Instituto de Cinema de SP

Fellini e sua influência no Cinema

Nascido em 1920, na cidade litorânea de Rimini, na costa do Mar Adriático (locais revisitados para produzir diversos de seus filmes, como Amarcord e Roma), Federico Fellini começou sua carreira no cinema como roteirista do clássico filme Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, em 1945. A partir desse ano, Fellini deu início a uma das filmografias mais amplas e ricas da história do cinema. Filmes como Satyricon, A Estrada da Vida e Julieta dos Espíritos fizeram com que o diretor se tornasse o cineasta italiano mais aclamado de todos os tempos. 


Influenciado por gigantes do cinema como Chaplin, Eisenstein, Rosselini, e até pelo trabalho do psiquiatra suíço Carl Jung, Fellini criou, ao longo de quase cinquenta anos de carreira, produções que eram mais do que a simples definição “sequência de fotogramas”. Ele foi responsável por criar obras de arte que definiram e influenciaram gerações, décadas a sua frente.


Até o ano de seu falecimento, 1993, Fellini havia sido condecorado com quatro estatuetas no Oscar, um recorde na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. E não é para menos, já que seu legado, que vai muito além de prêmios ou elogios, é visto como um caminho a ser seguido, praticamente uma estrutura para o cinema moderno. Sua visão era tão singular e divisora de águas, que rendeu um novo adjetivo no vocabulário cinematográfico: o termo "felliniano".


Não é nenhum exagero concluir que Fellini proporcionou uma nova experiência. Ele levou os espectadores, através de suas obras, em direção a experiências novas, jamais imaginadas antes. Seu estilo foi algo tão inovador, que se tornou universal. Mas como sempre, há um porém em sua carreira. Um fator que marcou sua trajetória de forma não tão positiva foi seu complicado relacionamento com os críticos. Perseguido por seu amplo imaginário, o diretor era constantemente criticado por sua narrativas “super-fantasiosas”, sonhos que eram “simples desejos hollywoodianos”, definidos muitas vezes como frutos de recorrentes bloqueios criativos.


Mas esse relacionamento não foi um empecilho para o diretor continuar a preencher sua brilhante carreira. Na lista da BBC Culture dos 100 melhores filmes estrangeiros, Fellini aparece em segundo lugar entre os diretores com maior número de filmes na lista, ficando atrás somente de Ingmar Bergman e Luis Buñuel, com cinco filmes cada. Suas obras foram tão marcantes no cinema, que não é uma surpresa o diretor ter se tornado inspiração para diversos cineastas que o sucederam. 


A carreira desse que se intitula “um mentiroso inato” é marcada por um sentimentalismo otimista, com ótimos exemplos em A Estrada da Vida, de 1954, e As Noites de Cabíria (1957), que mostram a humanidade presente em ambientes com artistas de circo e prostitutas. Em  A Estrada da Vida já podemos ver o poder do olhar de Fellini: sua capacidade de tornar a realidade mais interessante e bela do que ela de fato aparenta ser.


Após o primeiro trabalho como diretor, mais 23 filmes foram produzidos, e podemos dar destaque para o filme A Doce Vida, de 1960, já que o longa foi responsável por colocar Fellini no rol dos diretores mais famosos do mundo. O filme é ambientado em Roma, e conta a história de Marcello Rubini (Marcello Mastroianni, amplamente considerado o ator mais importante na história da Itália, com quem Fellini manteve uma longa parceria), um jornalista especializado em histórias exageradas de estrelas de cinema, que passa então a pesquisar e conhecer mais sobre a atriz hollywoodiana Sylvia Rank (Anita Ekberg), por quem acaba se apaixonando. Através deste personagem, Fellini mostra Roma como um lugar moderno e seduzente, mas que na verdade é um lugar decadente, totalmente influenciado pela cultura norte-americana.


Entre as décadas de 1960 e 1970, Fellini declararia a um jornalista espanhol que sua primeira vocação não havia sido o cinema, mas os desenhos animados. Um fato curioso sobre alguém se tornaria um dos cineastas mais influentes da história do cinema. Suas obras são, abertamente, grandes influências para diversos cineastas como o norte americano Martin Scorsese, que diz rever Oito e Meio (1963), obra-prima de Fellini, todo ano. Anna Muylaert, cineasta brasileira, tem o filme Amarcord (1973) de Fellini, como o filme que aguçou sua curiosidade ao cinema, tendo o diretor como seu principal influenciador. Podemos citar Durval Discos, de 2002, e A Invenção de Hugo Cabret, de 2011, como obras que remetem um pouco dessa influência do diretor italiano. Outra obra brasileira inspirada em Fellini é O Palhaço de Selton Mello, produção de 2011. Em entrevista na época do lançamento, Selton Mello declarou: “É inevitável a referência de Fellini. Ele filmou, de forma definitiva, o teatro”.


 


Por Pedro Dourado.

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