CRÍTICA | Inacreditável
Com roteiro baseado no livro “Falsa acusação: Uma história verdadeira”, a minissérie aborda um tema pesado, impactante, porém necessário de ser discutido. Em 2019 batemos o recorde no índice de violência sexual no Brasil, a cada quatro horas uma menina de até 13 anos é vítima.
A minissérie conta a história de Marie (Kaitlyn Dever), uma jovem que viveu a vida toda em lares adotivos, sendo jogada de um lugar para outro, o tempo todo e sem explicações, além de ser afastada de seus irmãos.
A jovem é vítima de estupro dentro de sua própria casa em Lynwood e ao decidir denunciar, tendo que repetir várias vezes o depoimento sobre o abuso, é levada à exaustão. A pressão psicológica somada ao trauma traz divergências a cada interrogatório, fato esse que leva Marie a ser desacreditada pela própria mãe adotiva e consequentemente pelos investigadores da polícia local, tendo como resposta daqueles que deveriam ajudá-la, uma multa por falsa acusação - A série nos lembra do sistema falho em que vivemos, onde vítimas que denunciam não obtém justiça, apenas o sentimento de impotência, vergonha e humilhação.
Logo em seu segundo episódio, vemos uma passagem de três anos onde a minissérie muda totalmente seu tom para uma narrativa mais empoderada e empática com a introdução de Toni Collete (Pequena Miss Sunshine) e Merritt Wever (Nurse Jackie) como investigadoras responsáveis por casos semelhantes, ganhando os holofotes através de uma abordagem mais sensível, o que deixa ainda mais clara a diferença do tratamento humilhante recebido por Marie.
As investigadoras começam a suspeitar que diante a uma onda de tantos casos, esconde-se um estuprador em série. Em todos eles, o modus operandi do criminoso é o mesmo: não há um esteriótipo entre suas vítimas, que têm suas casas invadidas e são violentadas sexualmente. A tortura continua através de fotografias, conversas rasas e cinismo. Não se sentindo satisfeito, o abusador faz com que elas tomem banho para não deixar nenhum rastro, evitando a possibilidade de ser descoberto.
Depois de incansáveis buscas, e em cada caso entender como vítimas de um mesmo crime podem demonstrar de formas diferentes seu sofrimento, as investigadoras finalmente chegam ao criminoso, solucionando assim, indiretamente, o caso de Marie. Dessa forma a série nos mostra a empatia entre mulheres, e como nossa sociedade ainda precisa conscientizar homens em relação ao abuso e feminicídio, ainda mais pelo história ser real e ter ocorrido apenas há pouco mais de uma década.
Apesar do tema doloroso, Inacreditável não exagera em seu drama, além de trazer uma série bem construída, incentivando o espectador a tentar solucionar o caso por conta própria, além de envolvê-lo totalmente, desejando um final digno. E, de fato, é gratificante.
Por Larissa Stubbe