Mulheres no Cinema: Céline Sciamma
Céline Sciamma, nascida em Cergy-Pontoise, uma vila no subúrbio de Paris, é uma importante cineasta e roteirista francesa. Em seus filmes, é comum encontrarmos temas como fluidez de gênero e descoberta sexual entre garotas e mulheres.
O primeiro longa-metragem de Céline Sciamma, Water Lilies, lançado em 2007, foi selecionado para participar da seção Un Certain Regard no Festival de Cannes 2007 , e ganhou prêmios nos festivais Cabourg Film Festival e Delluc Louis em 2006. Seu primeiro curta-metragem, Pauline, foi lançado em 2009, como parte de uma campanha do governo francês contra a homofobia chamada “Cinco filmes contra a homofobia”. Em 2019, foi lançado seu filme de maior sucesso até o momento, Retrato de Uma Jovem em Chamas. Com ele, Sciamma ganhou o prêmio de Melhor Roteiro e o Queer Palm no Festival de Cannes, o prêmio César de Melhor Fotografia, além de diversos outros prêmios e indicações ao redor do mundo.
Feminista, Céline é fundadora-membro do movimento “5050 by 2020”, uma campanha que luta por igualdade de gênero na indústria cinematográfica. Céline Sciamma usa a plataforma para falar sobre as restrições dentro cinema, que possui um predominante olhar masculino, e busca sempre apresentar filmes que elevam o olhar feminino.
Em 2018, ela ajudou a organizar e participou do protesto feminino contra a grande desigualdade de gêneros no Festival de Cannes em 2018, ao lado de outras notáveis mulheres talentosas, como Agnès Varda, Ava DuVernay, Cate Blanchett e Léa Seydoux. Na premiere de Retrato de uma jovem em chamas, no Festival de Cannes de 2019, Céline Sciamma, acompanhada da atriz Adèle Haenel, usaram um pin do movimento “5050”, em suporte aos protestos do ano anterior.
Em suas produções, Sciamma tem o costume de escalar muitos atores não profissionais, algo que não é muito convencional, mas que acaba funcionando muitas vezes de diversas maneiras peculiares em sua filmografia, que é composta pelos seguintes longas-metragens:
Water Lilies (2007)
No verão parisiense, durante a década de 1960, acompanhamos a história de Marie (Pauline Acquart), que se vê apaixonada pela capitã da equipe de nado sincronizado, Floriane (Adele Haenel). Com isso, Marie desperta um repentino interesse pelo esporte, e faz de tudo para frequentar a piscina pública de Cergy, local onde Floriane treina com as demais nadadoras. Através de diversos momentos de descobertas, vemos as duas desenvolverem uma profunda amizade.
O filme marcou a estréia de Céline Sciamma no cinema, e concorreu em três categorias no prêmio César em 2008.
Tomboy (2011)
Aqui nos é contada a história de Laure (Zoé Héran), que ao se mudar com a família para uma nova cidade, decide sair para conhecer os novos vizinhos do condomínio. Ela então se faz passar por garoto ao conhecer Lisa (Jeanne Disson), e se apresenta como Mickael. Ao se apresentar para o resto da turma, acompanhamos Mickael em suas desventuras com a nova identidade, ao mesmo tempo em que esconde tudo isso de seus pais e irmã.
O filme foi vencedor do Prêmio Teddy no Festival de Berlim de 2011, trazendo um merecido reconhecimento para Sciamma ao redor do mundo.
Girlhood (2014)
Marieme (Karidja Touré) é uma garota de 16 anos, que vive oprimida em seu ambiente familiar. Responsável por suas irmãs mais novas, sofrendo a pressão de prover recursos para a casa, sendo também coagida pela censura existente no bairro, ela acaba conhecendo um grupo de garotas que resolveram lutar por sua própria liberdade, formando assim uma gangue, vivendo conforme suas próprias regras, sem preocupações. Inspirada por participar de um grupo, Marieme dá início a um novo estilo de vida, onde ela espera encontrar um caminho para a liberdade e autoconhecimento, de modo a começar a aproveitar a sua juventude.
O filme recebeu quatro indicações no prêmio César, com Céline Sciamma sendo indicada a Melhor Direção e Karidja Touré a Melhor Atriz Revelação. O filme também foi indicado ao Prémio Lux do Parlamento Europeu.
Retrato de Uma Jovem em Chamas (2019)
Nesse longa, ambientado na França do século 18, acompanhamos Marienne (Noémie Merlant), uma jovem pintora que foi contratada para pintar o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), para que a mãe desta leve o quadro a seu futuro marido na Itália. Entretanto, Héloïse é contrária ao casamento, e não aceita posar para nenhum artista. Com isso, Marienne se passa por companheira de passeios durante o dia, enquanto de noite pinta o retrato de Heloïse através da memória. No entanto, com o desenrolar da história, as duas acabam se aproximando e, a cada passeio que fazem juntas durante o dia, os laços criados se estreitam, revelando um envolvimento emocional, que resulta num relacionamento entre artista e modelo. Porém, com a conclusão do retrato, Marienne se vê obrigada a falar a verdade para Héloïse, e os laços criados acabam sendo postos a prova.
Com o filme, Céline Sciamma obteve reconhecimento mundial, recebendo importantes prêmios internacionais, como o prêmio de Melhor Roteiro e a Palma Queer no Festival de Cannes, e o prêmio de Melhor Fotografia no César de 2020.
Por Pedro Dourado.