor do mundo, como Brasil, Estados Unidos e alguns países europeus, o filme mostra a realidade de diversos trabalhadores, lutando contra mecanismos de mercado para continuar a arte humana de observar, e ao mesmo tempo, criar.


Já com Recife Frio, curta-metragem lançado em 2009, Kleber conta uma história fictícia sobre Recife, em uma realidade onde, após passar por uma desconhecida mudança climática, a cidade quente e tropical se torna fria, chuvosa e triste, intensificando a enorme desigualdade social. Com mais de 50 prêmios no Brasil e no exterior, o filme se tornou o curta-metragem brasileiro mais premiado desde Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado. Através de Recife Frio, Kleber recebeu reconhecimento e notoriedade, encerrando então sua atuação como crítico, passando a se dedicar à produção de seu primeiro longa-metragem de ficção, Som ao Redor.


Lançado em 2012, o filme foi um tremendo sucesso de críticas, sendo escolhido como a indicação brasileira no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014. O filme acabou ficando de fora da seleção final, porém acabou entrando na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, da Abraccine. Além disso, o longa recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, como o de Melhor Filme no Festival de Gramado e no Festival de Cinema da Polônia. Seu roteiro também recebeu premiações, tendo como destaque o Fundo Hubert Bals, do Festival de Roterdã.


O filme mostra a realidade de uma rua de classe média em Recife, e faz uma crítica ao crescimento social urbano, que acaba por criar uma enorme desigualdade entre os cidadãos, passando pela herança das relações de poder coloniais, onde vemos um personagem que detém a posse da maioria dos terrenos da rua, até os diferentes tratamentos às empregadas domésticas, servindo os patrões em busca da sobrevivência familiar. O longa é um reflexo da arquitetura social do Brasil, produzindo assim uma identidade tanto regional quanto nacional.


Depois de O Som ao Redor, Kleber Mendonça Filho produziu mais dois longa-metragens, sendo eles Aquarius (2016), e Bacurau (2019). Seus dois primeiros filmes entraram na lista dos 10 melhores filmes do ano, feita pelo jornal norte-americano The New York Times, e o último longa, Bacurau, com quem dirigiu junto a Juliano Dornelles, conquistou o famoso Prêmio do Júri no Festival de Cannes, se tornando o primeiro filme brasileiro na história a vencer o prêmio. Além disso, o filme levou outros inúmeros prêmios ao redor do mundo, como o de Melhor Filme nos Festivais de Munique e de Lima.


Em 2013, o jornal britânico colocou Kleber Mendonça Filho como um dos 25 brasileiros que merecem atenção de todo o mundo, muito devido à sua visão começando a ser propagada através do sucesso de seu primeiro longa. Em 2017, Kleber foi escolhido para ser presidente do Júri de Mostra Paralela em Cannes, além de ter sido anunciado, no mesmo ano, entre os novos membros da Academia do Oscar. Recentemente, em fevereiro de 2020, Kleber foi escolhido para integrar júri do Festival de Berlim, que aconteceu entre os dias 20 de fevereiro e 1 de março. O júri foi composto por mais 6 profissionais ligados ao cinema: o ator britânico Jeremy Irons, a produtora alemã Bettina Brokemper, a diretora palestina Annemarie Jacir, o diretor e roteirista norte-americano Kenneth Lonergan, e o ator italiano Luca Marinelli. E recentemente integrou o juri do Festival de Cannes de 2021.


Kleber Mendonça Filho escreve e dirige filmes que revelam um olhar crítico sobre inúmeros aspectos das relações pessoais e desigualdades, sempre com um tom irônico sobre as mesmas. Seus longas retratam problemas menos visíveis da sociedade brasileira, os deixando explícitos através de situações e cenários específicos, como pequenas cidades, ruas, e até edifícios.


 


Por Pedro Dourado

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