Instituto de Cinema de SP

Crítica | Dor e Glória

Lançado no ano de 2019 e dirigido pelo espanhol Pedro Almodóvar, Dor e Glória é o 21º filme do diretor, onde conta uma de suas histórias mais intimistas. Ambientado na Espanha, em cidades como Valência e Madrid, o filme recebeu inúmeras indicações ao redor do mundo, como o Oscar de Melhor Ator (pela interpretação de Antonio Banderas) e a Palma de Ouro em Cannes, sendo também reconhecido e premiado em dezenas de premiações e importantes festivais, como o Prêmio Goya de Melhor Filme em 2020 (ocasião onde ainda levou mais 6 estatuetas).


A trama narra a história de Salvador Mallo (Antonio Banderas), um diretor de cinema que parou sua carreira por sentir muitas dores. Com o corpo debilitado e a carreira, outrora brilhante, em declínio, Salvador se encontra em uma luta contra a depressão e a falta de motivação. Um dia, sua vida parece ganhar um novo ar devido a um futuro evento em homenagem a um de seus mais famosos filmes. Porém, o momento de glória acaba reacendendo traumas do passado, e ele decide então rever o ator principal de seu antigo filme, Alberto Crespo (Asier Etxeandia), com quem Salvador havia cortado contato 32 anos antes.


A princípio, os dois apresentam desconforto e dificuldade em reatar o relacionamento, mas aos poucos, a antiga amizade reaparece. E, com isso, Salvador também ganha novos vícios, e então o uso de heroína passa a se tornar parte de sua rotina, anestesiando Salvador de suas dores do presente, e fazendo-o se perder em devaneios do passado.


Antonio Banderas rouba a cena através de sua interpretação. A entrega do ator é evidente em cada cena, e torna o filme cada vez mais interessante com o passar das sequências, nos aproximando da trama conforme descobrimos mais sobre o passado de Salvador. O resto do elenco não fica pra trás, e as cenas de interação entre os personagens de Banderas e Etxeandia são vivas e autênticas. Em suas memórias, somos apresentados à Jacinta Mallo, mãe de Salvador, interpretada por Penélope Cruz. A história de Jacinta e Salvador é sempre interessante, e o relacionamento dos dois é desenvolvido de maneira natural, gerando ótimas cenas, inteligentemente montadas pelo roteiro de Almodóvar.


O longa-metragem funciona quase como uma autobiografia: Salvador é o alter-ego de Pedro Almodóvar, com seus cabelos arrepiados, roupas coloridas e momentos introspectivos. Até mesmo o apartamento do personagem de Antonio Banderas é inspirado e decorado como o do cineasta. No enredo, o diretor conta mais sobre suas origens, seus traumas, seus primeiros desejos e descobertas, tudo magistralmente traduzido através da atuação de Banderas.


Dor e Glória é um filme que nos faz conhecer a fundo seu diretor. E além dessa narrativa íntima, contada através de imagens belíssimas e um texto emocional ainda que discreto, Almodóvar ainda faz uso da metalinguagem ao nos contar sobre o peso do tempo e o envelhecimento, além das inúmeras dificuldades de se enfrentar o presente.


 


Por Pedro Dourado.

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