Instituto de Cinema de SP

Roteiro: Você conhece a técnica Save the Cat?

Blake Snyder foi um roteirista e autor norte americano, famoso por seu livro sobre estrutura de roteiro chamado “Save the Cat”, ou “salve o gato”, em português. Ao lado de outras famosas técnicas narrativas conhecidas, como a jornada do herói e promessa da virgem, a estrutura proposta por Snyder é bastante utilizada e também conhecida como “beat sheet”.


Beat sheet é um documento utilizado pelos roteiristas para visualizar todos os pontos principais da trama, e pode ser feito de diversas formas a depender da técnica adotada. Fazer uma beat sheet facilita o desenvolvimento da escaleta e, posteriormente, do próprio roteiro, pois é o primeiro documento em que todos os pontos da trama estarão dispostos com uma função dramática dentro da história.


Blake Snyder, em sua beat sheet, associa cada beat com um objetivo dramático pré-concebido, propondo 15 beats essenciais para a trama. Confira abaixo cada um deles:


IMAGEM DE ABERTURA:


(corresponde a 1ª página do roteiro)


É a imagem inicial do filme, o primeiro contato do espectador com a história que vai começar. Esta imagem irá definir o tom, o clima e o estilo do filme. Geralmente, o último beat (item 15) se relaciona diretamente com a imagem de abertura como um espelho, e a conexão entre elas cria um equilíbrio na história.


DECLARAÇÃO DO TEMA:


(corresponde a 5ª página do roteiro)


Aproximadamente na página 5 do roteiro, ou seja, durante o set up (item 3), algum personagem faz uma declaração ou pergunta que define a premissa temática da obra, e que terá uma grande repercussão no final do filme. De início, o protagonista não a entende, pois, para isso, precisa passar por uma transformação. 


SET UP:


(Páginas 1-10)


Em geral, as primeiras 10 páginas são utilizadas para a introdução do mundo e dos personagens. Este é o momento em que a situação inicial é apresentada, assim como as falhas, personalidades e motivações de todos os personagens principais, inclusive do vilão. Equivalente ao “mundo comum” na jornada do herói, o set up é extremamente importante, uma vez que é durante essas 10 primeiras páginas que você deve prender a atenção do espectador e cativá-lo com a obra. Blake Snyder chama este momento, e o primeiro ato de forma geral, de tese.


O CATALISADOR:


(Página 12)


Também chamado de incidente inicial, ou incidente incitante, é o evento que dá o impulso inicial da trama, direcionando o protagonista ruma à sua aventura. 


O DEBATE:


(Páginas 12-15)


Entre as páginas 12 e 15, mas se estendendo até o fim do primeiro ato (item 6). É possível relacionar o beat do debate aos beats da “recusa do chamado” e “consulta com o mentor” da jornada do herói. Ou seja, após o impulso inicial do catalisador, o protagonista pondera se deve ou não encarar essa aventura, de que forma, quais as consequências, e ao mesmo tempo receber conselhos e incentivos (ou não) dos demais personagens. O debate persiste até o protagonista tomar uma decisão.


QUEBRA DO PRIMEIRO ATO:


(Página 25)


É quando o mundo comum do protagonista fica para trás após sua decisão, momento em que o protagonista inicia sua jornada em um mundo completamente diferente do que conhece. A quebra do primeiro ato é um importante momento de transição com o início da aventura. Blake Snyder se refere ao segundo ato como antítese.


TRAMA PARALELA:


(Página 30)


A maioria das histórias tem diversos “plots”, e este é o momento de desenvolver o plot B do seu roteiro. Geralmente, o plot B é uma história de amor, mas não necessariamente um amor romântico, podendo ser uma relação de amizade, a própria relação de mentoria entre o protagonista e seu mentor, ou alguma relação familiar. Também é o momento de introdução de novos personagens e conflitos, se for o caso.


JOGOS E DIVERSÃO:


(Páginas 30-35)


Como o próprio nome deste beat sugere, é hora de explorar todas aquelas ideias de ação e aventura propriamente ditas. Aqui, teremos o protagonista explorando seu novo mundo, e entretendo o público. É a promessa da premissa, segundo Snyder, o cartaz do seu filme. A depender do gênero da sua história, este será o momento, por exemplo, dos enigmas, investigações e intrigas, a aventura em si, como o treinamento de Neo em Matrix.


