Instituto de Cinema de SP

CRÍTICA | The Old Guard

A Netflix vem investindo pesado em grandes produções nesses últimos anos. Blockbusters que costumamos assistir nos cinemas, como Resgate e Esquadrão 6, se destacaram nesse ano, se tornando grandes apostas da gigante do streaming. Mesmo que muitos desses filmes tragam narrativas fracas ou até esquecíveis, não podemos dizer o mesmo das cenas de ação bem coreografadas, com estruturas incríveis e cenários absurdos.


Nesta nova super produção, que segue o mesmo estilo das já citadas, vemos mais uma vez a vencedora do Oscar Charlize Theron em um longa-metragem de ação, com o diferencial desta vez sendo a narrativa linear de filmes de guerra dando lugar a um universo cheio de fantasia e mistério. The Old Guard é um filme baseado na Hq de mesmo nome escrita por Greg Rucka, que também assina o roteiro do filme.


A direção do longa fica por conta de Gina Prince-Bythewood, conhecida pelo filme A Vida Secreta das Abelhas, que dirigiu em 2008. Com The Old Guard, Gina Prince-Bythewood se torna a primeira mulher negra a dirigir um filme baseado em histórias em quadrinhos. Aqui, ela decide encarar um novo desafio em sua carreira: trazer sua visão para o gênero de filmes de ação através de complexas cenas de batalha, que se tornam uma das principais forças do longa.


O filme conta a história de um grupo de mercenários que, por um motivo desconhecido, se tornaram imortais. Eles são liderados por Andy (Charlize Theron), e há séculos participam de batalhas em prol da humanidade, sempre mantendo sigilo para não serem descobertos. Ao aceitarem uma missão no Marrocos, o grupo acaba caindo em uma armadilha, e suas extraordinárias habilidades são descobertas. Agora, cabe a Andy e à recém-chegada Nile (Kiki Layne), impedir que seus companheiros sejam capturados e se tornem ratos de laboratório para uma empresa farmacêutica.


A trama funciona de forma a nos introduzir nesse universo fantasioso, onde algumas pessoas se tornaram, em algum momento da história, incapazes de envelhecer e até de permanecer mortas. A personagem de Charlize Theron, Andy, é a imortal mais velha do grupo, com uma idade tão avançada que se tornou incapaz de lembrá-la com precisão. O problema é que por ter vivido tantos séculos sem envelhecer, ela presenciou o declínio da humanidade, acompanhando batalhas sem fim e guerras cada vez piores. E é por isso que, quando chamada para uma nova missão, Andy reluta tanto para aceitá-la.


Todo o grupo de mercenários sofre com o mesmo mal: assistir seus entes e amigos queridos envelhecerem e, eventualmente, morrerem. Por isso, o grupo possui uma unidade incomparável, aliando-se uns aos outros, os únicos que seguirão juntos pela eternidade. Mas essa união é colocada em risco com a chegada de Nile (Kiki Layne), uma jovem soldado que se torna imortal ao sobreviver a um ferimento em batalha no Afeganistão. Andy e Nile possuem uma misteriosa conexão, e são as duas que trazem os principais dilemas da trama.


The Old Guard não é um filme que se preocupa em responder todas as nossas perguntas. Desde a introdução, ele mostra que seu principal objetivo, que se torna sua maior virtude, é nos colocar a par do universo em que o filme está inserido. Um mundo onde, por alguma razão, algumas pessoas se tornaram imortais, e ao se juntarem, se tornaram a maior força-tarefa que o mundo já viu.


Com o surgimento da personagem de Kiki Layne, recebemos explicações básicas sobre a trama, pois a personagem serve como uma correspondente do público, além de funcionar como um veículo de empatia e ligação com os demais. Com isso, a boa dinâmica do grupo se torna algo compreensível, já que todos se conhecem por tantos séculos. Com tudo isso funcionando, é fácil se importar com a vida de cada um ali, pois apesar de serem imortais, as consequências de viver desde sempre é mostrada, e os riscos passam a ser altos.


As cenas de ação são riquíssimas, cheias de coreografias bem elaboradas e bem contextualizadas. Vale um destaque para a cena de luta entre as personagens de Layne e Theron, essa última sendo o principal trunfo da produção. Afinal, Charlize vem se tornando sinônimo de entrega de performances de alto nível em filmes de ação. Podemos lembrar de filmes como Mad Max: Estrada da Fúria (2015) ou Atômica (2017), onde Charlize entrega cenas e interpretações de tirar o fôlego.


Diante de tanta eficiência dessas personagens, o mesmo não pode ser dito do vilão do filme. Merrick, interpretado por Harry Melling (o Duda Dursley de Harry Potter), é um CEO de uma empresa farmacêutica, interessado no segredo por trás dos poderes dos personagens principais. O personagem é genérico e não possui nenhum desenvolvimento, e isso acaba deixando a trama menos interessante do que poderia. Sendo o principal agente do caos, fazendo com que a trama se desenrole contra os heróis, era esperado um antagonista tão interessante quanto os protagonistas, coisa que infelizmente não acontece.


Mesmo sem ter um antagonista à altura, a trama consegue nos convencer com personagens e subtramas interessantes, tendo o trunfo de nos inserir em um universo novo e fascinante. E é isso que dá gancho para uma cena pós-crédito ao final do filme, uma cena que nos prende a ponto de querer uma continuação o mais cedo possível. Não deixe de conferir, o filme está disponível na Netflix.


 


Por Pedro Dourado.

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