CRÍTICA | Adoráveis Mulheres
“Mulheres, elas têm mentes e elas têm almas, além de só coração. E elas têm ambição e elas têm talento, além de apenas beleza. E eu estou tão cansada das pessoas dizerem que é só para o amor que uma mulher serve. Tão cansada.”, desabafa Jo March (Saoirse Ronan), protagonista do filme Adoráveis Mulheres (Little Women), dirigido por Greta Gerwig, indicado a seis Oscars, incluindo Melhor Filme.
O longa-metragem narra a história das irmãs Jo, Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh) enquanto amadurecem e enfrentam dilemas da vida adulta, como a falta de dinheiro e oportunidades, logo após a Guerra Civil americana. O roteiro, baseado no livro Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, explora suas personalidades, completamente diferentes uma das outras, à medida em que elas tentam permanecer unidas pelo amor que nutrem entre si.
Além de melhor filme, Adoráveis Mulheres concorre também nas categorias de melhor roteiro adaptado, trilha sonora original, melhor atriz (para Saoirse Ronan), melhor atriz coadjuvante (para Florence Pugh) e melhor figurino. Além das indicadas ao Oscar, o desempenho de todo elenco é admirável, com destaque para Laura Dern e Meryl Streep, as mentoras das irmãs - que, por um lado lhe ensinam a generosidade e abnegação, e por outro as normas sociais e exigências que uma mulher deve atender para que “case bem” e possa ter um futuro.
A protagonista, Jo, por sua vez discorda dos ensinamentos da tia March (Meryl Streep). Ela é uma mulher que incansavelmente deseja trilhar seu próprio caminho. Cheia de talento, ela escreve histórias que não consegue vender devido às exigências do mercado editorial da época, nem um pouco favorável para mulheres escritoras, ainda mais escritoras que pensavam e agiam como Jo. “Se a protagonista for mulher, é bom que se case no final” diz um personagem em determinado momento. E o filme, de maneira muito inteligente e irônica, responde à altura e corrompe essa imposição, quando casa - ou talvez não - sua protagonista.
A responsável pela adaptação, Greta Gerwig é atriz, diretora e roteirista, conhecida principalmente por seus papéis em Frances Ha e Para Roma com Amor e por sua direção em Lady Bird, agora deixa sua marca em Hollywood com a realização de Adoráveis Mulheres. Greta foi a 5ª mulher indicada ao Oscar de melhor direção (por Lady Bird), e este ano concorre pelo roteiro adaptado. Enfática, ela diz que pretende testemunhar uma mudança de paradigma nas estruturas de poder em Hollywood, “Favorecer as mulheres provoca um curto-circuito em algumas das estruturas de poder que têm sido opressoras para muitas pessoas”, afirma.
Entretanto, a sua não indicação ao Oscar de melhor direção levantou questões sobre o machismo que ainda persiste numa indústria dominada por homens, nenhuma mulher foi indicada na categoria. Para a diretora, a parte mais difícil de ser mulher nesta indústria é convencer os outros de que vale a pena produzir histórias sobre mulheres. “As histórias das mulheres são comerciais, elas não são de nicho. E podem alcançar um grande público, muitas pessoas podem vê-las”.
Agora, Greta entrega um filme que é fiel ao texto original, mas dá a ele um tratamento e força que conversa com as pautas de emancipação feminina que estão em evidência ultimamente. No enredo, é clara a escolha da diretora em evidenciar as relações femininas, entre as irmãs e sua mãe e tia, em detrimento ao lugar comum dos romances e casamentos. Com esse filme Greta afirma com todas as letras que, independentemente dos homens em suas vidas, as irmãs March por si só valem uma bela narrativa.
Por Isabella Thebas