Instituto de Cinema de SP

18 filmes dirigidos por mulheres que você não pode deixar de ver

Mais do que pontual, o machismo é um fenômeno estrutural e que acomete os diversos âmbitos humanos. Com a arte não seria diferente! No total, mulheres representaram apenas 8% dos diretores dos 250 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos, em 2018,  e no Brasil, apenas 16% dos 160 filmes brasileiros lançados nos cinemas em 2017 foram dirigidos exclusivamente por mulheres, apontou estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine).


Fato é: o machismo restringe (e muito!) as oportunidades de mulheres estarem presentes atrás das câmeras e impede que diretorAs explorem o vasto potencial criativo que resultariam em grandes produções na telinha.


Por esse motivo, muitas vezes nem conhecemos ou entramos em contato com grandes nomes femininos que estão a frente de produções brilhantes, clássicas e contemporâneas do cinema brasileiro e internacional!


Pensando em cada vez mais quebrar esse ciclo constante no Cinema e desconstruir o machismo no meio, o Instituto de Cinema, em parceria com o site Mulher no Cinema, que celebra o trabalho de mulheres na tela, e o portal Cinemascope, oferece o curso Mulheres no Cinema: 12 encontros.


As aulas serão ministradas pela criadora e moderadora do “Mulheres no Cinema”, Luisa Pécora, formada em Jornalismo, foi editora do catálogo da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e colaborou para publicações como Playboy, Filme B,FilmMaker, Getúlio e Diálogos&Debates, entre outras, e que integra o Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.


Juntamente com Pécora, o curso também será ministrado pela fundadora e editora-chefe do Cinemascope, além de jornalista, professora, palestrante e filmmaker paulistana, Joyce Pais.


O conteúdo será dividido em três módulos: “Cineastas pioneiras”, “Vanguarda e resistência” e “Cinema contemporâneo”, oferecendo um panorama introdutório do cinema realizado por mulheres no Brasil e no mundo. Com início em 02 de abril, ele acontece na sede do Instituto de Cinema, localizado no bairro de Pinheiros, em São Paulo.


Para mais informações acesse aqui


Que tal aquecer para o início do curso? Confira uma lista de 18 filmes maravilhosos e para todos os gostos, dirigidos por mulheres!


 


Lady Bird: A Hora de Voar


 


Tudo para ser um filme clichê sobre colégio e a passagem da adolescência para a vida adulta, “Lady Bird” (2017), dirigido por Greta Gerwig, surpreende pelas imagens bonitas e ao explorar com eloquência a relação entre mãe e filha.


Com 4 indicações ao Oscar, o longa conta a história de uma adolescente que passa pelos comuns traumas que todos passamos na adolescência: o primeiro namorado, crises na amizade, a necessidade de se sentir diferente do coletivo e ao mesmo tempo como é difícil se sentir a parte.


O filme fica ainda mais rico com as características autobiográficas da diretora em pequenos detalhes, como com a sua cidade de nascimento que é a mesma que da protagonista, Sacramento.  “Lady Bird” por muitas vezes representa nós mesmos na época da adolescência! O longa ganha pontos por, além de ser dirigido por uma mulher, explorar bastante questões relacionadas a maternidade.


 


Cleo das 5 a 7


 


Na maioria das vezes deixada de lado quando o papo é sobre a Nouvelle Vague, Agnès Varda dirigiu verdadeiras obras de arte! Dentre elas, temos “Cleo das 5 às 7” (1961) que mostra em suas duas horas de duração, as angústias de Cleo, que aguarda o resultado de um exame que dirá se ela tem câncer ou não.


O longa deixa claro ser feito por uma mulher, principalmente devido a época que foi feito, quando Varda explora a energia sexual de Cleo e transparece os primeiros momentos em que a protagonista fica sem rumo e decide o que fazer com o que lhe sobra de vida, com a iminência da doença.


O belo filme retrata como em duas horas, Cleo passa a dar mais atenção aos pequenos momentos e detalhes do cotidiano, por muitas vezes esquecidos.   


 


Que horas ela volta?


 


Escrito e dirigido por Anna Muylaert, o filme “Que Horas Ela Volta?” (2015) é um filme provocador e que retrata muito bem o ciclo que ainda se perpetua entre empregados e empregadas e seus patrões. Ambientado na casa de um família de classe média alta no bairro do Morumbi, em São Paulo, o filme de Muylaert retrata o cotidiano de Val, pernambucana que veio para a capital paulistana em busca de melhores condições de vida para sua família.


