Instituto de Cinema de SP

Confira o que rolou na palestra do DAFB aqui no InC em março

Em março o InC recebeu as fundadoras do DAFB para uma palestra sobre mulheres no mercado cinematográfico, sobretudo na Direção de Fotografia.


DAFB é um Coletivo de Diretoras de Fotografia do Brasil, que surgiu da necessidade de inserir mulheres no mercado audiovisual. As fundadoras Karla da Costa, Joyce Prado e Tais Nardi contam que o estopim para a criação do coletivo se deu em setembro de 2016, quando uma importante produtora nacional criou uma lista da Nova Cara da Direção de Fotografia no Brasil, na qual apareciam apenas nomes de homens brancos. Essa foi a gota d\'água, e algumas diretoras que já estavam em busca de formar o coletivo escreveram uma carta para a produtora afirmando a existência de diretoras de fotografia, já que a justificativa foi não ter encontrado nenhuma.


Então, em 2016 surge o DAFB, que não é só formado por diretoras de fotografia, mas também por mulheres de todas as áreas que envolvem essa equipe, como elétrica, maquinária e assistente de câmera. Hoje contam com mais de 150 mulheres cis e trans e homens trans.


Todas pontuaram algumas vezes durante a palestra que o DAFB é um ambiente de acolhimento, onde existe muita troca não só para crescimento profissional, mas também pessoal. Por suas falas é possível perceber que o coletivo preza por dar voz às mulheres que se sentem caladas. Assim, forma um ambiente de troca de anseios, medos, alegrias, frustrações e sucessos; as mulheres passam a não se sentirem mais sozinhas, pois percebem que compartilham dos mesmos sentimentos.


Como dito também durante a palestra, é um lugar com mulheres abertas a ouvirem outras mulheres que precisam de ajuda. Dão força para que se coloquem no mercado de trabalho e se afirmem como profissionais. O medo de se afirmar enquanto diretora de fotografia é algo que compartilham muitas vezes. Um sentimento vindo de experiências em um ambiente muito machista. Karla da Costa disse: “Passei por muitos momentos em que eu trabalhava só com homens e não existia uma troca, não existia um espaço pra gente poder falar, pra gente poder se colocar”.


Isso se torna evidente quando expõem um balanço feito pela ANCINE em 2017 que mostra a relação das mulheres no mercado. Veja alguns dos dados: de 2.583 títulos analisados em Direção, apenas 17% é dirigido por mulheres. Na Produção Executiva, uma área que historicamente “permite” mais mulheres, temos 41%. E com extrema importância para o coletivo, entre os 1.695 filmes analisados para Direção de Fotografia, apenas 8% representa mulheres. A diferença é gritante. Isso porque a ANCINE analisou a questão de gênero, mas esses dados tornam o cinema ainda mais segregado quando pensada a questão racial.


Como as próprias fundadoras pontuaram, o cinema é um meio muito elitista e machista, que se tornou cada vez mais opressor. Alguns relatos delas mesmas nos mostram como isso é real, como uma delas ao dizer que chegou a usar roupas mais largas quando havia gravação para evitar comentários desconfortáveis. Segundo os relatos, isso vai ainda mais longe; os homens conseguem dinheiro para o orçamento do filme muito mais fácil do que as mulheres, além de alugar equipamentos para a produção ser mais simples também.


Joyce Prado diz, “toda vez que você não tem possibilidade de exercer uma função ou de mudar, ou de transitar em diferentes funções, não tem possibilidade de exercitar nem olhar, nem técnica”, e a existência do DAFB está aí. A vontade e necessidade de proporcionar às mulheres a compreensão de seu olhar para desenvolverem conceitos e percepções. Isso somado à troca que acontece, dá força para que possam se colocar e afirmar enquanto profissionais. Buscam colocar mulheres numa horizontalidade dentro do mercado, para que todas possam trabalhar.


Perguntadas sobre se existe melhora no set hoje em dia, Tais pontua que não são os sets que melhoraram, mas as mulheres que se colocam e exigem mais respeito, e com isso, vão adquirindo espaço e importância no mercado. “A diferença tá mais na gente”, diz. Aliás, outra pergunta que surge é justamente sobre como entrar no mercado de trabalho, e é muito legal vê-las incentivando essas mulheres a saírem na rua, irem atrás e serem vistas.


Karla, Joyce e Tais são mulheres com trajetórias diferentes e incríveis. Cada uma a sua forma hoje trabalha e se reconhece como diretora de fotografia, o que segundo elas mesmas veio da força que o DAFB dá. A palestra enalteceu a necessidade de mulheres no mercado de trabalho e do quanto é preciso que ganhem força para encará-lo.


O DAFB promove ações de inserção, como workshops, onde o processo seletivo busca dar prioridade para mulheres periféricas, negras e trans. Mas é aberto a todas.


Para se inscrever no site, é só ir até a página no facebook e seguir o link de inscrição, os únicos requisitos são ser mulher (cis ou trans) ou homens trans, e estar envolvida com uma das áreas da fotografia. Lá você vai contar um pouco de sua história e aprovada, já fará parte da rede do DAFB.  


Sobre o DAFB


Somos um coletivo de mulheres (cis e transgênero) e homens transgêneros que compõem as equipes de Direção de Fotografia do audiovisual no Brasil, criado para organizar xs profissionais do mercado e fortalecer e estimular a nossa participação nesse segmento.


Convidamos todas as mulheres que trabalham em equipes de Fotografia, indiferente da função, a se somarem a nós. Com esse coletivo pretendemos discutir a questão da inserção feminina no mercado audiovisual, trabalhar medidas que promovam essa inserção e disponibilizar os portfólios e contatos das profissionais que atuam no mercado audiovisual brasileiro.


Por Mariana R. Marques

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