CRÍTICA | Não Provoque
Um dos mais recentes títulos disponíveis no catálogo Netflix, "Não Provoque" (Dare Me, no original) foi, na verdade, exibida nos Estados Unidos entre o final de 2019 e o começo deste ano. Trata-se de uma adaptação do livro homônimo da autora Megan Abbott, de 2012, da qual a Netflix detém os direitos de distribuição fora dos EUA, além de ser coprodutora. A adaptação foi idealizada pela própria Megan e contou com nomes como Gina Fattore (Gilmore Girls) na produção e Peter Berg (Friday Night Lights) na direção.
Ao contrário do que parece, Não Provoque está longe de ser uma típica série adolescente de líderes de torcida. Assim, apesar dos treinos, coreografias e da jornada da equipe para chegar às competições Regionais, a trama foca nas relações entre as três personagens principais, suas dinâmicas pessoais e as consequências de uma amizade levada ao extremo.
Com o esporte de pano de fundo para os acontecimentos, acompanhamos as vidas de Beth (Marlo Kelly) e Addy (Herizen Guardiola), melhores amigas numa relação cuja dinâmica é única e por vezes tóxica, com Beth liderando Addy e outras meninas à espiral de autodestruição adolescente.
Beth é a capitã do time de líderes de torcida do qual Addy também faz parte e aguarda ansiosamente pela chegada na nova treinadora, Colette French (Willa Fitzgerald). Colette tem a fama de levar todas as equipes que treina para as competições Regionais, o que, de cara, deixa Addy entusiasmada, já que sonha em alavancar na carreira para sair da cidade. Porém, os métodos da nova treinadora não agradam Beth, gerando um atrito na amizade das duas logo no primeiro episódio, contando até mesmo com armas apontadas, o que denota o tom mais sombrio da série em comparação ao que aparenta ser.
Em geral, mais do que as pressões e competitividade do próprio esporte, como é mostrado em Cheer, Não Provoque explora as pressões externas decorrentes da vida pessoal de cada personagem aplicadas na dinâmica em equipe, e é isso que cria o clima de tensão e pressão dentro da história e dos ginásios.
Para gerar ainda mais conflito à dinâmica das relações, no final do primeiro episódio Beth e Addy se deparam com um segredo da mais nova treinadora e, ao passo em que Beth quer expor a descoberta, Addy faz de tudo para protegê-la.
A escolha narrativa do roteiro ainda conta com um grande mistério envolvendo a morte de um dos personagens, revelado pouco a pouco conforme o passar dos episódios, literalmente provocando o espectador a “ligar os pontos” e tentar desvendar o que aconteceu. Mais uma vez, o tom sombrio e dark da história é realçado e colocado em destaque com as narrações de Addy no começo de cada episódio.
Contando com personagens tão complexas quanto a trama, o que dá maior credibilidade para a relação entre elas ser tão complicada, a série conta com os principais elementos para ser sucesso entre o público jovem, desde a amizade entre as personagens principais e seus conflitos, até a existência de um crime.
Ainda não há confirmação de uma 2ª temporada, pois, além do atual cenário mundial causado pela pandemia do coronavírus e suas implicações na indústria audiovisual, a Netflix é coprodutora da série e detém seus direitos de distribuição para fora dos Estados Unidos. Dessa forma, apesar de ter sido bem recebida pela crítica, com uma aprovação de 83% no Rotten Tomatoes, sabemos que o streaming costuma aguardar algumas semanas em razão de sua análise interna para avaliar e finalmente fazer um anúncio.
Enquanto ficamos na torcida pela renovação da série, não deixe de conferir sua primeira temporada já disponível na Netflix!
Por Ana Clara P.S.M.O.