Instituto de Cinema de SP

Lista | 10 filmes para o Cinema Negro

No dia 20 de novembro celebra-se o Dia da Consciência Negra, uma data de luta dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, escolhida por coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes do Brasil, que enfrentou o sistema escravista pela libertação do povo. 


No nosso país, a história da escravidão é abordada de forma a minimizar o impacto que esse período causou no negro “escravo”, no negro “escravo liberto” e o impacto que ainda causa no negro “descendente de escravos”. No cinema, desde seu início, as representações dos corpos negros foram historicamente realizadas de forma desapropriada e preconceituosa. O estereótipo e a imagem negra foram frequentemente associados ao primitivo, ao atrasado, ao serviçal, ao supersticioso, e à ameaça.


Reconhecendo que essa é a realidade dessa indústria no Brasil e no mundo, o Cinema Negro surge como um movimento de produção intelectual e artística que se impõe na contramão, tornando-se um ato político de combate ao racismo institucionalizado que se apresenta de diversas formas na nossa sociedade, e transformando a sétima arte em um instrumento de resistência.


Sua principal definição é a de um cinema que tem a figura negra como protagonista, entretanto essa produção vai ainda muito além. As experiências deste movimento são políticas, não somente por protagonizar negros ou por criticar diretamente o racismo, mas sim porque o próprio ato de descentralização da produção cinematográfica da elite branca para cineastas negros é hoje revolucionário.


Em homenagem a esse legado, o Instituto de Cinema preparou uma lista de 10 filmes nacionais do Cinema Negro, para conhecer e enaltecer esse movimento político e cultural. Confira abaixo!


Isabella Thebas


Alma no olho (Zózimo, Bulbul, 1973)


Este curta-metragem é um marco na própria história do cinema negro brasileiro, sendo o primeiro filme assumidamente negro do país. Escrito, dirigido e interpretado por Zózimo Bulbul em 1973, o filme de pouco mais de 10 minutos é uma metáfora sobre a escravidão e a busca da liberdade. Foi a estreia do cineasta e se tornou referência para os realizadores negros mesmo muitos anos depois.


Um Dia com Jerusa (Viviane Ferreira, 2019)


Um Dia com Jerusa foi apresentado pela primeira vez na 23ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes (o único longa-metragem do evento dirigido exclusivamente por uma mulher negra) e é uma adaptação do curta-metragem “Um dia de Jerusa”, lançado em 2014. O filme gira em torno de Jerusa, uma senhora de 77 anos, testemunha do cotidiano no bairro do Bixiga, e Silvia, uma jovem pesquisadora de mercado que enfrenta o subemprego enquanto aguarda o resultado de um concurso público.


Sem asas (Renata Martins, 2019)


Nessa obra acompanhamos Zu, um garoto negro de doze anos que vai à mercearia comprar farinha de trigo para a sua mãe e, na volta pra casa, descobre que pode voar. Ganhador do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de Melhor Curta-Metragem de Ficção.


Rainha (Sabrina Fidalgo, 2016)


Escrito, dirigido e produzido pela cineasta Sabrina Fidalgo. Em 30 minutos, o filme conta a história de Rita, que finalmente realiza o sonho de se tornar a rainha de bateria da escola de samba de sua comunidade, mas terá que lutar contra forças tanto internas quanto externas. A obra é uma reflexão sobre a opressão causada pelos padrões de beleza impostos às mulheres, e toca em outras questões como a elitização do carnaval.


Temporada (André Novais, 2018)


Com roteiro, direção e produção de André Novais, este drama gira em torno de Juliana, uma agente de saúde que está se mudando de Itaúna, no interior do estado, para a periferia de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, para trabalhar no combate às endemias na região. Em seu novo trabalho ela conhece pessoas e vive situações pouco usuais que começam a mudar sua vida. Ao mesmo tempo, enfrenta as dificuldades no relacionamento com seu marido, que também está prestes a se mudar para a cidade grande. A obra recebeu o prêmio de Melhor Longa-Metragem do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e está disponível na Netflix.


Abolição (Zózimo Bulbul, 1988)


Escrito, dirigido e editado por Zózimo Bulbul, Abolição foi seu primeiro e único longa-metragem. O documentário em comemoração ao centenário do fim da escravidão no Brasil fala da vida do negro no Brasil nos aspectos social, histórico e cultural, reunindo declarações de grandes figuras públicas e de cidadãos brasileiros.


Meu amigo Fela (Joel Zito Araújo, 2019)


Para a realização desse documentário sobre Fela Kuti - multi-instrumentista, um dos pioneiros do gênero afrobeat, ativista político e defensor dos direitos humanos - o diretor brasileiro vai a Nova York entrevistar o cubano Carlos Moore, amigo íntimo e biógrafo oficial de Fela, com o objetivo de tentar entender o homem que viveu por trás do mito de “excêntrico ídolo pop africano do gueto”. Vencedor do prêmio African Movie Academy Award de Melhor Documentário da Diáspora.


Chico Rei entre nós (Joyce Prado, 2020)


Primeiro longa-metragem da cineasta, Chico Rei entre nós estreou este mês (novembro de 2020) na 44ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A obra documental conta a história de um rei congolês escravizado, que libertou a si e aos seus súditos durante o Ciclo de Ouro em Minas Gerais, e é ponto de partida para explorar os diversos ecos da escravidão brasileira na vida das pessoas negras e da sociedade de hoje. Em uma entrevista, a diretora afirmou que o filme busca preencher ausência de debate sobre memória e história.


Filhas do Vento (Joel Zito Araújo, 2004)


Acompanhamos a história de Cida e Ju, irmãs que foram criadas pelo severo pai, Zé das Bicicletas. Enquanto Cida sai de casa para ser atriz, Ju fica na cidade, se casa e cuida do pai. As duas se reencontram 45 anos depois no enterro dele, mas o tempo não diminuiu o rancor do passado. Primeiro longa ficcional do cineasta, a obra foi bastante reconhecida, tendo recebido 8 kikitos em 6 categorias no Festival de Gramado: Melhor Filme da Crítica, Melhor Diretor  (Joel Zito Araújo), Melhor Ator (Milton Gonçalves), Melhor Atriz (Ruth de Souza e Léa Garcia), Melhor Ator Coadjuvante (Rocco Pitanga) e Melhor Atriz Coadjuvante (Taís Araújo e Thalma de Freitas), bem como recebeu o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular na Mostra de Tiradentes e Melhor Roteiro no Paratycine.


Bróder (Jeferson De, 2010)


Macu, Jaiminho e Pibe são três amigos de infância que nasceram e cresceram na comunidade do Capão Redondo, na periferia de São Paulo. Muitos anos depois, eles se reencontram no aniversário de Macu. Enquanto Macu ainda mora no Capão e está envolvido com o crime, Jaiminho é um grande jogador de futebol e Pibe se mudou para outro bairro, é formado em Direito e pai de família. Bróder é o primeiro longa de ficção do diretor, foi exibido em festivais como o de Berlim e Gramado e venceu diversos prêmios, inclusive os Kikitos de Melhor Filme, Diretor, Ator (Caio Blat), Montagem (Quito Ribeiro) e Trilha Sonora (João Marcello Bôscoli).


 


Por Ana Clara P.S.M.O.

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