Instituto de Cinema de SP

Julia Katharine, primeira cineasta trans a conquistar espaço no circuito comercial

A falta de diversidade quando falamos do âmbito cinematográfico é evidente. Há uma luta constante contra o estilo padronizado daqueles que produzem filmes e os têm distribuídos, o que não é diferente no Brasil. Por isso, é sempre importante enaltecer e dar visibilidade a produções que vão contra essa convenção. Aqui falaremos um pouco sobre o primeiro filme feito por uma pessoa trans a chegar ao circuito comercial.


Julia Katharine é a primeira cineasta trans a conquistar espaço no circuito comercial. Seu curta-metragem “Tea for Two” (2018), o qual assina como roteirista e diretora, estreou no festival de Goiânia e é uma importante produção da onda que deseja ir contra os padrões estabelecidos.


O curta conta a história de Silvia, uma cineasta que passa por um momento de crise e é surpreendida pela ex-esposa, Isabel. O reaparecimento do antigo amor entra em conflito com a recente presença de Isabela na vida de Silvia. Além do roteiro e direção, Julia atua na obra como a personagem Isabela.


Julia atuou em outro filme participante de importantes festivais, “Lembro Mais dos Corvos” (2018), dirigido por Gustavo Vinagre. Por sua atuação no filme, recebeu na Mostra de Tiradentes de 2018 o troféu Helena Ignez, que é dedicado a mulheres atuantes em quaisquer funções criativas. O filme rodou o mundo e recebeu 8 prêmios, sendo sempre bem recebido pelo público.


Em algumas entrevistas a diretora fala sobre o processo de produção de seu curta e a ideia que ele carrega. Julia desejava ir além da questão política, para trabalhar com uma história contada por mulheres e uma equipe que agregasse mulheres. Durante a distribuição do curta, que aconteceu junto à de Corvos em parceria com a Vitrine Filmes, os debates que aconteciam eram sempre mediados por mulheres trans. A questão da representatividade esteve presente antes, durante e depois de tudo o que permeia o filme.


“Tea for Two” nasceu como uma comédia romântica que contava a história de um casal hetero, com uma mulher cis, um homem cis e uma mulher trans que completava a história. Mas durante todo o processo, o filme se transformou pela vontade de contar histórias protagonizadas por mulheres; foi quando passou a falar sobre um casal de mulheres cis, contando com uma mulher trans para completar a trama. Julia demonstra sua vontade de continuar trabalhando nesse sentido, mas agora com a produção de longas; atualmente trabalha no longa “Família Valente”, que contará a história de uma família de atrizes.


Infelizmente o circuito comercial do cinema brasileiro é ocupado muito mais por produções estrangeiras e nacionais que mantém esse certo padrão não contemplativo da diversidade, daí a importância de se acompanhar a divulgação e distribuição de filmes que buscam ir contra essa corrente. Muitos festivais nacionais são responsáveis por distribuir essas obras.


Com o atual cenário político, é preocupante que filmes que representam diversidade tanto em produção quanto em narrativa percam força ou sejam silenciados. Por isso a existência de Julia Katharine e de “Tea for Two” são tão importantes para a história dessa necessária subversão do padrão.


Por Mariana R. Marques

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