Instituto de Cinema de SP

CRÍTICA | O Homem Invisível

Em 2006, a Universal Pictures deu início a um projeto que consistia em adaptar, mais uma vez, o livro de H.G. Wells, “O Homem Invisível”, escrito em 1897. Entretanto, o projeto não recebeu o aval da produtora na época, e logo foi engavetado. Uma década mais tarde, a Universal tomou a decisão de criar um universo cinematográfico compartilhado, contando com a participação de diversos monstros clássicos, entre eles o Homem Invisível, com Johnny Depp sendo cotado para estrelar o filme.


Porém, com o fracasso crítico e financeiro de A Múmia em 2017, o longa foi deixado de lado novamente. Até que, no início de 2019, o estúdio decidiu mudar seus planos de um universo compartilhado para filmes com histórias individualizadas, iniciando assim a produção do longa-metragem. Com direção e roteiro de Leigh Whannell, o filme seguiu um caminho original, decidindo abordar temáticas atuais, como efeitos de traumas e histórias de abuso, tendo suas gravações realizadas entre julho a setembro de 2019.


O filme, lançado em fevereiro de 2020, conta a história de Cecilia Kass (Elisabeth Moss), uma mulher atormentada pelo marido abusivo Adrian (Oliver Jackson-Cohen), um rico cientista especializado na área da óptica. Esgotada, Cecilia decide então fugir da mansão de Adrian, escapando com a ajuda da irmã, Emily (Harriet Dyer). Duas semanas após a fuga, Cecilia, que passa a morar casa de seu amigo James (Aldis Hodge), recebe do irmão de Adrian a notícia de que o cientista havia morrido após uma tentativa de suicídio, e deixou em seu testamento o valor de US$5 milhões no nome da ex-esposa.


Cecilia então vê sua vida mudada, e onde antes havia medo pela possibilidade de ver Adrian, passou a existir alívio e um sentimento de recomeço. Porém, após alguns dias passados na casa de James, Cecilia começa a presenciar estranhos e assustadores acontecimentos, o que a leva a crer que Adrian havia conseguido alcançar uma forma de atormentá-la, mesmo após a morte.


O longa de Leigh Whannell se diferencia de diversas outras versões por abordar, acertadamente, temas importantes e atuais, mostrando também uma nova perspectiva: a da vítima do tal monstro invisível. Temos aqui uma revitalização de temas e histórias quase saturadas no cinema (de 1897 pra cá, já foram feitas 8 adaptações para as telonas). E a premissa ganha ainda mais força através da interpretação de Elisabeth Moss, que demonstra em cena todo o sofrimento e exaustão de Cecilia, mostrando também toda sua força e determinação em acabar de uma vez por todas com os maus tratos sofridos pela personagem. A atriz é quem dita o ritmo da trama, nos levando com verdade através da narrativa.


Fora o elenco, outro destaque na produção são as sequências de suspense do filme. Bem preparadas pelo roteiro, a tensão toma gradativamente as cenas dentro da casa, e muitas vezes somos pegos desprevenidos por criativas situações, que mesmo muitas vezes esperadas, conseguem nos prender na expectativa de sabermos se a personagem irá se reerguer e reagir. As cenas de suspense ainda contam com uma trilha agressiva, um acompanhamento que casa bem aos momentos de ação que se seguem, funcionando de maneira muito eficiente para nos prender à trama.


O único ponto da produção que pode deixar a desejar é o desenrolar do último ato. Um pouco corrido demais, as sequências nesse ponto da narrativa acabam tomando um repentino foco para a ação, deixando um pouco de lado a construção de suspense e as cenas criativas antes apresentadas. Porém, os erros não são o bastante para chegar a prejudicar muito a história no geral, essa que, por ser praticamente episódica, acaba funcionando sozinha, sem deixar a relevância de seus assuntos de lado em nenhum momento, e ainda trazendo um estilo próprio totalmente funcional (aplausos para a acertada direção de arte, que nos coloca sempre a par da construção dos personagens em cena, e também às câmeras do filme, que casam com os sentimentos de insegurança da personagem principal, trazendo muitas vezes uma criatividade a mais para a produção).


 


Por Pedro Dourado.

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