Instituto de Cinema de SP

CRÍTICA | O Milagre na Cela 7

O filme turco que é um remake de uma produção coreana de 2013, se tornou um sucesso assim que chegou no catálogo da Netflix esse ano. De extrema sensibilidade, seja com o enredo ou com a belíssima fotografia e trilha sonora dramática sempre presente, o filme está fazendo muita gente se debulhar em lágrimas abordando temas como a relação entre pai e filha, bullying e injustiça. 


A trama conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai com um distúrbio cognitivo que o faz agir como uma criança, que vive com sua filha Ova (Nisa Sofyia Aksongursa), orfã de mãe desde cedo, e sua avó Fatma (Celile Toyon Uysal), em um pequeno vilarejo. As coisas mudam drasticamente quando Memo acidentalmente testemunha a morte da filha de um tenente do exército turco. 


Ele é preso injustamente, mesmo sendo claramente inocente. Nesse ponto vemos como o poder daqueles que o condenam é utilizado apenas para saciar um falso senso de justiça - pois não existe de fato justiça quando o culpado é o próprio acaso. Sendo assim, a impotência é retratada tanto do lado de Memo, com toda sua ingenuidade, culpado por um crime não cometido, quanto pelo tenente, por usar seu poder contra alguém na tentativa de amenizar a dor da perda de sua filha.


Conforme aguarda sua sentença de morte na cela 7, Memo tem o tempo como seu inimigo também em relação a aceitação dos demais detentos, que o julgam tanto pelo crime não cometido quanto pelo seu jeito de ser. Vemos novamente uma tentativa falha de justiça, dessa vez de forma mais violenta, agressiva e até irônica,  pois vem daqueles que aguardam na mesma fila por um julgamento, e de fato tem as mãos sujas. E mesmo assim, é sem nenhum contra ataque que Memo vence seus companheiros da cela 7, ao mostrar constantemente sua essência e ingenuidade, provando que não teria capacidade de cometer tal ato. 


Agora, com apoio e compreensão dos demais, o protagonista tem cada vez mais ajuda para provar sua inocência, inclusive ao receber a visita de sua filha, Ova - o que traz um tom mais leve diante ao drama do filme, criando uma relação de amizade entre a garotinha e os prisioneiros, humanizando personagens que, mesmo com um passado de crimes, agora não são mais pintados apenas como vilões, mas como pessoas complexas, que é de fato o que todos nós somos, um misto entre boas e más escolhas.


Com abordagens que vão desde a relação entre pai e filha até críticas sociais, abuso de poder, falha no sistema carcerário e intolerância, o filme traz reflexão sobre os que detém o poder, a luta pelo direito à vida e até o questionamento sobre a vida pós prisão - o que filmes como Um Sonho de Liberdade abordam muito bem. 


O milagre, cujo título nos remete à algo religioso ou sobrenatural, acontece no final do filme de maneira surpreendente e emocionante. Em tempos difíceis, é sempre bom relembrar a esperança na humanidade e atualmente destacar que evoluímos muito em termos de conscientização! 


 


Por Larissa Stubbe

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