Instituto de Cinema de SP

Movimentos do Cinema: Nouvelle Vague

A Nouvelle Vague é considerada um dos mais importantes movimentos do cinema - para alguns, chega a ser o mais. Começando na França de 1958, tinha como princípio a reação contrária à estética hollywoodiana que se concretizava no cinema. Vamos passear agora por suas fases e entender melhor a história.


Sobre a Nouvelle Vague 


Traduz-se Nouvelle Vague, ao pé da letra, como “Nova Onda”. O termo foi adotado por Françoise Giroud na revista L’Express, em 1958, ao se referir aos novos artistas que surgiam no cinema naquela época. Jovens cinéfilos e politizados que se colocavam contra o cinema comercial, sobretudo o hollywoodiano que se consagrava cada vez mais pelos grandes estúdios.


Alexandre Astruc e André Bazin foram influências para os jovens críticos que formavam o grupo da mais importante revista de crítica cinematográfica, Cahiers du Cinéma, fundada por Bazin. O chamado “cinema de autor”, representado por filmes intimistas e de baixo orçamento que reconheciam o diretor como autor da obra, seria a oposição concreta ao cinema comercial. Os filmes eram feitos pelos jovens críticos que desejavam ir além e colocar em prática suas ideias.


Em 1954, François Truffaut, que mais tarde viria a ser um dos mais importantes diretores do movimento, escreve um artigo chamado “Uma Certa Tendência do Cinema Francês”, para a Cahiers du Cinéma, onde foi expressa a essência dos jovens que defendiam um cinema mais autoral e verdadeiro, com locações reais (como as ruas de Paris), histórias que expressassem sentimentos verdadeiros e situações de cunho social.


Quando esse sentimento sai apenas do espaço de crítica para tornar-se real, os filmes da Nouvelle Vague começam a surgir e ganhar força, como “Os Incompreendidos” (1959) de Truffaut, que leva em 1959 o prêmio mais importante no Festival de Cannes. O vencedor era um filme de baixo orçamento, com atores desconhecidos e um diretor estreante. O movimento conquistava seu espaço.


A estética 


A intenção de estética aqui era justamente fugir do convencional. Filmes fluídos, narrativas sem linearidade, histórias focando o psicológico de personagens, que eram seres imperfeitos, mais humanos e reais. A figura feminina começa a fugir das divas de Hollywood. Os filmes passam a ter mais apelo intelectual.


Na linguagem há a utilização de closes, cortes bruscos, montagem paralela, movimentos de câmera e câmera na mão, que acompanhava os personagens. Um exemplo da estética que seria adotada, carregando muito o estilo de seu diretor, está em “Acossado” (1960), de Godard. Linearidade e eixo são quebrados, a narrativa não tem o ritmo comum e agora via-se cortes bruscos. Esse é um exemplo clássico do estilo que pretendia ir contra as “regras” que tomavam conta da linguagem cinematográfica na época.


Obras e cineastas 


Os Incompreendidos (1959), François Truffaut


Feito com câmeras leves, que seguiam de perto os passos do jovem Antoine. Para o jovem parisiense a vida não passa de uma complicação atrás da outra. Cercado por adultos sem consideração, incluindo seus pais que não prestam atenção nele, Antoine passa seus dias com seu melhor amigo, Rene, fazendo planos arriscados para melhorar de vida. Quando um de seus esquemas dá errado, acaba tendo problemas com a lei e vai ter que enfrentar as autoridades que não simpatizam com ele.


Hiroshima, Meu Amor (1959), Alain Resnais 


Pioneiro no uso de cortes para mostrar cenas em flashback, mesclando cenas da atualidade. Na história, uma atriz francesa casada vai de Paris para trabalhar no Japão em um filme sobre a paz. Ela tem um affair com um arquiteto japonês também casado.


Acossado (1960), Jean-Luc Godard 


Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard viaja para Paris e encontra sua amiga americana Patricia Franchini, tornando-se seu amante. Os protagonistas são acompanhados pelas câmeras em frequente movimento, caminhando pelas ruas da cidade luz.


Cléo das 5 às 7 (1962), Agnès Varda


Considerada uma das pioneiras da Nouvelle Vague, muitas vezes deixada de fora de listas sobre importantes autores do movimento, Agnès Varda apresenta uma extensa bagagem de filmes. “Cléo das 5 às 7” conta a história da cantora Cléo, que faz um exame para descobrir se está com câncer. O resultado sai em duas horas, então ela decide andar pelas ruas de Paris enquanto aguarda. Cheia de dúvidas sobre como deve agir diante da doença, acaba cruzando com Antoine, um jovem militar que está prestes a partir.


A importância do movimento 


A Nouvelle Vague tornou-se influência para outros movimentos que viriam. Para falar de parte do legado, é válido citar um de seus principais e mais controversos autores, Jean-Luc Godard, “uma história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem.”


Com a ideia de fugir dos princípios clássicos e procurar produzir mesmo quando não havia orçamento para obras monumentais, o movimento apresentava alternativas criativas. Mostrou que mesmo com poucos recursos era possível construir histórias verdadeiras e tocantes, que carregavam uma nova visão do que poderia ser passado ao espectador; além de proporcionar novas sensações.


O grupo de autores responsável pelos filmes reconhecidos da época, trouxe um novo olhar do fazer cinema não só na França, mas também no mundo. Um dos grandes movimentos que se reconhece como influenciado pela Nouvelle Vague é o Cinema Novo, que aconteceu no Brasil. Com a ideia de Glauber Rocha, “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, o movimento buscava realizar suas produções mesmo com baixo orçamento e histórias reais. Os princípios da Nouvelle Vague são discutidos até hoje, e o movimento é tratado como um dos mais importantes para a história do cinema.


Por Mariana R. Marques

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