CRÍTICA | O Irlandês
É inegável que Martin Scorsese é um dos maiores nomes da história do cinema. Com clássicos que ultrapassam gerações, suas criações cinematográficas colecionam admiradores e seguidores. Em seu mais recente filme, O Irlandês, um filme original Netflix (já disponível na plataforma), o diretor repete fórmulas já conhecidas, ao mesmo tempo em que renova paradigmas e entrega uma obra de excelência técnica.
Em sua nova narrativa, Scorsese revisita um mundo já conhecido: a vida de gângster. Entretanto, diferentemente dos clássicos Os Bons Companheiros e Cassino, desta vez o diretor adota uma perspectiva diferente. Trata-se do outro lado da moeda desse universo familiar, a melancolia e a solidão que existem como fruto de uma vida de crimes. Essas sendo as grandes consequências das escolhas do protagonista Frank, que permeiam todo o filme, inclusive em seus aspectos técnicos, como a direção de arte e fotografia.
Constituído por três linhas temporais diferentes que sutilmente se mesclam na montagem precisa de Thelma Schoonmaker, temos o Irlandês no início de sua vida como gângster, depois em uma viagem crucial de sua carreira, e ao fim da vida, em uma casa de repouso. Pode-se pensar que um filme três horas e meia pareça exagerado ou torne-se arrastado. Porém, o ritmo do filme é minuciosamente pensado para acompanhar os caminhos que os personagens percorrem durante o longa, e entretém o espectador do início ao fim.
O filme, que traz a parceria entre Scorsese e De Niro de volta às telas, ao lado dos renomados atores Al Pacino e Joe Pesci, parte do ponto de vista do protagonista Frank Sheeran para rememorar diferentes momentos da máfia americana. Sem seu glamour habitual, o que lhe resta é a já citada solidão, e a violência. É através da violência física que as relações de poder desse mundo de homens se expressam. Inerente ao contexto retrato, tal intimidação resulta em tensão e medo latentes.
E, no fundo, demonstra a vulnerabilidade desses homens que precisam se reunir em bando para conseguirem tocar ao poder e, principalmente, sentirem-se protegidos. Olhando por esse aspecto, a obra se constitui como uma crônica de homens em busca de pertencimento e propósito, mas que ao fim são relegados a própria culpa e medo da morte.
Neste filme de homens, as poucas mulheres que aparecem sequer falam. E ao fim, servem apenas para marcar a solidão que resta ao protagonista. Em decorrência da vida que escolheu, terminou a mesma completamente só. Com seus “colegas de trabalho” mortos, recorre a suas filhas que não lhe dão nada além de um silêncio ressentido. Afinal, usando a desculpa de protegê-las, infligiu-lhes indiretamente as consequências de uma vida de crime. E então, sem nem as mulheres de sua vida, só lhe resta esperar a própria morte.
E aí? Curtiu a nova obra de Scorsese? Confira uma lista de filmes para conhecer mais a fundo o trabalho do diretor neste link!
Por Isabella Thebas