Instituto de Cinema de SP

CRÍTICA | Soul

Tem uma história sobre um peixe. Esse peixe foi até um ancião e disse: “Tô procurando um negócio. Um tal Oceano”. “O oceano?”, o ancião falou. “Você está no oceano”. “Isso?”, disse o peixinho. “Isso aqui é água. O que eu quero é o Oceano”.


E tem uma outra história, sobre um tal de Joe. O Joe era um cara que sonhava em seguir a sua paixão pela música, mas, antes mesmo que pudesse perceber, sofreu um acidente, e se deparou com o além-vida em seu caminho. E é essa a história que conta o novo filme da Pixar, Soul, dirigido por Pete Docter (Divertida Mente e Up - Altas Aventuras), e recentemente lançado na plataforma de streaming Disney+.


Como já é de se esperar quando vemos a clássica vinheta da Pixar rolar, Soul é um filme que busca significados profundos, enquanto reflete sobre o mundo e as pessoas, e impressiona com uma qualidade técnica estonteante. Por que estamos aqui? Por qual motivo viemos a esse mundo? O que faz de nós… nós? São essas as - simples - perguntas que essa tocante animação se propõe a responder.


Seguindo essas diretrizes, o longa-metragem faz uma delicada e inspiradora reflexão sobre a vida, nossos prazeres, propósitos, paixões e compulsões. Sobre o valor que encontramos apenas nas “pequenas coisas”, mas que, na verdade, escondem os significados mais autênticos. Tudo isso embalado por um desenho animado com uma qualidade estética que eleva nossas expectativas sobre essa arte, que se supera a cada ano, impressionando cada vez mais.


A fotografia e a trilha sonora trabalham juntas para construir uma atmosfera hipnotizante, seja durante as aventuras do nosso personagem em outros planos, com paisagens tranquilas, luminosas e uma musicalidade neutra, composta por instrumentos sintéticos, ou no glamour metálico, contrastado e vibrante das cenas onde o jazz marca sua presença. E nesses cenários, a animação se dedica a detalhes minuciosos, cada gota de suor e fio de cabelo só faz crescer a admiração pelo estúdio e seus profissionais, que sempre ultrapassam seus limites, entregando obras fascinantes.


O roteiro do filme, por sua vez, acaba deixando a desejar, com uma evolução simples e uma resolução fácil, algumas vezes previsível. Mas, mesmo assim, reserva seu mérito por nos colocar questões que extrapolam os limites da tela, e inspirar verdadeiramente o público ao longo de pouco menos de duas horas, quando nos compadecemos e nos identificamos com a saga do protagonista professor de jazz.


Joe é um cara que sente que se morresse naquele momento, sua vida não teria valido, estaria incompleta e sem qualquer significado. Mas, em sua jornada, descobre que procurava tal valor no lugar errado. Em coisas grandiosas e um propósito maior, enquanto ele estava, na verdade, muito mais perto do que imaginava. O sorriso de uma mãe, o abraço de um pai, o ar fresco batendo no rosto, um raio de sol que cruza o céu para aquecer a vida, na emoção de se viver a cada oportunidade de maravilha.


 


Por Isabella Thebas.

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