Instituto de Cinema de SP

Filmes para conhecer e entender a Nouvelle Vague

O termo Nouvelle Vague apareceu pela primeira vez em 1958 na revista L’Express, cunhado pela jornalista Françoise Giroud, ao referir-se aos novos cineastas franceses que despontavam no cenário artístico. A Nouvelle Vague (Nova Onda, em uma tradução livre), foi um movimento formado por críticos e cineastas pioneiros entre as décadas de 1950 e 1970, com seu auge entre os anos 1958 e 1964.


O movimento surgiu com o intuito de se opor ao cinema comercial da época, trazendo filmes intimistas e geralmente de baixo orçamento, rejeitando a forma tradicional e linear de narrativas, criando assim uma nova linguagem no cinema. Os diretores que fizeram parte do movimento buscavam usar a técnica de forma a contar suas histórias. Para eles, o cineasta era um autor, escrevendo com a luz e usando a câmera como sua caneta.


As maiores influências para os jovens diretores eram os também críticos de cinema Alexandre Astruc e André Bazin, além do cineasta americano Morris Engel, responsável pela obra de maior peso para o surgimento do movimento: Little Fugitive, de 1953. Junto com esses, o movimento da Nouvelle Vague foi influenciado pelas representações do neorrealismo italiano, e se tornou um marco na história do cinema internacional, sendo notada até hoje no cinema contemporâneo. Seus cineastas mais importantes foram: François Truffaut, Agnès Varda, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Claude Chabrol, Jacques Rivette, Chris Marker e Eric Rohmer, sendo que muitos trabalhavam com crítica de cinema na revista Cahiers Du Cinéma, conhecida por lançar a dita “política de autor”.


Confira uma lista de importantes filmes para conhecer e entender o movimento:


Little Fugitive, 1953 - Morris Engel


Filme que teve maior influência para o surgimento da Nouvelle Vague, Little Fugitive foi dirigido por Morris Engel ainda em 1953 e, segundo Truffaut, mostrou o caminho para a produção independente.


O filme conta a história de Joey (Richie Andrusco), que ao ser enganado por seu irmão mais velho Lennie (Richard Brewster), acaba fugindo para Coney Island, onde se vê sozinho rodeado de brinquedos e atrações que o píer oferece. O filme conta com uma divertida narrativa, onde acompanhamos apenas crianças, envoltas em responsabilidades e vontades próprias. Acompanhamos a leve aventura de uma criança em liberdade, que aprende e se diverte em meio a um paraíso de feira.


Para realizar determinadas cenas dentro do filme, Engel se juntou ao amigo e inventor Charlie Woodruff, e juntos criaram a primeira steadicam do cinema. O filme levou o Silver Lion de 1953.


Le mépris, 1963 - Jean-Luc Godard


Estrelado por Brigitte Bardot, Le mépris teve roteiro inspirado na novela “Il Disprezzo”, do escritor Alberto Moravia. Narrando a história de Paul (Michel Piccoli) - um autor de teatro contratado para reescrever a adaptação de Odisseia, de Homero -, o filme mostra o desprezo que Camille (Bardot) sente em relação ao marido, ao se mostrar descontente em relação a produção e mudança de ares inesperada na carreira de Paul. A obra discute a venda de um sistema de produção que faliu o cinema italiano, criticando, através da relação dos personagens, o modo repetitivo e comercial que se tornou o cinema francês.


Cléo das 5 às 7, 1961 - Agnès Varda


Acompanhamos nesse filme 90 minutos da vida de Cléo (Corinne Marchand), uma artista que está na espera do resultado de um exame, que lhe mostrará se ela se encontra com câncer ou não. Durante esse período (das 17h às 19h de uma terça-feira, 21 de junho, para ser mais exato), acompanhamos Cléo a andar, junto a seu desespero e preocupação, pelas ruas de Paris. Durante o percurso, ela encontra velhos amigos, faz novas amizades, busca conselho em cartas, tudo para passar o tempo até ela ligar para seu médico, sempre com o medo e a certeza de que a morte a espera proximamente.


