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CRÍTICA | Mulan

Magia, bruxaria, poderes e habilidades envolvendo o chi? O novo filme sobre a história da adorada guerreira que salvou a China veio acrescentado de novos, e inesperados, elementos. Depois de muita espera, o live action de Mulan finalmente foi lançado no dia 4 de dezembro, exclusivamente na nova plataforma de streaming da Disney, o Disney Plus.


Dirigido por Niki Caro, para que o filme possa ser bem aproveitado, é preciso encará-lo como um novo olhar sobre a lenda da guerreira Mulan, e não como um remake ou apenas uma versão live action daquela animação já tão conhecida. 


Apesar de alguns elementos terem sido alterados, a premissa do filme é a mesma. Acompanhamos Hua Mulan (Yifei Liu), filha de um honrado guerreiro, ao assumir o lugar de seu pai para servir ao exército imperial quando se encontram sob ataque de invasores liderados por Böri Khan (Jason Scott Lee). Assim, a jovem se infiltra no acampamento dos soldados assumindo a identidade de Hua Jun, treinando e lutando a ponto de se tornar sua melhor guerreira.


Um dos pontos centrais da trama é justamente a honra, assim como na animação, e uma questão bastante importante para a cultura chinesa. Como mulher, é esperado que Mulan traga honra à família através do casamento, sendo sempre silenciada e devendo conter suas habilidades com o seu chi. No acampamento, isso vem novamente à tona quando todos são ensinados os três pilares da virtude que devem ser seguidos, e que estão gravados até mesmo na espada da família Hua: lealdade, coragem e verdade.


Apesar de depois de um tempo Mulan conseguir se adaptar ao acampamento e a rotina com seus companheiros, a jovem guerreira tem dificuldade em manter sua própria mentira, justamente por estar violando esse terceiro alicerce tão importante para a honra de todos.


Além da premissa, o arco da trama também não é desconhecido do espectador, envolvendo um tema e tom de silenciamento e posterior empoderamento de personagens femininas icônicas. Tal fórmula foi aplicada também ao recente live action de Aladdin, que trouxe uma motivação e ambição política à princesa Jasmine, antes inexistente na clássica animação e que inovou na abordagem Disney sobre esses assuntos, além de atualizar histórias tão marcantes.


Em Mulan, porém, essa questão parece ter sido trabalhada de uma forma que beira o superficial, especialmente em razão do roteiro excessivamente expositivo. Infelizmente, isso fez com que o potencial de grandes atores e cenas que poderiam ser ainda mais emocionantes não fossem bem apresentados.


Além disso, enquanto novos elementos foram adicionados, personagens da animação ficaram de fora, mas isso não afeta a experiência ou compreensão da trama em si. Pelo contrário, o querido personagem “Grili”, por exemplo, foi personificado em um novo, desastrado e muito carismático soldado.


Vale mencionar, ainda, que a história que parece ser sobre a batalha entre homens, é na verdade uma batalha entre duas mulheres fortes e poderosas que são excluídas e obrigadas a esconder suas habilidades, lutando por um lugar na sociedade. Assim foi introduzida a nova personagem Xianniang (Gong Li), outra poderosa mulher, mas que se vê obrigada a lutar do lado dos vilões para deixar de viver à margem da sociedade. Nesse ponto, a referência à águia de estimação do vilão da animação Shan-Yu foi explorada de uma forma interessante, o que traz ao espectador a sensação de conexão entre as histórias.


No geral, Mulan tem pontos fortes e fracos, com uma beleza que valeu o investimento de 200 milhões de dólares, mas deixou a desejar especialmente pelo roteiro e falta de profundidade na nova abordagem dessa lenda.


 


 


Por Ana Clara P.S.M.O.

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