Lotado de estereótipos quanto a família, o filme toca em diversos pontos que mostram como é o tratamento de Val, que representa todas as empregadas brasileiras. O longa tem cenas marcantes e mostra um trabalho primoroso da Regina Casé.


 


Raw


 


“Raw” (2016) chamou a atenção no ano de lançamento quando no Festival de Toronto pessoas desmaiaram após ver o filme que aborda o canibalismo. A diretora e escritora do longa é Julia Ducournau e se trata de uma produção franco-belga!


Muito além do canibalismo em si, “Raw” trata também de violência psicológica ao contar a trama de Justine, uma jovem de 18 anos que acabou de entrar na faculdade de veterinária e é vegetariana. O processo dissociativo da protagonista começa quando em um trote violento e extremamente invasivo da faculdade, os veteranos a forçam a comer carne crua, o fígado de um coelho.


A partir daí Justine começa a tomar atitudes extremamente diferentes do estilo de vida que levava antes, contribuindo para a narrativa relativamente absurda da trama. Uma obra prima!


 


As Sufragistas


 


Esse filme franco-britânico é de 2015 e, basicamente, retrata o início dos movimentos feministas em prol, principalmente, da igualdade no voto, mas também na igualdade das condições de trabalho e de representatividade. O filme conta com duas mulheres na sua direção e roteirização: Sarah Gavron e Abi Morgan, respectivamente.


A personagem principal é a lavadeira Maud Watts que leva uma vida pacata na Inglaterra até ser chamada para uma reunião das sufragistas que, após serem ignoradas por tempos, passaram a realizar ações mais ativas, organizando passeatas que são reprimidas pela polícia.


“As Sufragistas” cumpre com a questão histórica e reativa discussões feministas que até hoje estão em pauta, não a questão do sufrágio em si mas da igualdade de gênero.


 


Bicho de Sete Cabeças


 


Eleito um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, “Bicho de Sete Cabeças” (2000) é dirigido pela paulistana Laís Bodanzky.


Baseado na autobiográfico Austregésilo Carrano Bueno, Canto dos Malditos, o longa conta a história de Neto, que foi internado num hospital psiquiátrico/manicômio depois do seu pai encontrar maconha nos seus pertences. Além de mostrar as mazelas da relação entre pai e filho, o filme foca em contar os abusos e violências sofridos nesses hospitais através das situações que o protagonista é exposto.


Mais do que qualquer outra coisa, o filme de Bodanzky é uma denúncia que surtiu efeitos na época, culminando na sanção da lei que proíbe esse tipo de institutição no Brasil.


 


Mulher Maravilha


 


Baseado na personagem homônima da DC Comics, “Mulher Maravilha” (2017) demorou para sair do papel e foi dirigido pela americana Patty Jenkins. Desde Elektra, em 2004, foi a primeira vez que reavemos uma heroinA-solo nas telinhas, mas talvez seja a primeira vez que vemos algo do tipo e com essa dimensão.


Ambientado na Primeira Guerra Mundial, o filme conta a história de Diana, uma semideusa (que ainda não sabe disso) amazona, que vive em uma ilha com outras amazonas, inclusive sua mãe. De uma forma inesperada ela conhece Steve, um espião britânico que parte numa missão com Diana, e algumas outras figuras para tentar impedir os desastres da guerra.


Com cenas de ação, muitos efeitos, mitologia, fantasia, romance, a história aborda ainda o desejo puro pelo bem da sociedade refletido em Diana. É um filme feito por uma mulher e que aborda, essencialmente, o genuíno heroísmo feminino.


 


O Babadook


 


“O Babadook” (2014) é um filme de terror que não se utiliza de ferramentas como o sangue ou sustos para causar horror, mas sim angústia com as cenas sufocantes. Dirigido por Jennifer Kent, o filme conta a história de Amelia, uma mãe traumatizada pela morte do marido, e seu filho, Samuel.


Os dois começam a ser aterrorizados pelo pesadelo de Sam, o Babadook que, inclusive, não é retratado com os costumeiros efeitos cinematográficos atuais que procuram trazer as imagens para o mais próximo do real. O monstro em si é bem simples, demonstrando que o foco não é a imagem em si, mas o que ela representa.


É aí que a questão subjetiva entra em pauta: o longa, essencialmente, se trata da depressão pós-parto, tão mal entendida pela nossa sociedade atual machista e que ainda não compreende doenças psicológicas.