MIDPOINT:


(Página 55)


O midpoint marca a divisão das duas partes de um filme. É o momento em que sua história e a aventura do protagonista mudam de direção: se tudo estava fácil, agora passa a ser difícil, e as dificuldades e problemas do protagonista se tornam sérias e urgentes. No midpoint, acontece uma das seguintes coisas: ou o protagonista perde tudo o que tinha (falsa derrota), ou ganha tudo aquilo que acredita desejar (falsa vitória). Mais do que isso, é o momento em que um prazo é estipulado (o relógio começa a correr), as apostas e riscos são mais altos, e há o beijo entre o casal principal.


VILÕES FECHAM O CERCO:


(Páginas 55-75)


Este é o ponto do roteiro no qual os vilões atacam o protagonista com mais força. Na maioria das tramas, não só os vilões caem matando em cima do herói, como ele próprio pode vir a se prejudicar de alguma forma. Além disso, é o momento em que questões internas, dúvidas e divergências, acabam desintegrando o grupo de aliados do próprio herói.


TUDO ESTÁ PERDIDO:


(Página 75)


“E agora? Como ele vai sair dessa?” É esta a sensação que o espectador deve ter nesse beat. De acordo com Snyder, é o momento da “morte”. Aqui, o casal se separa, o herói é capturado, alguém é exposto ou cai em uma armadilha. Tudo isso culmina no ápice das coisas negativas que poderiam acontecer e, é neste momento em que a forma como o protagonista pensava durante todo o filme muda, ocorre a morte de ideias velhas. É o momento de transformação de ideais que ajudará no renascimento do protagonista, agora transformado.


A NOITE ESCURA DA ALMA:


(Páginas 75-85)


“Agora que estou morto, o que faço sobre isso?” O protagonista ainda está decidindo quem é e o que fará a seguir, está lamentando tudo que perdeu e o que isso significa. A cena pode ter 5 segundos ou 5 minutos, mas é importante para que o tema do filme seja retomado, pois agora o protagonista entende aquela declaração inicial que antes não fazia sentido (item 2). Este é o momento em que o protagonista precisa encontrar forças para a superação.


QUEBRA DO SEGUNDO ATO:


(Página 85)


Início do que Blake Snyder chama de síntese. Em razão de todos os acontecimentos até aqui, surge uma solução que costuma partir do plot B. Ou seja, é o momento no qual os plots se encontram e a trama paralela (plot B) ajuda na solução da trama principal (plot A). Snyder costumava dizer que aqui o protagonista “acorda” e agora sabe o que deve fazer, falta apenas colocar o plano em ação.


FINALE:


(Páginas 85-110)


O plano é colocado em prática, assim como todas as lições aprendidas pelo protagonista no caminho. Nestas últimas páginas, encontramos o clímax do filme e a batalha principal. É durante este finale que toda a situação apresentada anteriormente é resolvida, os vilões são derrotados, o protagonista conquista o coração da garota e passa por sua evolução final, construindo um novo mundo. Ou seja, na beat sheet proposta por Snyder, ao contrário do que pode parecer em razão do nome, finale não é o momento final do filme, ou a última cena que vemos, e sim todo o processo de resolução da história.


IMAGEM FINAL:


(Página 110)


Conforme mencionado na imagem inicial (item 1), a imagem final é seu espelho, traduzindo o exato oposto do que aquela primeira imagem mostrava. Agora, o protagonista já passou pela transformação durante a história e, consequentemente, seu mundo e cotidiano também. A imagem final é tão importante quanto a inicial, pois, enquanto a inicial é a primeira impressão do seu espectador, a final é a última, representando o final tanto da história como do arco do seu protagonista. 


Em geral, a beat sheet é feita depois do argumento e antes da escaleta. Muitos roteiristas utilizam a estrutura proposta por Snyder, mas vale sempre lembrar que não há regra. A melhor forma de escrever varia dependendo do processo criativo de cada um e, muitas vezes, do que faz mais sentido para a obra. O importante é conhecer as ferramentas, como esta, para saber como utilizá-la e descobrir o seu próprio processo!


Blake Snyder possui seu próprio site (https://savethecat.com/beat-sheets), que leva o mesmo nome de sua técnica, no qual você encontra exemplos práticos de beat sheets e diversos materiais como artigos e podcasts sobre save the cat.


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Por Ana Clara P.S.M.O.

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