Cinema Queer: panorama e lista de um dos cinemas que mais se consolidam
Por décadas e décadas na história do cinema, as questões LGBTQI+ eram absolutamente renegadas - aliás, sequer existia tal sigla ou reconhecimento de causa, isso veio com o passar dos anos e evolução de pensamento. Seja na frente ou atrás das câmeras, a representação de gays, lésbicas e outros grupos de gênero e sexualidade considerados da minoria, não existia.
A heteronormatividade, que há tempos foi considerada o modelo ideal de sociedade, era tudo o que se via. Fala-se de pequenas produções aqui e ali que até poderiam representar, como no filme The Gay Brothers (1930), de Thomas Edson, onde o diretor teria representado de forma leve a situação.
Muitas pessoas se depararam com problemas e impedimentos na hora de levar projetos com temática homossexual pra frente. Em 1930 a questão já começava a surgir, mas sempre era vítima de censura, principalmente por parte da igreja, e assim continuava uma sequência de filmes que retratavam as relações homossexuais indo para baixo do tapete.
Nos anos 60, algumas causas sociais começaram a ganhar mais voz e visibilidade, e isso se refletia no cinema. Os filmes ainda eram para públicos fechados e considerados alternativos, mas começava-se a entender que um público considerável se interessaria por aquele tipo de obra.
Surge então a ligação entre teoria queer - que busca se aprofundar em teorias à respeito de minorias sexuais - e cinema. Dessa forma, os movimentos antes marginalizados em tempos anteriores passavam a ganhar maior espaço nas telas.
O Cinema Queer consiste em produções audiovisuais que representem a comunidade LGBTQI+ e ganhou força nos anos 90 com filmes como Paris is Burning (1991, de Jennie Livingston). Hoje tem se consolidado pelo mundo, inclusive em nosso Brasil, com filmes como Tatuagem (2013, de Hilton Lacerda), Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014, de Daniel Ribeiro) e Tea For Two (2018, de Julia Katharine). Confira abaixo uma lista com 11 filmes que podem representar esse movimento do cinema.
Filmes para conhecer o Cinema Queer
Rocky Horror Picture Show (1975), de Jim Sharman
Os namorados Brad e Janet têm um pneu furado durante uma tempestade e descobrem a misteriosa mansão do louco cientista Dr. Frank-N-Furter. Eles encontram uma casa cheia de personagens selvagens, incluindo um motociclista e um mordomo assustador. Através de danças sistemáticas e canções de rock, Frank-N-Furter revela sua mais recente criação: um homem musculoso chamado Rocky.
Paris is Burning (1991), de Jennie Livingston
É um filme-documentário estadunidense de 1990 dirigido e escrito por Jennie Livingston e gravado em diferentes fases da década de 1980, que segue a comunidade LGBT na cidade de Nova Iorque.
Tudo Sobre Minha Mãe (1991), de Pedro Almodóvar
No dia de seu aniversário, Esteban ganha de presente da mãe, Manuela, um ingresso para a nova montagem da peça "Um bonde chamado desejo", estrelada por Huma Rojo. Após o espetáculo, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho, ela encontra o travesti Agrado, a freira Rosa e a própria Huma Rojo.
Felizes Juntos (1998), de Wong Kar-Wai
Lai e seu namorado Ho chegam à Argentina de Hong Kong, buscando uma vida melhor. Seu relacionamento altamente controverso se torna abusivo e resulta em inúmeras brigas e reconciliações. Quando Lai faz amizade com outro homem, Chang, ele vê a inutilidade de continuar com o promíscuo Ho. Chang, porém, está na sua própria jornada pessoal e, em última instância, tanto Lai e Ho se encontram longe de casa e desesperadamente solitários.
Hedwig: Rock, Amor e Traição (2001), de John Cameron Mitchell
Hansel mora em Berlim Ocidental e sonha em se tornar um astro do rock nos EUA. Ele conhece um belo americano que lhe promete amor, liberdade e a realização dos seus sonhos, mas para isso Hansel precisará fazer uma operação de mudança de sexo.
Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz
Nas favelas do Rio da década de 1930, João Francisco dos Santos é várias coisas - filho de escravos, ex-presidiário, bandido, homossexual e patriarca de um bando de párias. João se expressa no palco de um cabaré como o travesti Madame Satã.
A Fabulosa História do Cinema Queer (2006), de Lesli Klainberg e Lisa Ades
Reflexivo e bem-humorado, esse filme faz uma retrospectiva sobre a temática homossexual no cinema (principalmente independente) norte-americano e sobre como, ao longo de seis décadas, o tema foi se liberando no cinema. Desde o início, quando o assunto era mostrado como algo proibido ou uma doença, até os dias de hoje, sendo aceito e premiado.
Tomboy (2012), de Céline Sciamma
Laurie, uma menina de 10 anos com dificuldades de socializar, se faz passar por garoto para fazer amizade com as crianças da vizinhança, mas sua crescente conexão com a amiga Lisa acaba gerando uma crise de identidade.
Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda
Paulete, a estrela de um ousado grupo de teatro, recebe a visita de seu cunhado militar, o jovem Fininha. Surge um tórrido relacionamento entre os dois, e agora o soldado precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura.
Carol (2016), de Todd Haynes
Therese Belivet tem um emprego entediante em uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece Carol, uma elegante e misteriosa cliente. Rapidamente, as duas mulheres desenvolvem um vínculo amoroso que terá consequências sérias.
Moonlight: Sob a Luz do Luar (2017), de Barry Jenkins
Black trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.
E olha só que legal: como a escola mais engajada de São Paulo, o Instituto de Cinema oferece em novembro o CINEMA QUEER: NO BRASIL E NO MUNDO, com Lufe Steffen e Bruno Carmelo, que apresenta um percurso do cinema queer, desde seus primeiros passos até o pleno desenvolvimento do conceito “queer” e de suas principais obras.
Um estudo simultâneo dos filmes pioneiros na cinematografia brasileira e mundial, destacando a recepção e evolução da imagem de indivíduos LGBTQI+, com o objetivo de compreender as principais correntes estéticas e políticas dentro do cinema queer, comparando o caso brasileiro com o cenário de países e cinematografias mais consolidadas. Matricule-se em nosso site.
Por Mariana R. Marques