Instituto de Cinema de SP

Crítica | Viúva Negra

O filme Viúva Negra, que inicialmente foi planejado para abrir a chamada “fase 4” do universo Marvel nos cinemas, enfim está entre nós. O longa, dirigido por Cate Shortland, estava previsto inicialmente para ser lançado em 2020, mas por conta da pandemia de Covid-19, passou por diversos adiamentos até sua estréia, em julho do ano seguinte.


No entanto, os planos para um filme solo da heroína da Marvel começaram muitos anos antes, quando os direitos da personagem ainda pertenciam à Lionsgate, e teria produção de Avi Arad, famoso pelos filmes clássicos do Homem-Aranha. A novela teve um desfecho inusitado, quando a Marvel Studios recuperou os direitos de sua personagem em 2006 e iniciou seu universo compartilhado no cinema, tendo seu pontapé inicial em 2008, com Homem de Ferro. Portanto, com o desenvolvimento gradual da personagem dentro do gigante mundo comandado pelo produtor Kevin Feige, os planos de trazer uma história solo da Viúva Negra foram deixados de lado, voltando a ser cogitado apenas em 2017, por conta do enorme sucesso gerado pela atuação marcante de Scarlett Johansson, que interpreta a personagem desde 2010.


Em 2018, Cate Shortland foi contratada, em uma espécie de “draft” que contava com mais de 60 diretoras, todas cogitadas para comandar o longa produzido pela Disney. A diretora, que chamou a atenção do estúdio pelo filme Lore, de 2012, resolveu dar uma abordagem mais humana à personagem, buscando desde o início da produção se afastar do lado “femme-fatale” que a heroína trazia do mundo dos quadrinhos.


E eis que em 9 de julho de 2021, o tão aguardado e especulado filme solo da Viúva Negra estreia nos cinemas ao redor do mundo. Com lançamento simultâneo também no serviço de streaming da Disney Plus, o filme se passa entre os acontecimentos de Capitão América: Guerra Civil (2016) e Vingadores: Guerra Infinita (2018), com Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) foragida após a separação dos Vingadores, por conta dos problemas trazidos pelo contrato de Sokovia. A personagem se vê em uma rotina pacata, que logo é interrompida por acontecimentos conectados a seu passado, quando ela ainda era uma agente ligada à Sala Vermelha, o programa secreto que a treinou. Portanto, Romanoff decide confrontar tais intromissões e acabar de vez com a organização que jurou ter destruído.


O filme segue uma linha à la thriller de espionagem, com uma trama que consegue prender, e em alguns momentos até intrigar o espectador. A adição dos novos personagens, figuras que vêm do passado de Natasha, é a melhor parte do longa. Florence Pugh dá vida a Yelena Belova, a “irmã” de Natasha. As duas possuem desde pequenas uma forte conexão, e quando Yelena se vê livre da influência da Sala Vermelha, as duas se reúnem, anos mais tarde, de maneira natural e orgânica, gerando as melhores interações e cenas do longa. Já David Harbour dá vida ao “pai” da família de Romanoff: O Guardião Vermelho, uma espécie de cópia russa do Capitão América, um personagem desgastado pela idade e experiências, que mostra seu carisma através de uma atuação nada contida, formando um pai disfuncional que mais atrapalha nas relações do que coopera com entendimentos. Já Rachel Weisz interpreta Melina Vostokoff, uma das primeiras Viúva Negra treinadas. Ela funciona como uma figura materna para Natasha na trama, e gera momentos interessantes como a parte sensata da família, embora seja muito subutilizada durante as cenas de ação.


Quanto à parte antagonista, temos no Treinador a grande figura que faz frente à Viúva Negra. Com habilidades extremamente interessantes, de copiar a forma de luta do adversário somente ao observá-lo em ação, o personagem entra em trama de maneira imponente, prometendo grandes cenas ao desenrolar da trama. Afinal, o vilão observou cada um dos Vingadores, e traz elementos que o público logo identifica. Seja nos característicos saltos feitos pelo Pantera Negra, ou nas poses e manobras do Soldado Invernal, o personagem do Treinador traz um visual que realmente marca. Ou pelo menos, marca durante suas duas primeiras aparições. Afinal, do que adianta ter um visual imponente em batalha, se isso cai por terra com aparições pontuais, que logo são interrompidas por uma revelação sem sal e sem muita relevância devido ao universo que foi inserido? E talvez esse seja o grande problema das lindas cenas de ação: a tentativa de trazer grandes elementos, que possam causar impactos grandiosos dentro de seu universo, buscando em seu terceiro ato mostrar um grande evento, digno de arrancar suspiros de dentro das salas de cinema. Mas a realidade é que o tom grandioso adotado pela última parte do filme não condiz com o desenvolvimento dos primeiros atos, que traziam elementos mais “pés no chão”, focados em estabelecer as relações entre os personagens.


Voltando à trama em si, Viúva Negra não se assume como um filme de origem, apenas decide trazer, acertadamente, o contexto da personagem em suas cenas iniciais, além de apresentar as figuras que compõem a primeira família de Natasha Romanoff, seus primeiros aliados. Entretanto, o filme se mostra muito mais preocupado em desenvolver as motivações da personagem e manter a linha narrativa em direção ao acerto de contas final com os vilões. E isso se mostra um grande problema, tanto por conta da fragilidade dos antagonistas, quanto por conta do momento em que o filme foi lançado. Afinal, todos que acompanham o Universo Cinematográfico Marvel sabem que a personagem encontrou seu fim em Vingadores: Ultimato, a grande conclusão da famosa “Saga do Infinito”. O problema aqui é que a personagem teve seu destaque tarde demais, e o peso que o filme poderia ter acaba não funcionando como deveria, servindo apenas como uma justa forma de homenagem à personagem.


Mas o grande trunfo do longa ainda fica com o desenvolvimento da personagem de Florence Pugh. Enquanto Natasha Romanoff recebe seus momentos de honra e esbanja seu carisma pela última vez, Yelena Belova é a grande novidade, e mostra muito bem sua força através de uma atuação impecável e de uma certa inocência que nos intriga. Talvez esta seja a maior conquista do longa de Cate Shortland: Encerrar um ciclo de maneira digna, enquanto coloca suas maiores fichas em uma das melhores adições de personagem que o MCU já teve. O outro destaque que o longa mostra, é sua mensagem para o público. Afinal, uma grande personagem merece um tema relevante em sua história solo, e o motivo para Natasha buscar completar a missão de destruir a Sala Vermelha é outro belo acréscimo ao MCU, mesmo que seja feito às pressas, com um final um tanto quanto megalomaníaco, elemento que acaba não conversando com o desenrolar da trama e das excelentes relações apresentadas.


 


Por Pedro Dourado.


 Idealizado por Steevens Beringhs 


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