Instituto de Cinema de SP

CRÍTICA | Self-Made: A vida e história de Madam CJ Walker

Sarah Breedlove nasceu em 1867, em Louisiana, Estado Unidos. Trabalhou como lavadeira grande parte de sua vida, ganhando muito pouco pelo trabalho árduo e diário que fazia. Porém, deu a volta por cima e se tornou uma grande empreendedora, filantropa e ativista política e social, conhecida também por ser a primeira mulher a se tornar milionária naquele país. E foi justamente esta trajetória de superação que inspirou a nova minissérie da Netflix. 


Baseada em fatos reais, a minissérie conta com 4 episódios e retrata a história com leveza, ao mesmo tempo em que trabalha todas as temáticas com a devida seriedade. Em contraste, há alguns momentos cômicos e lúdicos, a exemplo da cena de luta em um ringue entre Madam Walker (Octavia Spencer) e sua suposta rival Addie (Carmen Ejogo) logo no início, bem como em algumas cenas de sonhos da Madam, com direito a números musicais enquanto pensa no futuro de sua empresa de produtos para cabelo, que tem como público alvo as mulheres negras. 


Na obra, conhecemos Sarah trabalhando como lavadeira, em um casamento infeliz e violento, e sem tempo para cuidar de seu cabelo, que está caindo. Addie, então, bate em sua porta na esperança de vender um produto capilar e a ajuda. Alguns anos depois, Sarah tem um novo marido, C.J. Walker (Blair Underwood), seu cabelo está novamente saudável e acredita ter uma amizade verdadeira com Addie. Esta expectativa de amizade, contudo, é frustrada quando Sarah pede um emprego como vendedora e Addie recusa, a ofendendo e dizendo que Sarah não possui a “aparência certa”. Determinada a seguir seus instintos e fazer aquilo que acredita ter um futuro promissor, Sarah conta com a ajuda de seu marido e filha, Lelia (Tiffany Haddish), para criar e expandir sua própria linha de produtos para cabelo.


Apesar de ter se inspirado na história de vida da Madam Walker, o roteiro pecou em criar a rivalidade mencionada, uma vez que, no início de sua jornada, na verdade, Annie Malone - que se acredita ter sido inspiração para a personagem Addie - a contratou como vendedora. É certo que, após Sarah dar início à fabricação de seus próprios produtos, houve uma rixa entre as duas, mas nada que justifique a abordagem na série que, no fim, apenas serviu de motivação para uma personagem icônica como Madam Walker, que já tinha todas as motivações necessárias em sua vida real.


Ainda sobre o roteiro, este merece destaque na abordagem da diferença entre homens e mulheres. Trabalhado na medida certa para expor as questões de época, mas ainda provocar o espectador a refletir sobre os tempos atuais, as dificuldades de Madam Walker como mulher negra tentando criar uma empresa nos anos 1900, ainda, e infelizmente, estão muito presentes nos dias de hoje. Mesmo assim, contra todos os obstáculos, inclusive seu próprio marido, que não suportava a ideia de que a esposa se dedicasse mais ao trabalho do que à ele e sua casa, Madam Walker conseguiu fazer seus sonhos se tornarem realidade, tornando-se, ela própria, um símbolo e inspiração para muitas outras mulheres.


Diversas outras questões extremamente relevantes são apresentadas, como a padronização da beleza feminina, a dedicação da mulher à vida profissional, homossexualidade e racismo, tornando a obra atemporal, ao mesmo tempo em que enriquecem a história e denunciam a dura realidade para o espectador.


Além disso, considerando ser uma minissérie sobre a construção de um império de produtos para cabelo, é de se esperar que a equipe de cabelo e maquiagem fosse impecável, e realmente foi, assim como o figurino, ambos merecendo destaque. 


No geral, a obra é divertida e tem como personagem principal uma figura relevantíssima, cuja história ilustra bem as palavras da ativista Angela Davis, “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.


Vale a pena conferir para conhecer, mas sem se apegar demais aos detalhes da narrativa.  


 


Por Ana Clara P.S.M.O

voltar
Fale Conosco Ícone branco transparente WhatsApp