 


Era o Hotel Cambridge


 


Participando da escrita do roteiro e também dirigindo, temos a importante cinegrafista brasileira Eliane Caffé! O longa conta o dia a dia dos moradores de um prédio ocupado no centro de São Paulo. A mistura de culturas se intensifica quando os moradores têm que conviver com refugiados.


Um ponto interessante e que descola o filme do comum é a mistura de realidade e ficção: o filme é resultado da parceria entre Frente de Luta por Moradia (FLM), do Grupo Refugiados e Imigrantes Sem Teto (GRIST) e da Escola da Cidade, além de fazer parte do elenco pessoas que, de fato, moram na ocupação.


O filme de Caffé é um grande exemplo de como o cinema brasileiro pode servir para defesa de uma causa.


 


Encontros e Desencontros


 


Sofia Coppola, que já tinha se consagrado com o longa “As Virgens Suicídas” (2000), chamou atenção e encantou mais uma vez dirigindo “Encontros e Desencontros” (2003). O longa foi todo gravado em Tóquio, mas mais do que uma estética marcante ou fotografia marcantes, o filme mostra a essência do cinema: uma boa história, sendo contada por uma boa cineasta e estrelada por bons atores: Bill Murray e Scarlett Johansson.


Ele é um ator que foi famoso nos anos 70 e ela está acompanhando o marido, fotógrafo de celebridades, e que se conectaram pela insônia na intensa cidade de Tóquio, com seus leds coloridos. Coppola consegue mostrar com essa narrativa simples, as cisuras identitárias que os tempos atuais causam no ser humano. Tudo isso pontuado por uma bela trilha sonora.


 


Guerra ao Terror


 


Vencedor do Oscar de Melhor Filme, “Guerra ao Terror” (2008) também rendeu o Oscar de Melhor Diretor para Kathryn Bigelow, que conseguiu renovar a forma que guerras são retratadas nos cinemas.


O longa aborda a Guerra do Iraque na perspectiva do exercito, mostrando como os motivos de todos estarem ali eram muito mais por ser uma questão presente na realidade de toda a população ao longo dos anos do que por concordarem ou até mesmo saberem porque aquela guerra estava acontecendo.


Deixando de lado a visão épica e dando lugar a visão humana, Bigelow explora as questões psíquicas que envolvem aqueles que põe “a mão na massa” em uma guerra e como eles entendem a situação em que estão.


 


Zama


 


“Zama” (2017) nasceu do encantamento da diretora argentina Lucrecia Martel com a obra de Antonio di Benedetto, publicado em 1956. O longa é ambientado numa América Latina dominada pelo colonialismo no século 17, com seus contrastes entre o que era considerado “civilizado” e “selvagem”.


O protagonista da trama é Dom Diego de Zama, que enfrenta questões profundamente existencialistas que em um primeiro momento parecem alheias ao período em si, ao ficar isolado e preso no ciclo do sistema burocrático da época, se sentindo subestimado nas categorias que ocupa e na possível estadia na capital argentina, Buenos Aires.


Cada cena do longa é um combate de Martel a imagem européia do conquistador como herói na América Latina. O diferencial da cineasta se mostra no caráter sobrenatural e de delírio nas imagens, pensamentos, diálogos e até som. O filme tem um final marcante!


 


A Hora da Estrela


 


Baseado na famosa obra de mesmo nome, da autora Clarice Lispector, “A Hora da Estrela” (1985) é um filme dirigido por Suzana Amaral, que pôs em imagens a narrativa de Lispector, contando a história de Macabéa, uma nordestina que foi para São Paulo em busca de uma nova vida.


O filme consegue cumprir com louvor o importante papel de representar, através da sétima arte, essa bela história, realizando um intenso estudo de personagens que dá outra dimensão para a obra.


Trabalhando como datilógrafa em um pequeno escritório, Macabéa tem como sua principal característica a ingenuidade, pureza e baixa auto estima, muito bem representadas pela atriz Marcélia Cartaxo. A trama se desenrola contando a história da protagonista, sua paixonite, também migrante, Olímpico, sua amiga Glória e as mudanças em suas vidas depois de ir na cartomante Madame Carlota.


O filme é sinalizado pela Associação Brasileira dos Críticos de Cinema como um dos 100 melhores da história de nossa cinematografia, além de ser escolhido como o melhor filme pela crítica no Festival de Berlim, recebendo também o prêmio de  Melhor Atriz, pela atuação de Cartaxo.


