Instituto de Cinema de SP

Crítica | Dois Papas

Dirigido por Fernando Meirelles, o filme Dois Papas, que concorre ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, é um drama ficcional baseado na obra “O Papa”, de Anthony McCarten. Seu enredo trata de um momento conturbado da Igreja católica quando, após o surgimento de diversos escândalos envolvendo a instituição, o Papa Bento XVI anunciou sua renúncia do cargo.


A partir de uma simples conversa, os dois personagens principais, Bento XVI e o futuro Papa Francisco, discutem os rumos do catolicismo, a política contemporânea, as consequências de regimes autoritários, filosofia e dogmas, e também suas próprias afeições e personalidades. Esse dispositivo tão simples revela um trabalho de roteiro que, apesar de ter alguns momentos expositivos - talvez resultantes justamente da tentativa de falar sobre tantos assuntos -, é extremamente coeso, transitando entre os tópicos sem nunca se perder.


Também é importante ressaltar o trabalho de direção e atuação que, além de amarrarem o roteiro como um todo, constroem uma mise en scène capaz de criar empatia por ambos os personagens, independente de suas grandes diferenças. O retrato feito desses homens, portanto, levanta questões. Se, por um lado o filme mantém o encanto e a imagem que temos do Papa Francisco, a figura apresentada de Bento XVI é conflitante com aquilo que conhecemos de Joseph Ratzinger.


Dentro do enredo são minimizados os escândalos que envolvem a Igreja para dar lugar à construção da relação entre os personagens. À Ratzinger são atribuídos momentos de arrependimento, abnegação e perdão, humanizando sua figura impopular e reacionária e proporcionando uma justificativa inocente para sua renúncia. Renúncia essa que irrefutavelmente serviu para abafar a crise que expôs importantes figuras do Vaticano.


O longa, portanto, não tem em si um compromisso com a verdade, mas sim com a história fictícia que se dispôs a contar. Seu grande mérito está justamente nos personagens esculpidos pelo roteiro que, pelas adversidades entre eles, se torna capaz de apresentar diferentes perspectivas sobre as mesmas questões. A opção de Fernando Meirelles pela ficção se torna clara em diversos aspectos da construção fílmica. O diretor utiliza cortes rápidos, sugerindo um certo dinamismo que o aproxima da publicidade, sua trilha sonora inusitada constantemente quebra expectativas, enquanto a fotografia super iluminada chama atenção o tempo todo, inclusive aparentando uma estética forçada por vezes. 


 


Por Isabella Thebas

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