Nesse filme, considerado um dos mais importantes da Nouvelle Vague, Agnès Varda se consolida como uma das grandes vozes do movimento, com um longa que nos manipula ao trazer uma situação tão intensa, com uma personagem vivendo seus momentos como se fosse a primeira vez, ou a última.


O filme foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, além de vencer o prêmio de Melhor Filme no Sindicato Francês de Críticos de Cinema de 1963.


Hiroshima Mon Amour, 1959 - Alain Resnais


O filme tinha como concepção representar, de forma quase documentária, as bombas de Hiroshima e Nagasaki e, tendo isso em mente, o diretor Alain Resnais mostra, logo nas cenas iniciais, retratos da devastação causada pelas armas nucleares. Um impactante começo, que rendeu diversas reações na época. A história começa após essa grande abertura, e nos mostra a personagem sem nome de Emmanuelle Riva, atriz francesa que foi ao Japão gravar cenas de um filme que fala sobre a paz. Ela se relaciona com o personagem também sem nome de Eiji Okada, um arquiteto japonês, ao mesmo tempo em que relembra um grande amor de seu passado, enquanto vivia a tragicidade da Segunda Guerra Mundial.


O filme teve indicações em grandes prêmios internacionais, como o Oscar, Palma de Ouro e Bafta, ganhando neste último o Prêmio das Nações Unidas de 1960.


Les quatre cents coups, 1959 - François Truffaut


Longa-metragem de estréia de François Truffaut, o longa conta a história de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), um garoto que descobre que sua mãe biológica, a ausente Gilberte Doinel (Claire Maurier), está tendo um caso. Ele então começa a não ir para as aulas, e para se justificar, alega que a mãe está morta. Quando descoberto por Julien Doinel (Albert Rémy), o homem que o criou, as coisas se agravam, e as relações já conturbadas acabam piorando.


O filme fala sobre o papel da família, e a complexidade no período que é o crescer e desenvolver das crianças, junto com sofrimentos e solidão. Temas universais, que renderam ao roteiro de Truffaut uma indicação ao Oscar, além de dar ao diretor o prêmio de Melhor Direção em Cannes.


La Jetée, 1962 - Chris Marker


Nesse curta-metragem de 1962, Chris Marker conta, através de imagens fixas, fotográficas, a história de um homem que vive como prisioneiro no subterrâneo de Paris, sendo um dos poucos sobreviventes de uma terceira Guerra Mundial. Ele então é usado como cobaia para um experimento, onde o forçam a voltar no tempo, a fim de encontrar um meio de impedir o início da guerra que devastou o mundo. O homem possui uma forte memória do passado, e é surpreendido pelo motivo que o atormenta, sendo mostrada desde o começo do filme.


Mesmo com o diretor usando no filme apenas fotografias, elas levam a narrativa por um caminho inusitadamente dinâmico, que foi intitulado de foto-romance pelo mesmo. O filme foi usado como inspiração para o longa-metragem Os 12 macacos, de 1995, dirigido por Terry Gilliam, e ganhou o prêmio Prix Jean Vigo Award de melhor curta-metragem.


Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague, 2010 - Emmanuel Laurent


Esse é um documentário que visita a história da Nouvelle Vague, mostrando, através da amizade entre Jean-Luc Godard e François Truffaut, a importância do movimento, colocando em discussão o pensamento crítico da época e o de hoje. 


O filme mostra, através de relatos, as diferentes criações, as principais semelhanças e diferenças nas obras, vidas e legados dos dois cineastas franceses, evidenciando as relações sociais e políticas ao longo do movimento. 


Um registro que nos mostra um pouco mais desses dois diretores e críticos, principais nomes dentro da marcante e importante época que foi o movimento da Nouvelle Vague.


 


Por Pedro Dourado.

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