"O cinema brasileiro ainda busca sua própria identidade", diz Pedro Morelli em sua palestra no InC
Pedro começa dizendo “tô aqui pra trocar ideia”, se mostrando o cara gente boa que estaria conosco aqui no Inc durante duas horas para dar praticamente uma aula de cinema.
De início apresentou um curta-metragem que produziu como universitário na ECA, onde se formou. Ali percebe-se o frescor e vontade que tinha de começar, o que diz para quem quer entrar nesse universo: se tem uma ideia, tem que produzir e começar a passar pelas portas abertas que existem para quem quer fazer cinema.
Contou sobre o processo de criação e produção de seu longa “Zoom” (2015), filme que teve co-produção canadense. Sua vontade era experimentar e produzir algo que fugisse do convencional, e como resultado temos um filme nonsense, com 3 histórias simultâneas e interligadas, sendo uma inteira com a técnica de animação rotoscopia. Além de ser um filme com dois idiomas, onde precisou enfrentar o desafio de dirigir atores em outra língua. Dá pra ver aí que Pedro tem seu estilo, querendo sempre inovar e sair da caixinha, como fez também em sua primeira série, “Contos do Edgar”.
Quando a Lei da TV Paga se iniciou, Pedro teve a chance de tornar realidade uma de suas ideias. “Contos do Edgar” é mais uma pira e a premissa era adaptar contos de Edgar Allan Poe para a realidade contemporânea paulista, com um “ziriguidum” brasileiro, como o criador mesmo diz. Conta como essa foi uma experiência incrível que o ensinou muito sobre ser um bom diretor.
Indo mais a fundo sobre suas experiências, Pedro dá praticamente uma aula, mostrando ser um diretor que vem amadurecendo com o tempo. Fala sobre como trabalhar na base de tentativa e erro o ensina a ser melhor e da importante influência de diretores como Paulo Morelli e Fernando Meirelles. Um dos comentários que mais pontua é sobre a importância da relação entre diretor e ator. Para ele, um diretor precisa ter a sensibilidade de saber o que dizer ao ator, caso contrário, a produção pode se perder. Além da importância de escolher uma boa equipe, que esteja alinhada com suas ideias e processo criativo.
Pedro conta ainda sobre a experiência de trabalhar na nova série que dirigiu para a Netflix. Perguntado sobre a diferença entre produzir para o streaming, diz que no momento do set, “na hora do vamo ver”, é igual, mas os planejamentos e presença criativa são extremamente diferentes e competentes. Fala de como o canal é presente, cuidadoso com detalhes e torna estimulante participar dessa produção. Deu diversas dicas para lidar com equipe, atores e filmagem; como já dito, foi como uma aula.
Com as perguntas feitas, Pedro teve chance de expor seus anseios enquanto diretor, dizendo que busca em seus trabalhos uma produção mais democrática e capaz de dialogar com o grande público. Procura entender o lado do ator, tanto que chegou até a fazer aulas de teatro para entender como é estar exposto e qual a melhor maneira de se comunicar com o ator. Tenta trabalhar bem a questão da representatividade, como em “Rua Augusta”, que tem a primeira cena de sexo trans da televisão brasileira, caso onde teve muito diálogo com a atriz Dani Glamour para procurar entender uma realidade que não é sua antes de representá-la.
Perguntado sobre o atual momento que o cinema enfrenta diante do impasse da ANCINE, diz estar preocupado com o cinema nacional. Entende a preocupação de ser rígido, mas acredita que travar as produções não é a saída.
Ao fim das perguntas, pontua que o cinema brasileiro ainda busca sua própria identidade e que temos dificuldade em criar histórias maduras e bem desenvolvidas para alcançá-la.
Pedro diz se sentir no lugar onde queria estar, criando e produzindo de uma forma que consiga se comunicar com o público, sendo democrático e provocativo. Expõe, ainda, o desejo de alcançar o mercado internacional.
Lembrando que a nova série de Pedro, “A Irmandade”, chega em breve na Netflix e é mais uma oportunidade para acompanhar seu trabalho.
Por Mariana R. Marques