Instituto de Cinema de SP

Democracia em Vertigem e sua importância para nosso atual cenário político

Petra Costa volta às telas - agora em uma produção Netflix - para nos mergulhar no caminho democrático do Brasil. Democracia em Vertigem mantém as escolhas narrativas da diretora e emociona ao traçar, de maneira intimista, a trajetória política de nosso país. 


Pela visão da diretora assistimos a conquista da democracia, o poder de Lula, o golpe contra Dilma Rousseff e a constante ascensão da direita. Seu estilo é reconhecido mais uma vez nas imagens criadas por uma fotografia lírica, somada à sua narração inconfundível e uma montagem poderosa feita por Jordana Berg, que mescla imagens captadas e de arquivos. A câmera passeia lentamente pelo interior do planalto vazio, enquanto Petra revela um sentimento seu, que assola também grande parte dos brasileiros: “Eu temo que a nossa democracia tenha sido apenas um sonho efêmero”. 


Para quem não conhece seu trabalho, o longa pode perder força e muitas vezes ser tachado como uma romantização gratuita, no entanto, é dentro do gênero que trabalha - o documentário - e seguindo seu estilo de contar histórias, que Petra nos apresenta os recentes acontecimentos em nossa política, como o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Durante 3 anos a diretora captou imagens de tais processos, inclusive no íntimo de cada um, como Lula em seu carro e sua mãe conhecendo Dilma, com quem tanto se identifica.


O filme não é imparcial e nem pretende ser, mas é um filme honesto, sem mentiras e distorções. Petra deixa claro o passado de sua família, dona de uma rica construtora investigada pela Lava Jato, e mostra que apesar disso, é pela figura dos pais militantes que houve a construção de seu sentido político. Assistimos, inclusive, Petra votando pela primeira vez, momento em que não esconde a animação que sentiu quando Lula foi eleito. Assim como não esconde o sentimento de confusão quando o presidente se alia àqueles que até então discursava contra. 


É preciso entender que para além de íntimo e pessoal, o documentário nos revela imagens da queda de um grupo e ascensão de outro, que nos trouxe ao Brasil de hoje, no que parece ser um cenário cada vez mais distópico. Era em que a vertigem se faz cada vez mais presente. 


Como reconhecimento de sua importância enquanto obra, o documentário foi ovacionado em diversos festivais, como Sundance, e recentemente foi eleito como um dos melhores filmes do ano pela New York Times. É ainda cotado para concorrer como Melhor Documentário no Oscar. 


Muito se fala sobre tudo o que vem acontecendo no cenário político brasileiro, e é por meio dessa obra que temos chance de assistir a tudo isso, nos sentindo extremamente próximos das figuras políticas que todos os dias assistimos em noticiários. 


Em território nacional a recepção é dividida, algo esperado, já que essa passou a ser forte realidade brasileira. O que também vemos no documentário. Por isso sua força é inegável, Petra conquista cada vez mais prestígio, e encontramos a força de seu filme no poder de levar adiante - em escala global - a realidade que ofusca nossa democracia e nos faz permanecer com temor.


Por Mariana R. Marques

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