 


Amor Maldito


 


O longa não só foi um marco na história do cinema nacional, como também um marco na luta contra o preconceito racial, o machismo e a homofobia. Adélia Sampaio foi a primeira mulher negra a dirigir um filme no Brasil, além de escolher uma temática extremamente disruptiva e afrontosa para a época: o relacionamento homossexual entre duas mulheres.


“Amor Maldito” (1984) retrata o relacionamento dessas duas mulheres que, diariamente, tem que lidar e combater o preconceito não só da sociedade como das duas famílias também, culminado por um suicídio.


Apesar de já fazerem anos desde o seu lançamento, o filme mantém sua importância não só pela representatividade, como também por, até os dias atuais, o tema ser recorrente.


 


Tomboy


 


Escrito e dirigido pela francesa Céline Sciamma e lançado em 2012, “Tomboy”, como a expressão contemporânea que dá nome ao filme já indica, conta a história de um menino que tem características e comportamentos que a sociedade estabelece como masculinas.


Na história, Laurie, uma garota de 10 anos, se muda com os pais e a irmã mais nova para uma casa nova. A garota se apresenta para as outras crianças da vizinhaça como Mickael, se socializando como um garoto. Com sua crescente amizade com uma das garotas, chamada Lisa, a menina passa por uma crise de identidade.


O filme aborda assuntos que são importantíssimos e ainda mal compreendidos na nossa sociedade: as diferenças entre sexualidade e comportamento e o que é ser transgênero. Além disso, fica claro como desde a infância, os padrões do que é “de menino” e “de menina” já são implementados e geram futuras violências.


 


Inspire, Expire


 


Filme recente, “Inspire, Expire” é dirigido e escrito pela islandesa Ísold Uggadóttir e foi lançado em Festival Sundance de Cinema em janeiro do ano passado e é um longa original da Netflix. O enredo trata de um tema extremamente atual: a crise de refugiados e, num espectro mais amplo, a desigualdade social.


O longa conta a vida de Lara, islandesa, mãe solteira e com extensos problemas financeiros que estão causando grandes apertos e prejudicando sua vida de forma muito preocupante. A situação chega ao apíce quando ela precisa morar, junto com seu filho pequeno, em seu carro.


Tudo parece melhorar quando ela arruma um emprego na capital, na alfândega do aeroporto. É aí que as duas mulheres que, aparentemente não têm nada em comum, se encontram a primeira vez, já que Lara descobre o passaporte falso de Adja, uma refugiada de Guiné-Bissau, que tenta ir para o Canadá para se reencontrar com  filha que conseguiu chegar até o destino final.


Essencialmente o que liga as duas mulheres é sua dedicação aos filhos e o descaso da sociedade para com elas.


 


Cafernaum


 


Filme árabe-libanês, “Cafernaum” (2018) foi dirigido pela libanesa Nadine Labaki! Indicado ao prêmio Palma de Ouro e no Festival de Cannes, o longa foi ovacionado por 15 minutos na premiação francesa.


Traduzido como “Caos”, o longa tem como personagem principal Zain, interpretado por Zain Al Rafeea que atua através de sua própria história: um menino de 12 anos, refugiado de Beirute. Imagens aéreas da cidade, evidenciam a destruição e o caos instaurado, em que, crianças como Zain, perderam a muito tempo sua ingenuidade.


A narrativa se desenrola através dos acontecimentos na vida do menino, que passar por poucas e boas depois de fugir de casa, ficar sob custódia por um esfaqueamento e depois processar seus pais por ter nascido.


 


Garota Sombria Caminha pela Noite


 


O longa “Garota Sombria Caminha pela Noite” (2015) foi dirigido e roteirizado pela cineasta americo-iraniana Ana Lily Amirpour. Um detalhe no mínimo instigante na obra é o fato de ter sido gravado em apenas 24 horas, por imigrantes iranianos. Além disso o filme é inteiro em preto e branco e que faz uso de criaturas pós-modernas: os vampiros.


O enredo se passa na cidade fictícia “Bad City”, ou Cidade do Mal em português,  que já alerta sobre o caos da cidade, lotada de traficantes e prostitutas. No mais, é importante ressaltar o elemento essencial do filme: os sentidos, já que nada na narrativa é linear ou fortemente ligado aos quesitos espaço-temporais.


O filme tem um forte cunho feminista, já que conta a história do ponto da garota, uma vampira que vaga pela cidade a noite, com uma capa preta, a procura de alimento: homens que desrespeitam mulheres. Em meio a essa temática melancólica, Amirpour ainda acha espaço para uma história de amor.  

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