Instituto de Cinema de SP

Mulheres no Cinema: Petra Costa

Petra Costa nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em julho de 1983. Filha de militantes de esquerda ligados ao PCdoB e neta de um dos fundadores da construtora Andrade Gutierrez, Petra teve sua infância duramente marcada pelo suicídio de sua irmã mais velha, a atriz Elena Andrade, caso este que seria o tema de seu primeiro longa-documental, anos mais tarde.


Um ano após seu nascimento, Petra e sua família se mudaram para São Paulo, onde teve seu primeiro contato com uma escola de teatro, aos 14 anos de idade. Depois disso, chegou a cursar dois anos de Artes Cênicas na Universidade de São Paulo (USP), mas decidiu mudar o rumo de seus estudos, e sentindo a necessidade de adquirir uma compreensão política da sociedade, partiu para os Estados Unidos para estudar Antropologia na Barnard College, instituição de Artes da Columbia University em Nova York. 


Lá, Petra então começou a manusear câmeras, e decidiu fazer mestrado em Londres, abordando o conceito de trauma, tema que se tornaria presente em suas produções posteriormente. Com 24 anos, voltou ao Brasil, começando seu trabalho no cinema, trabalhando inicialmente como assistente de direção e edição.


Seu primeiro trabalho no cinema como diretora e produtora foi o curta-metragem documental Olhos de Ressaca, de 2009. Nele, Petra nos leva a conhecer a história de seus avós, Vera e Gabriel Andrade. Com o filme, ela foi premiada em diversos festivais nacionais e internacionais, como o London International Documentary Festival e o Festival de Gramado, onde ganhou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio do Público.


Em 2012, lança Elena, documentário que marcou sua estreia na direção de longa-metragem. Nele, a cineasta revisita o trauma que atingiu a família em sua infância: o suicídio de sua irmã mais velha, Elena. O filme recebeu diversos prêmios e reconhecimento mundo afora, tendo vencido, como destaque, quatro prêmios de Melhor Documentário no Festival de Brasília.


Seu trabalho mais recente, Democracia em Vertigem, lançado em 2019, mostra os acontecimentos que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, narrando desde o fim da Ditadura Militar, até a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, entrelaçando aspectos políticos com relatos pessoais da história de sua família. Com o documentário tendo uma enorme repercussão, Petra recebeu uma indicação em 2020 ao Oscar de Melhor Documentário em Longa Metragem, além de ser indicada no Sundance Film Festival de 2019.


Membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas desde 2018, ela traz em seus filmes, muito influenciados pelo cinema italiano e também pelo movimento francês da Nouvelle Vague, um olhar intimista e pessoal, onde mostra, através de documentários narrados, sua história pessoal sendo contada juntamente a acontecimentos externos.


Sua filmografia no cinema conta com as seguintes produções:


Elena (2012)


Em seu primeiro longa, Petra nos mostra a viagem de sua irmã mais velha Elena a Nova York, na tentativa de seguir carreira como atriz. A jornada, marcada pelo suicídio da jovem de 20 anos, é contada de maneira muito pessoal, sendo narrada pela própria diretora, que tinha apenas sete anos na época. Vivendo com a mãe e a irmã, ela nos conta sobre o luto, e decide mostrar a história desde o nascimento da família, abordando temas importantes e difíceis, de maneira artística e muito poética.


O filme foi aclamado pela crítica e público, recebendo diversos prêmios internacionais, sendo ainda o documentário mais assistido no Brasil em 2013. Com Elena, Petra Costa recebeu projeção internacional, ampliada ainda mais através de seus outros projetos.


Olmo e a Gaivota  (2015)


Em parceria com a dinamarquesa Lea Glob, essa produção conta a história de vida de Olivia Corsini, uma atriz de teatro que descobre que está grávida, e acaba perdendo um papel importante em uma peça por conta das prevenções médicas em prol da gravidez. Acompanhamos Olivia durante esses nove meses de gestação, durante um período onde somos apresentados a diversas situações e reflexões sobre liberdade feminina e o direito da mulher sobre as decisões sobre seu corpo.


O filme se trata de uma investigação sobre um determinado período na vida da mulher, apresentado em forma de um documentário bastante intimista. O filme recebeu o prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio em 2015.


Democracia em Vertigem (2019)


Mesclando a história política do Brasil com sua história pessoal, Petra Costa narra acontecimentos decisivos da história recente do país, mostrando, através de relatos de importantes figuras políticas, a queda gradual da democracia conquistada em 1985, com o fim da Ditadura Militar. No filme, conhecemos a história da família de Petra, e vemos as ligações de seus pais e avô com o sistema político brasileiro. Seus pais, Manoel Costa e Marília Andrade, militantes de esquerda, tinham como mentor Pedro Pomar (1913–1976), fundador do PCdoB, que foi assassinado pelos militares. Em sua homenagem foi dado o nome de Petra. Já seu avô, Gabriel Donato de Andrade, é um dos fundadores da construtora Andrade Gutierrez, uma das empresas envolvidas nos esquemas revelados pela investigação Lava-Jato. E é nessa dinâmica pessoal que acompanhamos políticos lutando por espaço e poder, onde eventos políticos ditam presente e futuro do Brasil.


O filme serve quase como uma advertência às demais democracias ao redor do mundo, e acabou recebendo uma indicação ao Oscar de Melhor Documentário em Longa Metragem em 2020.


 


Por Pedro Dourado.

voltar
Fale Conosco Ícone branco transparente WhatsApp